O que sei é que todo esse antagonismo da crítica em relação à banda prejudica profundamente e compromete a avaliação de qualquer disco lançado pelo grupo. Principalmente aqui no Brasil, mas também em grandes veículos mundo afora, não há isenção ao analisar a música do Strokes, como se tudo o que a banda representa fosse mais importante e devesse ser derrubado sem dó, não importando se o que o grupo produziu é bom ou ruim.
Comedown Machine, quinto disco do quinteto, chega às lojas na próxima terça-feira, dia 26 de março. Ele é o sucessor de Angles (2011), trabalho que dividiu opiniões. O álbum marca também o fim do contrato da banda com a RCA, cuja logo ocupa grande destaque na bonita capa.
O que temos em Comedown Machine é um aprofundamento na sonoridade oitentista já prenunciada em Angles. O synth-pop e o new romantic daquela década dão o tom em diversas faixas, mostrando influências de nomes como New Order, OMD, Go West e Echo and The Bunnymen. Essa nova característica, no entanto, convive lado a lado com composições onde a banda soa de maneira muito similar ao início de sua carreira, com as guitarras sendo os personagens principais. O tracklist evidencia essa dicotomia, alternando esses dois caminhos. A grosso modo, as faixas ímpares mostram o Strokes atual e apontam para o futuro, enquanto as pares olham para o passado tentando retomar a vivacidade de uma época que já passou.
O resultado dessa luta por uma nova identidade musical faz de Comedown Machine um dos trabalhos mais completos da carreira do Strokes. Surpreendentemente maduro, o disco mostra a banda acertando na maioria das suas experimentações. A abertura com “Tap Out” chega a lembrar, em um nível quase subconsciente, Michael Jackson. O primeiro single, a grudenta “One Way Trigger”, rebaixada a um pseudo tecnobrega e alvo de comparações com a horrenda Gaby Amarantos por parte da apressada crítica brasileira, mostra na verdade uma enorme influência dos noruegueses do A-ha. “Welcome to Japan” revela que os músicos são fãs do David Bowie do início da década de 1980, de álbuns como Let’s Dance (1983). A contemplativa “80’s Comedown Machine” é uma das mais belas canções já gravadas pelo grupo, com uma melancolia e um saudosismo que deixam claros, para quem ainda tinha dúvidas, a adoração de Julian Casablancas e companhia pela década mencionada em seu título.
Do outro lado da moeda, músicas como “All the Line”, “50/50” e “Partners in Crime” colocam os guitarristas Nick Valensi e Albert Hammond Jr. no topo da cadeia alimentar do universo particular do Strokes, trocando acordes em agressões mútuas. É a banda mostrando que continua sabendo fazer o tipo de som que a consagrou.
O pop de “Happy Ending” talvez seja o momento onde esses dois lados, a princípio antagônicos, se encontram com mais harmonia. Com uma batida oitentista, a faixa traz guitarras que emulam o trabalho que deveria ser feito por sintetizadores (se eles tivessem um tecladista), porém soando como guitarras. Uma grande faixa, que chegou para fazer parte de qualquer retrospectiva futura sobre a banda.
“Call It Fate, Call It Karma” encerra o disco como uma espécie de bossa nova lounge relaxante, e que deve colocar mais um ponto de interrogação na cabeça de quem deseja uma banda dando voltas eternas ao redor do próprio rabo.
Comedown Machine é um dos álbuns mais consistentes da carreira do Strokes. Muito superior a Angles, mostra o grupo mergulhando fundo na década de 1980 e encontrando uma nova sonoridade que parece ser definitiva. Sereno e agradável, revela uma banda segura de si e sem medo de experimentar, qualidades sempre elogiáveis em qualquer atividade artística.
Depois de momentos de incerteza, parece que o Strokes entrou nos trilhos novamente. Resta saber se os fãs vão embarcar juntos.
Nota 8
Faixas:
1 Tap Out
2 All the Time
3 One Way Trigger
4 Welcome to Japan
5 80’s Comedown Machine
6 50/50
7 Slow Animals
8 Partners in Crime
9 Chances
10 Happy Ending
11 Call It Fate, Call It Karma
Por Ricardo Seelig
Parabéns pela crítica Ricardo. Concordo com tudo que você falou a respeito da postura de alguns críticos com relação aos trabalhos da banda. Não achei o Angles um grande disco, mas não era nem de longe tão horrivel como a crítica de um modo geral nos fazia pensar, pois tinha algumas músicas muito boas. Já escutei o novo 2x e me parece uma continuação aprimorada do anterior. Mas óbvio que já tem muita crítica exagerada por aí, como essa aqui, por exemplo: http://www.botequimdeideias.com.br/flogase/resenha-the-strokes-comedown-machine/
ResponderExcluirEssa parte da comparação com a Gaby é "obra" do Regis Tadeu.. Bom ver resenhas completamente diferentes. Nota-se como a música e a arte em geral pode despertar variados sentimentos e reforça uma pouco a minha "pseudo-tese" de que grande parte da crítica leva mais em conta quem faz do que o que é feito. Não o caso dessa resenha é bom salientar, muito mais equilibrada e consistente.
ResponderExcluirEm tempo, não suporto Strokes e não curtir o álbum, mas é inegável que a resenha foge desse estigma em relação a banda o que é muito bom para ser ter uma dimensão mais equilibrada desse produto. ^^
Quando ouvi o disco e gostei, achei que estava louco após ler as resenhas e críticas negativas generalizadas. Só não gostaram do disco, as pessoas que esperavam algo espetacular. Strokes sempre foi uma banda boa, acima da média, mas nada além disso e não tem problema algum em ser assim. Eles sempre se envolveram em louvores e críticas desproporcionadas, pelo som comum/bom que fazem.
ResponderExcluirCaralho, nunca tinha visto uma resenha tão ruim quanto essa que o Virgilio postou, o cara ali já até escreveu que a banda tá acabando, que lixo
ResponderExcluirEstou a ouvir o álbum enquanto leio a crítica.
ResponderExcluirNão concordo nem discordo do conteúdo, é uma opinião.
Pessoalmente gosto mais do som dos The Strokes dos primeiros álbuns, mais intenso e cru. Também mais direto e sem rodeios, o que em minha opinião não combina bem com o abuso nos sintetizadores que marcam os últimos trabalhos. Quem conhece o álbum do Julian "Phrazes For The Young", verifica que as influências dele marcam claramente o destino da banda..seja ele qual for.
Por outro lado também compreendo que não seria fácil fazer mais trabalhos com o mesmo registo dos primeiros e que os músicos sintam constante necessidade de recriar conceitos e inovar, sendo que tal facto é quase sempre uma influência determinante no que diz respeito à sobrevivência/extinção das bandas.
Estaremos cá para ver o futuro..ou não, dos The Strokes.
Cumprimentos a partir de Lisboa.
Parabéns cara! Uma vez na vida vejo uma critica que preste, sem deixar se influenciar por besteiras extra/banda e avaliando puramente a música. Fodam-se aqueles que acham o Strokes a salvação do rock, e que tudo que eles fazem diferente de Is This It é lixo e "perda de identidade. Just feel the music, dudes.
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