A fórmula de Zombie é um caldeirão alucinado de heavy metal, rock industrial, uma pitada de funk, remixes e música eletrônica. As letras revisitam a típica obsessão do cantor com os filmes de terror B, falando sobre monstros, celebrações macabras e sexo satânico, sempre com uma pitada daquele humor negro típico das produções dos anos 70/80. Para entender o conceito nada melhor do que prestar atenção ao primeiro single, a faixa de título intricado “Dead City Radio and the New Gods of Supertown” (que, aliás, gerou um delirante videoclipe, um dos melhores do ano). Enquanto o vocalista coloca sua voz grave para cantar de maneira quase falada, narrada, daquele mesmo jeitão no qual começou a apostar ainda na época do White Zombie, a canção oferece uma viagem metálica quase anos 70, alucinada e alucinante. Outro destaque é a festiva (e de título igualmente indecifrável) “Ging Gang Gong De Do Gong De Laga Raga”, loucura contagiante que imediatamente dá vontade de cantar e dançar junto, numa pista de dança escura e com luzes estroboscópicas bombando a todo vapor. O verso “high on the fumes and high on the gas” é a indicação mais clara: estamos diante de uma espécie de Cheech & Chong com esteroides.
A formação de sua banda de apoio parece ser, de longe, a mais azeitada de sua carreira: além dos riffs repletos de efeitos de John 5 (basta ouvir a piração de barulhinhos que abre “Behold the Pretty Filthy Creatures!”), Zombie recrutou outro egresso do grupo que acompanhava Marilyn Manson, o talentoso Ginger Fish, para assumir as baquetas. Ele soube incorporar com perfeição os grooves ao mesmo tempo bombásticos e praticamente dançáveis que sempre caracterizaram o trabalho de Rob Zombie. A combinação potente que ele faz com o baixo de Piggy D. em “Revelation Revolution”, por exemplo, chega a ser quase essencialmente música eletrônica, um house pesado apoiado em uma batida única e repetitiva.
Destaque ainda para o cover, selecionado a dedo, do clássico do Grand Funk Railroad, “We’re An American Band”. Quem soube da escolha torceu o nariz à primeira vista. Bobagem. O resultado é gostoso demais de se ouvir – Zombie diminui o andamento, deixa as guitarras obviamente mais pesadas, capricha no vozeirão monstruoso e até insere uns efeitos sonoros para dar a impressão de que é uma faixa gravada ao vivo. E um detalhe curioso, para aqueles mais minuciosos: no verso “up all night with Freddie King I got to tell you, poker's his thing”, em que é mencionado o guitarrista de blues, Zombie faz uma troca sutil, colocando o nome de Kerry King, do Slayer, no lugar. Sintomático.
Para você entender, em resumo: Hellbilly Deluxe é a grande obra-prima da carreira de Rob Zombie pós-White Zombie. Venomous Rat Regeneration Vendor é, pelo menos até o momento, o seu melhor disco desde Hellbilly Deluxe. Diversão furiosa, na melhor acepção da expressão.
Nota 8,5
Faixas:
1 Teenage Nosferatu Pussy
2 Dead City Radio and the New Gods of Supertown
3 Revelation Revolution
4 Theme for the Rat Vendor (Instrumental)
5 Ging Gang Gong De Do Gong De Laga Raga
6 Rock and Roll (In a Black Hole)
7 Behold, the Pretty Filthy Creatures!
8 White Trash Freaks
9 We're An American Band
10 Lucifer Rising
11 The Girl Who Loved The Monsters
12 Trade in Your Guns for a Coffin
Por Thiago Cardim
Astro Creep 2000 (White Zombie) e Hellbilly Deluxe (Rob Zombie) são excelentes e sempre ouvi até cansar. Mas de lá pra cá ... eu baixo as coisas do RZ e nunca rola. Não sei o que é ... e acho o cara muito inteligente e até pouco celebrado dentro daqueles artistas do metal anos 90.
ResponderExcluirVou colocar de novo pra rodar depois de dito dessa forma: "Hellbilly Deluxe é a grande obra-prima da carreira de Rob Zombie pós-White Zombie. Venomous Rat Regeneration Vendor é, pelo menos até o momento, o seu melhor disco desde Hellbilly Deluxe."
Valeu pela resenha.