Dark Tranquillity: Crítica de Construct (2013)


Um dos nomes originais da cena musical sueca de Gotemburgo e um dos pilares do chamado melodic death metal, o Dark Tranquillity construiu ao longo de mais de duas décadas uma discografia consistente, que explorou em cada um dos registros novas sonoridades e percorreu caminhos ainda mais diferentes no estilo que ele mesmo ajudou a formar.


Construct é apenas o décimo álbum de estúdio, em meio a incontáveis lançamentos de coletâneas e discos de raridades/sobras de estúdio, e vem sendo considerado pela banda como o material mais dinâmico que eles lançaram desde Projector, o divisor de águas de sua identidade musical. O novo trabalho foi produzido em conjunto com Jens Bogren e lançado pela Century Media, e pode ser considerado como mais um passo no que o Dark Tranquillity vem trilhando nos últimos anos (em específico, após o Fiction, de 2007).


Porém, ao contrário do que pode ser ouvido nos álbuns anteriores, a faixa escolhida para abrir o disco, “For Broken Words” traz um ritmo cadenciado e de tempos esquisitos, destacando ainda mais a atmosfera sonora criadas pelo tecladista Martin Brändström, cuja função na banda se torna ainda mais importante a cada registro. As tendências se mantêm imutáveis em “The Science Of Noise”, uma das faixas liberadas para divulgação, aonde é importante notar que a voz de Mikael Stanne voltou ao gutural de antes, deixando de lado o excessivamente rasgado de We Are The Void.


“Uniformity” desce ainda mais na profundidade e soa como um híbrido entre o Dark Tranquillity atual e a banda da época do Projector, com elementos de gothic metal e industrial em meio ao melodic death, enquanto “The Silence In Between” é o primeiro momento realmente agressivo em Construct, com uma daquelas faixas de margens pouco definidas entre cada seção. Com riffs que remetem ao som primordial da banda, “Apathetic” quase chega a esbarrar nas influências de black metal que eles tiveram em determinadas partes dos últimos álbuns, diferente da simplicidade instrumental em “What Only You Know”, algo que raramente se vê nas faixas padrão da banda.


E por falar em simplicidade, muito pouco do melodic death metal de outrora é identificável em “Endtime Hearts”, que carregada de elementos eletrônicos, se aproxima um pouco mais dos lances de industrial. Estes mesmos elementos são os principais condutores de “State of Trust”, possivelmente o mais próximo de uma balada que os suecos compuseram nos últimos anos (embora você não deva esperar batidinhas de violão ou letras melosas aqui), uma preparação para a excessivamente cadenciada “Weight Of The End”, e para “None Becoming”, faixa que encerra o álbum mantendo a tradição de ser arrastada, atmosférica, como uma proclamação desesperada em diversos momentos.


Alguns detalhes importantes devem ser levantados para que seja possível entender a sonoridade do Dark Tranquillity em Construct: o principal compositor nesse álbum é o tecladista Martin Brändström (ele assina oito das faixas), que além de ter esta função na banda, é um freak no que se trata de efeitos eletrônicos e criação de texturas e atmosferas; o guitarrista Niklas Sundin, responsável por algumas das mais soturnas composições na discografia do Dark Tranquillity, é o segundo que mais colabora; Martin Henriksson e Anders Jivarp, anteriormente os principais compositores, aparecem em proporção muito menor do que a de anos atrás.


Agora, qual o motivo de saber tudo isso? Simples: Construct é um disco muito mais simples, no que diz respeito à sua execução técnica, centrado na construção de camadas musicais e na atmosfera que os instrumentos criam, guiados pelas texturas eletrônicas e linhas de teclado. A virtuose e a perfeição teórica de álbuns como Character e Fiction foram deixadas consideravelmente de lado (trabalhos em que Henriksson participou mais ativamente), enquanto que o espírito negativista de We Are The Void foi mantido, porém colocado aqui sob outro ponto de vista.


O que pode ser ouvido neste disco, é um Dark Tranquillity retomando algo que fizeram há mais de uma década, nos álbuns Projector e Haven (pelo qual foram um tanto quanto criticados, na época), porém com a experiência e a maturidade musical em um patamar muito acima, equilibrando as suas mais diversas facetas, e caminhando, ainda que isso ainda seja meio nebuloso, para novos ares.


Ou seja, Construct não é o mais indicado para que se tenha o primeiro contato com a banda, pois exige um pouco para montar mentalmente as referências, e mesmo não sendo nada exatamente novo ou revolucionário, foca em outros aspectos da sua identidade. 


E, definitivamente, não há nenhum problema nisso.


Nota 8




Faixas:
01. For Broken Words
02. The Science Of Noise
03. Uniformity
04. The Silence In Between
05. Apathetic
06. What Only You Know
07. Endtime Hearts
08. State Of Trust
09. Weight Of The End
10. None Becoming

Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

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