Um dos nomes originais da cena musical sueca de Gotemburgo e
um dos pilares do chamado melodic death metal, o Dark Tranquillity construiu ao longo de mais de duas décadas uma
discografia consistente, que explorou em cada um dos registros novas
sonoridades e percorreu caminhos ainda mais diferentes no estilo que ele mesmo ajudou
a formar.
Construct é apenas o décimo álbum de estúdio, em meio a
incontáveis lançamentos de coletâneas e discos de raridades/sobras de estúdio,
e vem sendo considerado pela banda como o material mais dinâmico que eles
lançaram desde Projector, o divisor de águas de sua identidade musical. O novo
trabalho foi produzido em conjunto com Jens Bogren e lançado pela Century
Media, e pode ser considerado como mais um passo no que o Dark Tranquillity vem
trilhando nos últimos anos (em específico, após o Fiction, de 2007).
Porém, ao contrário do que pode ser ouvido nos álbuns
anteriores, a faixa escolhida para abrir o disco, “For Broken Words” traz um
ritmo cadenciado e de tempos esquisitos, destacando ainda mais a atmosfera
sonora criadas pelo tecladista Martin Brändström, cuja função na banda se torna
ainda mais importante a cada registro. As tendências se mantêm imutáveis em “The
Science Of Noise”, uma das faixas liberadas para divulgação, aonde é importante
notar que a voz de Mikael Stanne voltou ao gutural de antes, deixando de lado o
excessivamente rasgado de We Are The Void.
“Uniformity” desce ainda mais na profundidade e soa como um
híbrido entre o Dark Tranquillity atual e a banda da época do Projector, com
elementos de gothic metal e industrial em meio ao melodic death, enquanto “The
Silence In Between” é o primeiro momento realmente agressivo em Construct, com
uma daquelas faixas de margens pouco definidas entre cada seção. Com riffs que
remetem ao som primordial da banda, “Apathetic” quase chega a esbarrar nas
influências de black metal que eles tiveram em determinadas partes dos últimos
álbuns, diferente da simplicidade instrumental em “What Only You Know”, algo
que raramente se vê nas faixas padrão da banda.
E por falar em simplicidade, muito pouco do melodic death
metal de outrora é identificável em “Endtime Hearts”, que carregada de
elementos eletrônicos, se aproxima um pouco mais dos lances de industrial.
Estes mesmos elementos são os principais condutores de “State of Trust”,
possivelmente o mais próximo de uma balada que os suecos compuseram nos últimos
anos (embora você não deva esperar batidinhas de violão ou letras melosas
aqui), uma preparação para a excessivamente cadenciada “Weight Of The End”, e
para “None Becoming”, faixa que encerra o álbum mantendo a tradição de ser
arrastada, atmosférica, como uma proclamação desesperada em diversos momentos.
Alguns detalhes importantes devem ser levantados para que
seja possível entender a sonoridade do Dark Tranquillity em Construct:
o principal compositor nesse álbum é o tecladista Martin Brändström (ele assina
oito das faixas), que além de ter esta função na banda, é um freak no que se
trata de efeitos eletrônicos e criação de texturas e atmosferas; o guitarrista
Niklas Sundin, responsável por algumas das mais soturnas composições na
discografia do Dark Tranquillity, é o segundo que mais colabora; Martin
Henriksson e Anders Jivarp, anteriormente os principais compositores, aparecem
em proporção muito menor do que a de anos atrás.
Agora, qual o motivo de saber tudo isso? Simples: Construct
é um disco muito mais simples, no que diz respeito à sua execução técnica,
centrado na construção de camadas musicais e na atmosfera que os instrumentos
criam, guiados pelas texturas eletrônicas e linhas de teclado. A virtuose e a
perfeição teórica de álbuns como Character e Fiction foram deixadas
consideravelmente de lado (trabalhos em que Henriksson participou mais
ativamente), enquanto que o espírito negativista de We Are The Void foi
mantido, porém colocado aqui sob outro ponto de vista.
O que pode ser ouvido neste disco, é um Dark Tranquillity
retomando algo que fizeram há mais de uma década, nos álbuns Projector e Haven
(pelo qual foram um tanto quanto criticados, na época), porém com a experiência
e a maturidade musical em um patamar muito acima, equilibrando as suas mais
diversas facetas, e caminhando, ainda que isso ainda seja meio nebuloso, para
novos ares.
Ou seja, Construct não é o mais indicado para
que se tenha o primeiro contato com a banda, pois exige um pouco para montar
mentalmente as referências, e mesmo não sendo nada exatamente novo ou
revolucionário, foca em outros aspectos da sua identidade.
E, definitivamente, não há nenhum problema nisso.
Nota 8
Faixas:
01. For Broken Words
02. The Science Of Noise
03. Uniformity
04. The Silence In Between
05. Apathetic
06. What Only You Know
07. Endtime Hearts
08. State Of Trust
09. Weight Of The End
10. None Becoming
01. For Broken Words
02. The Science Of Noise
03. Uniformity
04. The Silence In Between
05. Apathetic
06. What Only You Know
07. Endtime Hearts
08. State Of Trust
09. Weight Of The End
10. None Becoming
Por Rodrigo Carvalho, do Progcast
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