Quando Lee Dorian deixou o Napalm Death lá pelos idos de 1989, alegando
estar cansado da cena punk inglesa e tampouco contente com o
direcionamento cada vez mais extremo adotado pela banda, com certeza
sequer imaginava a proporção e influência que a sua nova banda, o
Cathedral, teria mais de duas décadas depois.
Partindo do arrastado e mórbido doom metal do clássico Forest of Equilibrium (1991), passando pelas influências do empoeirado hard setentista e pelos inesperados e momentâneos lapsos de disco music, até a megalomania progressiva em The Guessing Game (2010), o grupo liderado por Dorian e Gaz Jennings apresenta uma versátil e interessante discografia, mesmo tendo permanecido no underground do heavy metal em toda a sua trajetória.
The Last Spire é o seu décimo e derradeiro trabalho de estúdio, a ser lançado no fim de abril pela Rise Above Records e pela Metal Blade, jogando o último punhado de terra sobre a história da banda.
O estalar de uma fogueira e um ruído grave e distorcido servem de base para a intensa e interminável repetição da frase “bring out your dead” na longa introdução “Entrance to Hell”, o prelúdio para a lenta e arrastada “Pallbearer”, praticamente uma ode de doze minutos ao doom metal do início da carreira e a todas as bandas que influenciaram Lee Dorian a formar o Cathedral, em um distante 1989. Interessante notar a opção por uma produção mais suja e rústica, na linha do EP A New Ice Age (2011, lançado apenas em vinil) e bem diferente do som relativamente cristalino dos últimos discos de estúdio, seguindo a tendência do doom/occult rock que basicamente atingiu o ápice da popularidade nos últimos anos.
Mais direta do que a faixa anterior, “Cathedral of the Damned” não traz grandes variações musicalmente falando, retomando a orientação por riffs extremamente graves sobre uma batida cadenciada, sempre com aquelas notas dissonantes trazidas por Gaz Jennings, uma fórmula que se repete em “Tower of Silence”, porém com a adição de sutis, mas bem encaixadas, passagens psicodélicas.
Estas intervenções mais viajantes, aliás, voltam a figurar em “Infestation of Grey Death” e suas inúmeras mudanças de andamento, atravessando tortuosos caminhos pelo doom, hard rock, space rock e heavy metal, enquanto “An Observation” vai ainda mais fundo nas raízes mórbidas do Cathedral, em uma lisérgica faixa carregadíssima de linhas de órgão, lembrando em muito um híbrido de occult e psicodélico que ficou perdido no tempo desde a metade da década de 60.
“The Last Laugh”, uma curta e óbvia continuação do início do álbum, faz a introdução para “This Body, Thy Tomb” (nome bem condizente com a última música do último álbum – a princípio – da banda) melancólica e arrastada, aonde tanto o instrumental quanto as linhas vocais desempenham com maestria o papel de tornar o esquisito sentimento quase palpável, mesmo quando os ruídos vão lentamente diminuindo, na derradeira faixa da carreira dos ingleses.
The Last Spire talvez não seja o melhor álbum da carreira do Cathedral, e ainda assim é um importante registro do heavy metal, que vai muito além do fato de ser o seu último disco de estúdio antes do encerramento das atividades. Apesar de ser considerada uma das bandas que melhor agregou em sua sonoridade a influência dos obscuros (ou nem tanto) grupos dos primórdios do heavy e doom metal, os ingleses aos poucos desenvolveram uma identidade sonora bem peculiar e se tornaram também referência para a maioria das bandas de occult rock que explodiram ao redor do mundo desde o início desta década. Algumas destas bandas, aliás, foram apadrinhadas pelo próprio Lee Dorian e a sua icônica Rise Above Records, lançando para o mundo vários novos nomes com proposta parecida com a do Cathedral, que já a colocava em prática há mais de duas décadas.
Mas o mais importante, em questões musicais, é como o quarteto continua com notável inspiração, direcionando inclusive os seus esforços para uma sonoridade ainda mais próxima desse resgate do metal sessentista/setentista em alta no mercado, soando como um genuíno retorno às suas próprias raízes e como se o seu próprio ciclo se encerrasse nesse momento. É muito improvável que um novo se inicie.
Portanto, apenas nos resta usufruir de um dos grandes legados da história do heavy metal.
Nota 8,5
Faixas:
1. Entrance to Hell
2. Pallbearer
3. Cathedral of the Damned
4. Tower of Silence
5. Infestation of Grey Death
6. An Observation
7. The Last Laugh
8. This Body, Thy Tomb
Por Rodrigo Carvalho, do Progcast
Partindo do arrastado e mórbido doom metal do clássico Forest of Equilibrium (1991), passando pelas influências do empoeirado hard setentista e pelos inesperados e momentâneos lapsos de disco music, até a megalomania progressiva em The Guessing Game (2010), o grupo liderado por Dorian e Gaz Jennings apresenta uma versátil e interessante discografia, mesmo tendo permanecido no underground do heavy metal em toda a sua trajetória.
The Last Spire é o seu décimo e derradeiro trabalho de estúdio, a ser lançado no fim de abril pela Rise Above Records e pela Metal Blade, jogando o último punhado de terra sobre a história da banda.
