Intronaut: crítica de Habitual Levitations (Instilling Words With Tones) (2013)

Um dos responsáveis pela remodelagem pela qual o heavy metal e suas tendências mais progressivas tem passado nos últimos anos, os californianos do Intronaut vem dando passos larguíssimos em questão de ascensão musical, de forma que a cada disco a sua identidade se torne mais e mais inclassificável.

Combinando elementos de jazz, ritmos tribais, música latina, stoner, sludge, psicodélico e progressivo, o quarteto está lançando o seu quarto álbum, Habitual Levitations (Instilling Words With Tones), novamente pela Century Media. E logo de cara já é possível perceber que a banda não diminuiu nem um pouco os seus experimentalismos.

A coisa começa arrastada e fora do convencional com “Killing Birds With Stones”, aonde os riffs e berros sujos alternam com momentos mais tranquilos e cadenciados de forma um tanto quanto inesperada, principalmente se considerarmos os álbuns anteriores dos americanos. Ao longo dos oito minutos ocorrem tantas mudanças de andamento que a impressão é de que pedaços de diversas faixas foram recortadas e posteriormente encaixadas de uma maneira que fizesse sentido (e ao contrário de outras semelhantes, o resultado foi bem positivo). E se eles arrebentam qualquer estribeira com a faixa de abertura, indo do groove metal ao jazz em questão de segundos, “The Welding” remete ao seu direcionamento sludge e prog metal mais “convencional”, porém com a inserção de toques mais calmos, sem deixar a complexidade rítmica de lado em nenhum momento.

“Steps” e o seu andamento próximo do mais arrastado doom metal mantém as melodias mais tranquilas em evidência, com intervenções acústicas que lembram uma versão jazz do Black Sabbath na fase Tony Martin, enquanto o lado mais atmosférico do post rock assopra fortemente na balada “Sore Sight For Eyes”, em combinação com a já característica quebrada de tempos da banda. A imundice dos riffs retorna na forma do sludge mais etéreo em “Milk Leg” e a sua contemplativa seção instrumental que parece saída de algum baú trancado há quarenta anos, abrindo caminho para a percussiva “Harmonomicon” e os seus toques quase space rock.

Remetendo às músicas dos álbuns anteriores, “Eventual” apresenta estruturas mais simples e pesadas, até (seguindo a tendência de todo o álbum) mudar completamente de andamento de forma brusca e violenta para mais uma passagem instrumental das mais viajantes. A balada com base apenas em guitarra acústica e texturas de ruídos “Blood From a Stone” funciona como um prelúdio para a longa “The Way Down”, cujo maior mérito está em ser um metal progressivo fora da linha padrão de exageros técnicos e virtuoses desnecessárias, mas sim inserindo de maneira crua elementos de eletrônico e post rock em uma tentativa de atualizar uma vertente já estagnada (o tempo dirá se foi bem sucedido).

Ouvir o som do Intronaut nunca foi tarefa das mais simples (e escrever sobre é menos ainda), e se nos álbuns anteriores o excesso de distorção, a produção estourada e os vocais ríspidos poderiam ser barreiras para alguns ouvidos menos preparados ou acostumados ao gênero, muito pouco desses elementos permanecem em Habitual Levitations. O direcionamento adotado pelos californianos sugere algo mais leve, mais etéreo e experimental, e, ao contrário do que se pode imaginar, não diminui em nada a complexidade do seu trabalho. A complexidade rítmica sempre foi algo que chamou a atenção na banda, e aparentemente ultrapassou qualquer limite nesse novo álbum, com mudanças de andamento violentas, que deixam a sensação de que temos aqui pelo menos o triplo de músicas do que o tracklist informa.

Isso é ruim? De forma alguma. O Intronaut explora mais uma face da sua identidade musical de forma notável e dá mais um considerável passo em direção à uma sonoridade única, provando de uma vez por todas o porquê de ser uma das mais promissoras bandas do metal contemporâneo.

Nota 10



1. Killing Birds With Stones

2. The Welding

3. Steps

4. Sore Sight For Eyes

5. Milk Leg

6. Harmonomicon

7. Eventual

8. Blood From A Stone

9. The Way Down

Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. 10?

    Só depois vi que não era o Ricardo

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  2. Linda capa!!!! Indo pro youtube pra conhecer...

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  3. Melhor disco de metal do ano até agora! Aproveito pra sugerir algumas pautas: os novos do Howl, Orchid e Dynahead, que são muito bons.

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