Amon Amarth: crítica de Deceiver of the Gods (2013)

Apesar de Estocolmo, mais precisamente a sua área suburbana de Tumba, estar passando por um complicado momento, tendo sido palco de uma série de conflitos civis de origem econômica e social nas últimas semanas, a cidade também é a terra natal da banda Scum, a banda de adolescentes formada em 1988, que viria a ser o Amon Amarth quatro anos mais tarde.

Mais de duas décadas e oito discos depois, o quinteto sueco se estabeleceu como um dos maiores nomes do heavy metal atual, sempre embalado pela recorrente temática viking em suas letras, e o sentimento épico que transborda em cada registro. Em 2013 eles lançam Deceiver Of The Gods, seu nono álbum de estúdio, novamente pela Metal Blade Records, focando prioritariamente em uma das mais populares figuras da mitologia nórdica, o deus do fogo, Loki.

E logo nos primeiros segundos, a faixa-título começa a desenhar o espírito que dominará não apenas a música de abertura, mas todo o álbum – e como isso poderia ser diferente? É, de longe, a característica mais marcante na sonoridade do Amon Amarth e um dos principais responsáveis por ele ter o reconhecimento que tem hoje. Unindo isso a sempre presente influência do heavy metal tradicional e da música extrema, “Deceiver Of The Gods” mostra uma banda intacta em questões musicais, e ainda assim trazendo de detalhes que engrandecem as suas composições consideravelmente.

Mais acelerada, “As Loke Falls” alterna entre momentos extremamente melódicos (evidentemente, dentro dos padrões da banda) com andamentos que remetem aos seus primórdios, quando as margens com o death e black metal eram menos definidas. “Father Wolf”, a seguinte, poderia facilmente se encaixar em algum disco da NWOBHM com toques de speed metal, não fossem os vocais urrados de Johan Hegg e o tom extremamente baixo, enquanto “Shape Shifter”... bem, é Amon Amarth até o osso.

“Under Siege”, atmosférica e cadenciada, com estruturas bem variadas, é digna dos momentos mais épicos e contemplativos nas apresentações ao vivo dos suecos. Aliás, é notável o direcionamento da banda em compor com foco nas passagens que permitem uma grande interação, seja nas vozes ou nas melodias instrumentais que praticamente clamam por um coro a plenos pulmões. Isso pode ser visto mais do que claramente tanto na curta e direta “Blood Eagle”, quanto no chamado para a guerra de “We Shall Destroy”.

O andamento mais lento retorna na soturna “Hel”, que conta com a participação de Messiah Marcolin e invariavelmente acaba por resultar em um híbrido entre melodic death metal e doom metal, sempre carregado. O ritmo volta ao seu estágio típico em “Coming Of The Tide”, basicamente uma preparação para “Warriors Of The North”, a maior faixa já lançada pelo grupo até hoje, que com o seu excelente e bem encaixado título pode facilmente ser considerada a epítome de tudo que eles já fizeram de importante, musicalmente falando, em sua discografia.

E isso demonstra bem o que é a banda hoje: os suecos estão em uma situação extremamente confortável, com um nível de confiança conquistado e estabelecido álbum após álbum, que, se não apresenta grandes variações ou inovações entre um e outro, concretiza cada vez mais a identidade do Amon Amarth, e justifica o porquê de eles serem considerados um dos grandes nomes não apenas do melodic death metal (ou viking metal, como queiram), mas sim do heavy metal como um todo.

Deceiver Of The Gods pode não ser exatamente uma progressão natural, mas sim praticamente como outra parte, mais uma coleção de faixas dentro do estilo adotado claramente desde o With Oden On Our Side, em um longínquo 2006. Cansativo? De maneira alguma, já que eles ainda conseguem compor músicas e mais músicas que, por mais que sigam uma proposta em comum, recebem uma série de detalhes e um cuidadoso trabalho melódico que garantem a heterogeneidade do álbum e o torna memorável em diversos momentos.

Nota 8,5

Faixas:
01. Deceiver Of The Gods
02. As Loke Falls
03. Father Of The Wolf
04. Shape Shifter
05. Under Siege
06. Blood Eagle
07. We Shall Destroy
08. Hel
09. Coming Of The Tide
10. Warriors Of The North


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

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