
Formado em 2002, o Deventter aos
poucos foi se estabelecendo como um dos interessantes novos nomes do metal
progressivo nacional, graças ao material consistente apresentado em seus dois
primeiros discos, The 7th Dimension, de 2007, e Lead...
On, de 2009. Quatro anos depois e agora como um quinteto, a banda
está lançando o seu terceiro álbum, Empty Set.
Gravado no Norcal Studios e produzido por Adriano
Daga e Brendan Duffey, o trabalho representa mais um largo passo em sua
discografia, agregando uma gama muito maior de influências musicais,
construindo o panorama musical que serve de base para um conteúdo lírico
crítico e reflexivo, tratando da coletivização e da impessoalidade do ser
humano e da sociedade.
"Old Major" abre o disco de maneira
direta, pesada (e isso não quer dizer baixas afinações ou milhares de batidas
de minuto – mas sim no lado atmosférico) e com uma interessante oscilação
instrumental, que, apesar de simples, a princípio, contribui muito para o
crescendo melódico da faixa. E falando em atmosfera, "Popstein" é soturna
e carregadíssima, como um bizarro híbrido entre Nine Inch Nails e o Pain of
Salvation dos dois últimos álbuns, enquanto "Blank Death" se aproxima do
metal progressivo mais convencional, se considerarmos os seus moldes menos
virtuosos, destacando ainda mais a excelência da letra e da melodia no refrão.
Aliás, nesse ponto é importante notar como as
linhas e texturas de teclado se tornaram um elemento extremamente diferencial,
e responsável por vários detalhes ao longo das faixas, que tornam a audição uma
experiência única. Isso se torna bem evidente em "I-330", aonde toda a
base se forma sobre diferentes timbres, construindo um clima épico que se
encaixa perfeitamente com o conteúdo lírico, e também na seguinte, a bonita balada
"Stains" e os seus traços de atmospheric rock, com dois pés no pop (como
se isso fosse um problema).
Em "Yellow Paper", por outro lado, é
pulsante a influência de Porcupine Tree, principalmente se considerarmos o
trabalho de guitarra e a estrutura musical flutuante adotada pelo grupo de
Steven Wilson após o Deadwing, enquanto "In Limbo" tem um ritmo
constante com diversas camadas de efeitos eletrônicos, e transmite uma sensação
de estática, beirando a claustrofobia, mesmo com essa caracterização de ser uma
faixa de passagem. Principalmente porque, "No... Deal" segue por
caminhos muito próximos do avant garde metal, focando principalmente nos
aspectos mais interpretativos, com ótimos resultados.
Esse foco permanece em "3 Bullets Left, 4
Enemies", uma melancólica faixa que soa como a trilha sonora para um filme
envolvendo ao mesmo tempo realidades virtuais e uma atmosfera western, aonde a
letra auxilia em muito para visualizar a história sendo contada. Para
tranquilizar a mente, "Blank Label" é mais um momento de calmaria, quase
despretensioso e em formatos tradicionais, enquanto "Same River" e "Progressive
Disorder" parecem unir o progressivo da escola sueca com alguns elementos
de MPB.
"Wallow In Nostalgia", apesar de quase
nove minutos de duração, tem andamento e desenvolvimento musical quase
hipnótico, de melodias fáceis sobre ritmos mais complexos, que remetem
diretamente à época áurea do progressivo, porém com uma roupagem atualizada. A
cortinas de Empty Set se fecham com mais uma faixa
extremamente teatral, que apesar de inicialmente de poucas pretensões, contém
uma dose de sentimentos que definitivamente se encaixou com o encerramento do
álbum.
Interessante notar como o Deventter
deixou de lado vários elementos do metal progressivo abordado no último álbum,
acompanhando ao seu próprio modo as tendências do estilo, que aos poucos foi
deixando a virtuose de lado, e voltando-se para a interpretação e o sentimento
de cada faixa.
Principalmente porque Empty Set
não é apenas uma coleção de canções unidas em um disco, mas também oferece uma
experiência de audição dinâmica, que atravessa múltiplas vertentes e vai
gradativamente mais fundo em questões de complexidade, sempre seguindo o trilho
da própria identidade musical da banda. Ou seja, é possível identificar um
caminho comum enquanto você passa por músicas que exploram diferentes
possibilidades, prendendo a atenção a cada mudança de andamento ou troca de
faixa, por um motivo simples e essencial: você não sabe o que virá. E esse,
definitivamente é o maior mérito do novo trabalho, ao entregar o ouvinte uma
surpreendente viagem de mais de setenta minutos.
Apesar de uma das letras trazer o trecho “talvez
um dia nós cresçamos”, a grande verdade é que o Deventter já
seguiu adiante.
E que continue assim.
O álbum está disponível para download no próprio site da banda
Nota 9
Faixas:
01. Old Major
02. Popenstein
03. Blank Death
04. I-330
05. Stains
06. Yellow Paper
07. In Limbo
08. No...Deal
09. 3 Bullets Left, 4 Enemies
10. Blank Label
11. Same River
12. Progressive Disorder
13. Wallow In Nostalgia
14. Curtains Will Retreat
01. Old Major
02. Popenstein
03. Blank Death
04. I-330
05. Stains
06. Yellow Paper
07. In Limbo
08. No...Deal
09. 3 Bullets Left, 4 Enemies
10. Blank Label
11. Same River
12. Progressive Disorder
13. Wallow In Nostalgia
14. Curtains Will Retreat
Por Rodrigo Carvalho, do Progcast
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