Queensrÿche: crítica de Frequency Unknown (2013)

O Queensrÿche protagonizou no ano passado uma novela de separação das mais vergonhosas dos últimos anos, superando inclusive toda a exposição que o Dream Theater se submeteu quando da saída de Mike Portnoy (afinal de contas, o baterista não tentou cuspir em ninguém), resultando na dissolução da banda e, por decisões legais, a existência de dois Queensrÿche: um liderado pelo vocalista Geoff Tate e o outro com os membros remanescentes, mais o recém contratado vocalista Todd La Torre.


Pois bem, o Geoff Tate’s Queensrÿche não demorou para recrutar um lineup respeitável e anunciar o lançamento do primeiro álbum, batizado de Frequency Unknown, uma obra que levantou controvérsias desde a sua capa, até a produção final, e vem sendo considerado um dos piores discos já feitos pela banda.


"Cold", a primeira faixa liberada para audição, apesar de todas as reclamações geradas por causa da mixagem desleixada, apresentava certo apelo musical e cumpria bem o seu papel de divulgação do álbum, com riffs e melodias simples, uma progressão natural se analisarmos o que o Queensrÿche havia feito em Dedicated to Chaos (totalmente direcionado por Tate, aliás). Uma faixa mediana, mas que mantinha a esperança de que o disco trouxesse ideias melhores, certo? Ledo engano.


Desencontrada e definitivamente sem nada a acrescentar sob nenhum aspecto, a excessivamente distorcida "Dare" é um hard rock mal gravado e sem a inspiração necessária, assim como a vexatória semi-balada "Give It to You", aonde você passa a duvidar severamente da qualidade vocal de Geoff Tate atualmente, tamanha a quantidade de efeitos utilizada para maquiar a sua voz no processo de mixagem. A fraquíssima "Slave" remete aos primórdios do Queensrÿche, quando os elementos de heavy rock e metal tradicional eram bem mais presentes, com um instrumental bem construído, mas sem o acompanhamento melódico necessário.


"In the Hands of God" segue o mesmo caminho e tem interessantes ideias, com um grande potencial, mas novamente os problemas de produção fazem com que soe como uma gravação amadora, e atrapalham um pouco a identificação de todos os seus elementos. A cadenciada "Running Backwards", que remete vagamente ao Savatage em seu período transacional, é um dos raros realmente bons momentos em Frequency Unknown, bem diferente da enfadonha "Life Without You", que parece ter saído de algum lugar do início dos anos noventa, com esquisitas passagens de guitarra e melodias vocais recicladas que parecem sequer encaixar com o que o resto da banda está tocando.


Apesar do grande potencial e com um bonito instrumental, o resultado final de "Everything" se assemelha a uma sucessão de coitos interrompidos, com diversas passagens que poderiam ter sido realmente memoráveis se tivessem recebido maior atenção e desenvolvidas com maior cuidado. Sensação semelhante pode ser encontrada em "Fall", música que parece crescer ao longo de seus poucos minutos, mas no final, sem qualquer destino considerável. Apenas o encerramento do álbum com "The Weight of The World" é mais um dos poucos momentos que chamam a atenção, com um interessante desenvolvimento musical, digno dos músicos que participam desse projeto.


Porém, o saldo final de Frequency Unknown chega quase a ser incompreensível, tamanho é o desencontro musical que pode ser ouvido ao longo das dez faixas nessa nova fase de um dos Queensrÿche (e não estamos sequer considerando as regravações de quatro clássicos que acompanham o tracklist original – e a medida soa como uma péssima jogada para tentar vender mais discos, depois de toda a confusão da separação da banda). As composições soam incompletas, feitas às pressas, deixando uma impressão que as primeiras demos foram simplesmente gravadas da forma mais básica possível, deixando de lado importantes detalhes que poderiam engrandecer e amadurecer as ideias do álbum.


Além disso, com uma produção digna de pena e uma mixagem que virou motivo de piada pela própria banda, também é perceptível como Geoff Tate parece estar com as suas habilidades vocais ainda mais prejudicadas, muito, mas muito aquém em relação ao que foi ouvido no último do Queensrÿche como uma banda só, o excessivamente apelativo Dedicated to Chaos (que mesmo com todas as suas falhas, ainda é muito superior a esse novo disco).


Frequency Unknown falha miseravelmente em praticamente todos os aspectos, com raros momentos aproveitáveis, e, mesmo que as alcunhas de “pior disco já gravado” sejam um tanto quanto exageradas, eles quase chegaram lá. Que os próximos passos sejam melhores.

Nota 1


Faixas:
01. Cold
02. Dare
03. Give It To You
04. Slave
05. In The Hands of God
06. Running Backwards
07. Life Without You
08. Everything
09. Fall
10. The Weight of the World
11. I Don’t Believe In Love
12. Empire
13. Jet City Woman
14. Silent Lucidity


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. O texto diz que existem dois Queensryche por decisão legal... Isto está correto? O que eu li pela Net é que existem 2 Queenryche justamente porque ainda não houve uma decisão legal... De qualquer forma, Geoff Tate está precisando de uma férias para pensar longamente na vida...

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  2. ninguem vai superar o titulo de pior disco já gravado do Metallica + Lou Reed com Lulu

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  3. Helena,

    Até onde a gente consegue entender, os outros membros da banda tentaram impedir judicialmente que Geoff Tate utilizasse o nome Queensrÿche. O juiz que analisou o caso decidiu que até o julgamento (que deve acontecer em novembro), ele está autorizado a usar o nome, assim como a versão do La Torre.

    Vamos aguardar pra ver!

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  4. Ah, tah... Obrigada, pelo esclarecimento Rodrigo!

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