O estalar de uma fogueira e um ruído grave e distorcido servem de base para a intensa e interminável repetição da frase “bring out your dead” na longa introdução “Entrance to Hell”, o prelúdio para a lenta e arrastada “Pallbearer”, praticamente uma ode de doze minutos ao doom metal do início da carreira e a todas as bandas que influenciaram Lee Dorian a formar o Cathedral, em um distante 1989. Interessante notar a opção por uma produção mais suja e rústica, na linha do EP A New Ice Age (2011, lançado apenas em vinil) e bem diferente do som relativamente cristalino dos últimos discos de estúdio, seguindo a tendência do doom/occult rock que basicamente atingiu o ápice da popularidade nos últimos anos.
Mais direta do que a faixa anterior, “Cathedral of the Damned” não traz grandes variações musicalmente falando, retomando a orientação por riffs extremamente graves sobre uma batida cadenciada, sempre com aquelas notas dissonantes trazidas por Gaz Jennings, uma fórmula que se repete em “Tower of Silence”, porém com a adição de sutis, mas bem encaixadas, passagens psicodélicas.
Estas intervenções mais viajantes, aliás, voltam a figurar em “Infestation of Grey Death” e suas inúmeras mudanças de andamento, atravessando tortuosos caminhos pelo doom, hard rock, space rock e heavy metal, enquanto “An Observation” vai ainda mais fundo nas raízes mórbidas do Cathedral, em uma lisérgica faixa carregadíssima de linhas de órgão, lembrando em muito um híbrido de occult e psicodélico que ficou perdido no tempo desde a metade da década de 60.
“The Last Laugh”, uma curta e óbvia continuação do início do álbum, faz a introdução para “This Body, Thy Tomb” (nome bem condizente com a última música do último álbum – a princípio – da banda) melancólica e arrastada, aonde tanto o instrumental quanto as linhas vocais desempenham com maestria o papel de tornar o esquisito sentimento quase palpável, mesmo quando os ruídos vão lentamente diminuindo, na derradeira faixa da carreira dos ingleses.
The Last Spire talvez não seja o melhor álbum da carreira do Cathedral, e ainda assim é um importante registro do heavy metal, que vai muito além do fato de ser o seu último disco de estúdio antes do encerramento das atividades. Apesar de ser considerada uma das bandas que melhor agregou em sua sonoridade a influência dos obscuros (ou nem tanto) grupos dos primórdios do heavy e doom metal, os ingleses aos poucos desenvolveram uma identidade sonora bem peculiar e se tornaram também referência para a maioria das bandas de occult rock que explodiram ao redor do mundo desde o início desta década. Algumas destas bandas, aliás, foram apadrinhadas pelo próprio Lee Dorian e a sua icônica Rise Above Records, lançando para o mundo vários novos nomes com proposta parecida com a do Cathedral, que já a colocava em prática há mais de duas décadas.
Mas o mais importante, em questões musicais, é como o quarteto continua com notável inspiração, direcionando inclusive os seus esforços para uma sonoridade ainda mais próxima desse resgate do metal sessentista/setentista em alta no mercado, soando como um genuíno retorno às suas próprias raízes e como se o seu próprio ciclo se encerrasse nesse momento. É muito improvável que um novo se inicie.
Portanto, apenas nos resta usufruir de um dos grandes legados da história do heavy metal.
Nota 8,5
Faixas:
1. Entrance to Hell
2. Pallbearer
3. Cathedral of the Damned
4. Tower of Silence
5. Infestation of Grey Death
6. An Observation
7. The Last Laugh
8. This Body, Thy Tomb
Por Rodrigo Carvalho, do Progcast
É uma puta de uma injustiça um grupo como o Cathedral encerrar atividades, certamente por não contar com repercussão junto à mídia "especializada" (uma piada, né?) e um número maior de fãs entre o público consumidor (e retrógrado) de música pesada, opção absolutamente discutível dada a qualidade da banda, anos luz a frente da maioria de suas colegas hypadas. Guerreiros que tombam, vão deixar saudade. Ao menos pra mim. Hail Cathedral!
ResponderExcluirPura verdade
ExcluirParticularmente achei bem, bem inferior a Guessing Game.
ResponderExcluirEi pessoal, eu não conheço a banda, alguém pode recomendar algum álbum? Obrigado. Eu não queria começar pelo último deles.
ResponderExcluirJorge Lucas eu recomendo o 3º Carnival Bizarre, obra prima e aproveitando o ensejo sa SabbathMania pelo lançamento do novo album, nesse do Cathedral há uma faixa em que Iommi toca guitarra! Ta esperando o quê?
ResponderExcluirNo momento ouvindo o clássico Forest Of Equilibrium, tenho somente os 2 primeiros esse e o ótimo The Ethereal Mirror.
ResponderExcluirComo num post do Ricardo no qual o mesmo falou sobre o afastamento dele em relação a determinada banda (não lembro se é o Sabbath), o mesmo ocorreu comigo em relação do Cathedral, sempre fui fã do estilo e de bandas como The Obssessed, Pentagram, Trouble, Saint Vitus, Candlemass, Wino, mas às vezes passamos por fases na qual determinadas músicas passam batido e foi isso o que ocorreu com a fase seguinte ao The Ethereal Mirror, não conheço nada! rsrs
Recomendo o debut Forest of Equilibrium acima de tudo. Fora ele, Endtyme e The Garden of Unearthly Delights.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirRecomendo TODOS os lançamentos desta genial banda. É incrível como em toda a sua trajetória não existem "pontos baixos". Mesmo quando ela erra, ela acerta. Mas se for para indicar apenas de um disco, este seria "The Carnival Bizarre", o preferido da banda também.
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