Amorphis: crítica de Circle (2013)

Entre os grandes nomes do melodic death metal escandinavo, o Amorphis evoluiu da sonoridade basicamente extrema dos primeiros trabalhos até a construção de uma forte personalidade musical, sempre apoiada em elementos da música folk finlandesa e rock progressivo, além da inspiração nos épicos poemas da sua terra natal para as letras e conceitos em seus álbuns.

Gravado nos estúdios Petrax e 5K, Circle é o primeiro disco da banda desde Far From the Sun (de 2003) a não ser produzido pelo baixista e vocalista do Nightwish, Marco Hietala, função esta que ficou sob responsabilidade de ninguém menos que Peter Tägtgren. O décimo-primeiro trabalho dos finlandeses está novamente sendo lançado pela Nuclear Blast, e traz um conceito original, desenvolvido pelo compositor Pekka Kainulainen.

Os já característicos elementos de folk da sonoridade do Amorphis aparecem ainda mais forte na faixa de abertura “Shades of Gray”, que se não traz grandes inovações no que se trata de estruturas musicais e influências, se destaca pela performance dos vocais de Tomi Joutsen, que explora novas e versáteis possibilidades, ainda que sem arriscar muito. A constante e extremamente melódica “Mission” parece afundar ainda mais os finlandeses em suas raízes culturais, e assim como a belíssima “The Wanderer” e a épica “Narrowpath”, mostram um grupo cada vez mais distante do metal extremo de outrora.

“Hopeless Days”, com um agressivo início e notas que lembram vagamente o melodic black metal, parece resgatar um pouco a sonoridade do início da carreira, porém, revela um Amorphis flertando novamente com passagens mais alternativas e progressivas, explicando porque foi escolhida para ser o primeiro single de Circle. O lado mais death metal da banda volta a aparecer apenas em “Nightbird’s Song”, um excelente épico que alterna entre o clássico death metal escandinavo com etéreas passagens de teclados e flautas, tornando-se facilmente memorável.

O lado progressivo se mostra presente novamente na cadenciada “Into the Abyss”, com aqueles riffs e ritmos quebrados próprios da identidade do Amorphis dos últimos álbuns, e peca exatamente por não trazer algo que seja realmente interessante, e soa relativamente apagada, principalmente por estar entre a já citada “Nightbird’s Song” e “Enchanted by the Moon”, sendo essa último uma efetiva amostra da união do melodic death metal com carregadas atmosferas, com notável destaque para as camadas de teclado de Santeri Kallio. E essas atmosferas também se mostram extremamente importantes em “A New Day”, a balada que encerra o trabalho de maneira grandiosa, remetendo a conclusão de épicos cinematográficos.

Aliás, é interessante notar como o Amorphis elevou a sua música para um espectro relativamente mais interpretativo, como se cada uma das faixas fosse uma história sendo contada por alguém. E o fator que contribui de forma mais significativa para esse direcionamento claramente foi a opção pelo uso predominante de vozes limpas, aproximando-os ainda mais da sua faceta folk, melódica e progressiva, em detrimento da música extrema do início de carreira.

Uma mudança brusca? De forma alguma, já que esse processo se mostra como uma progressão natural do que vem sendo feito nos últimos álbuns, cada vez mais voltado para a música folclórica do seu país, não se limitando às letras e a a algumas intervenções ao longo do disco.

A identidade musical do Amorphis é extremamente forte e característica, de forma que é possível saber o que esperar a cada novo lançamento. Mas isso não significa que as chances de ser surpreendido positivamente não existam. E com Circle eles provam mais uma vez que sim, de fato, elas existem.

Nota 8

 
  
Faixas:
1. Shades of Gray


2. Mission

3. The Wanderer

4. Narrowpath

5. Hopeless Days

6. Nightbird’s Song

7. Into the Abyss

8. Enchanted by the Moon

9. A New Day

Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Gostei do disco a primeira audicao, mas preciso ouvi-lo ais vezes pra capitar melhor as musicas.

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  2. O Amorphis parece que tem um feitiço, que é o de cativar a cada audição. Na verdade, só pode ser trabalho duro e inspiração, mesmo sem mudar. Nem quero que mudem: podem continuar assim como está, todos os álbuns gravados com o Tomi são muito bons. Capaz de tentarem mudar e terminar fazendo outro Far from the sun. Então, deixa quieto.

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