Soilwork: crítica de The Living Infinite (2013)

Natural da cidade de Helsingborg, o sueco Soilwork se tornou um dos maiores representantes do melodic death metal (ao lado de At the Gates, Dark Tranquillity, In Flames e The Haunted) mesmo sem ter surgido junto com o estilo, na Gotemburgo do início da década de 90. Desde a sua estreia com Steelbath Suicide, em um longínquo 1998, até o mais recente The Panic Broadcast (2010), o sexteto sempre foi capaz de inserir novos elementos ao seu som, tornando-o cada vez menos rústico e com a presença de mais melodias, em partes graças à versatilidade proporcionada pela presença do teclado e de um dos grandes vocalistas da última década em sua formação.

The Living Infinite, o nono álbum da discografia, é o trabalho mais ambicioso (e porque não, arriscado) do Soilwork: uma epopeia de mais de oitenta minutos, dividida em dois discos. Não bastasse isso, o guitarrista (e um dos principais compositores) Peter Wichers abandonou o barco mais uma vez, sendo substituído por David Andersson (do The Night Flight Orchestra), de forma que o restante da banda encarou a nova obra como um verdadeiro desafio, além de qualquer outro já enfrentado.

“Spectrum of Eternity” é, de longe, a faixa mais agressiva entre todas que já abriram um disco do Soilwork, e figura fácil como uma das mais extremas da banda, agregando elementos que beiram o brutal death à sua identidade mais melódica, com destaque para o trabalho do baterista Dirk Verbeuren. E como de costume, “Memories Confined” tem um andamento um pouco mais arrastado, alternando com boas passagens cadenciadas e de ritmos um tanto quanto esquisitos, bem diferente da direta “This Momentary Bliss”, dona de um dos melhores refrãos da carreira dos suecos, mesmo sem trazer grandes novidades. O mesmo vale para “Tongues”, que segue a mesma linha musical adotada desde o álbum Sworn to a Great Divide (2007) e ainda rende grandes melodias, em partes pela performance sempre dinâmica das vozes de Björn Strid.

Após uma introdução acústica, sopros de thrash metal e hardcore podem ser ouvidos de forma bem superficial em “The Living Infinite I”, que soa mais como um elo de ligação até “Let the First Wave Rise”, faixa curta e caótica que traz novamente um peso além do habitual. A esquisita sensação de ideias sendo repetidas começa a aparecer com “Vesta”, em grande parte devido à sua estrutura simplificada, e se intensifica com “Realm of the Wasted”, que facilmente pode ser considerada uma irmã mais nova e mais melódica de “Deliverance is Mine: (do álbum anterior, The Panic Broadcast).

Aliás, nesse momento pode se perceber também como a saída de Peter Wichers afetou negativamente no que se trata dos solos de guitarra. Sylvain Coudret e David Andersson trazem boas ideias na hora de montar as bases, escolher os timbres e inserir melodias nas faixas, mas no geral os solos pecam pela falta de perfeccionismo e poderiam ter tido recebido uma maior atenção. Considerações à parte, “The Windswept Mercy”, uma das músicas mais aguardadas do álbum por conta da participação do vocalista Justin Sullivan (do New Model Army), inicia a seção mais tranquila desse primeiro disco, com andamento e melodias que em alguns momentos soam como uma versão melodic death metal do The Night Flight Orchestra, principalmente pela voz de Strid. “Whispers and Lights” encerra essa primeira parte com uma espécie de “balada”, que vai de um Soilwork melódico como nunca se viu até passagens regadas a blastbeats de forma relativamente natural.

“Entering Aeons” faz a ligação entre os dois discos, para o início de “Long Live the Misanthrope”, mais uma amostra da versatilidade vocal de Björn Strid, principal atrativo da faixa, que se torna interessante exatamente pelas grandes mudanças de ritmo. Mantendo a tendência da primeira parte, “Drowning with Silence” insere algumas melodias um pouco mais atmosféricas e melancólicas, o mesmo acontecendo em “Antidotes in Passing”, outro momento mais tranquilo, que musicalmente chega a esbarrar no espírito setentista. O lado mais extremo retorna com “Leech”, esbarrando de forma até mais evidente com ligeiras influências de black metal, que são deixadas completamente pra trás com “The Living Infinite II”, continuação direta da parte presente no primeiro CD e bem mais melódica.

O interlúdio instrumental “Loyal Shadow” cria a base para mais um destaque imediato do trabalho, que é “Rise Above the Sentiment”, principalmente pela simplicidade e melodias fáceis. A seguir, apesar do nome, “Parasite Blues” não soa exatamente como um blues, mas agrega notas e melodias típicas do estilo de forma um tanto quanto sutil ao melodeath bem característico do Soilwork. “Owls Predict, Oracles Stand Guard”, faixa deveras arrastada e bem atmosférica, foi a escolhida para finalizar a obra mais ambiciosa dos suecos até hoje, e soa bem diferente do restante do álbum e de qualquer outra música já feita por eles, deixando um verdadeiro ponto de interrogação enquanto ela lentamente vai abaixando.

Depois de mais de oitenta e quatro minutos, a impressão que fica é que The Living Infinite é sim um projeto bem ambicioso e até mesmo megalomaníaco por parte do Soilwork. Por mais que eles estejam relativamente estabelecidos como um dos principais nomes do heavy metal atual e de ser um dos grandes quando o assunto é o melodic death metal sueco, o sexteto coloca no seu novo álbum de estúdio todas as ideias possíveis dentro da sua proposta, e acaba pecando pelo exagero em determinados momentos. Não tratando de faixas inteiras, mas algumas partes parecem ter sido inseridas forçadamente para preencher espaços entre duas ideias previamente desconexas, e muitas destas inserções acabam acrescentando em nada e soam um tanto quanto vazias.

Em questões musicais, se o desempenho dos guitarristas, como já falado, deixa um pouco a desejar, os principais destaques vão para o baterista Dirk Verbeuren (que continua evoluindo a cada novo registro, aparentemente) e para o vocalista Björn “Speed” Strid, que apresenta uma versatilidade ainda maior nas técnicas vocais.

Resumindo, apesar do exagero e da sede por criar algo realmente grande (o disco duplo poderia facilmente ser um pouco mais selecionado e ter a ordem das músicas revistas), The Living Infinite continua apresentando excelentes composições, com algumas delas figurando fácil entre as melhores coisas que a banda já produziu, e mantendo o Soilwork entre as grandes bandas surgidas no heavy metal na década de noventa.

Nota 7,5

CD 1
1. Spectrum Of Eternity
2. Memories Confined
3. This Momentary Bliss
4. Tongue
5. The Living Infinite I
6. Let The First Wave Rise
7. Vesta
8. Realm Of The Wasted
9. The Windsweapt Mercy
10. Whispers and Lights

CD 2
11. Entering Aeons
12. Long Live The Misanthrope
13. Drowning With Silence
14. Antidotes In Passing
15. Leech
16. The Living Infinite II
17. Loyal Shadow
18. Rise Above The Sentiment
19. Parasite Blues
20. Owls Predict, Oracles Stand Guard

Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Quando eu entrei na pagina pra ler o review, baseado na minha avaliação, chutei nota 7. Acertei a nota, mas minha avaliação bateu com a do escritor do artigo. E outra coisa que quero acrescentar é que eu gostei muito mais do anterior do que deste. Acho Panic Broadcast muito inspirado.

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  2. Discordo da opinião do autor da resenha.

    Apesar do álbum não trazer nenhuma "grande" novidade quanto ao som da banda (numa primeira audição, pode até rolar uma impressão de que se trata de uma "versão estendida" do álbum anterior), os caras conseguiram manter facilmente o mesmo nível que exibiram no "The Panic Broadcast" e ir até além - ah, e com um notável detalhe: SEM o Peter Wichers (que muitos gostam de dizer que era uma parte crucial da "essência" da banda - ao meu ver, realmente, ERA).

    Toda a discografia da banda é coisa de altíssimo nível, e esse álbum não é exceção. Por isso realmente estranhei uma nota como "7,5".

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