Rob Zombie: crítica de Venomous Rat Regeneration Vendor (2013)

A agenda de Rob Zombie tem andado bastante atribulada nos últimos anos. Afinal, desde que o sujeito se tornou ator, roteirista, diretor de cinema, produtor e mesmo quadrinista eventual, imagino que esteja cada vez mais difícil encontrar um espaço para a sua atividade inicial, aquela que o tornou de fato reconhecido: a de músico. Três anos depois de seu último álbum de inéditas, Zombie aproveita o seu próprio selo musical, o Zodiac Swan, e faz uma dobradinha: apenas quatro dias depois do lançamento de seu novo filme, The Lords of Salem, eis que ele coloca nas lojas o delicioso Venomous Rat Regeneration Vendor. O resultado musical é uma pérola que está muito mais próxima, em termos de estilo e originalidade, de Hellbilly Deluxe, o principal álbum de sua carreira solo, do que efetivamente a sua continuação oficial, lançada em 2008. Dá até para arriscar dizer que Venomous Rat Regeneration Vendor finca ainda mais os pés na sonoridade do White Zombie, banda que Rob liderou com sucesso na década de 90.

A fórmula de Zombie é um caldeirão alucinado de heavy metal, rock industrial, uma pitada de funk, remixes e música eletrônica. As letras revisitam a típica obsessão do cantor com os filmes de terror B, falando sobre monstros, celebrações macabras e sexo satânico, sempre com uma pitada daquele humor negro típico das produções dos anos 70/80. Para entender o conceito nada melhor do que prestar atenção ao primeiro single, a faixa de título intricado “Dead City Radio and the New Gods of Supertown” (que, aliás, gerou um delirante videoclipe, um dos melhores do ano). Enquanto o vocalista coloca sua voz grave para cantar de maneira quase falada, narrada, daquele mesmo jeitão no qual começou a apostar ainda na época do White Zombie, a canção oferece uma viagem metálica quase anos 70, alucinada e alucinante. Outro destaque é a festiva (e de título igualmente indecifrável) “Ging Gang Gong De Do Gong De Laga Raga”, loucura contagiante que imediatamente dá vontade de cantar e dançar junto, numa pista de dança escura e com luzes estroboscópicas bombando a todo vapor. O verso “high on the fumes and high on the gas” é a indicação mais clara: estamos diante de uma espécie de Cheech & Chong com esteroides.

A formação de sua banda de apoio parece ser, de longe, a mais azeitada de sua carreira: além dos riffs repletos de efeitos de John 5 (basta ouvir a piração de barulhinhos que abre “Behold the Pretty Filthy Creatures!”), Zombie recrutou outro egresso do grupo que acompanhava Marilyn Manson, o talentoso Ginger Fish, para assumir as baquetas. Ele soube incorporar com perfeição os grooves ao mesmo tempo bombásticos e praticamente dançáveis que sempre caracterizaram o trabalho de Rob Zombie. A combinação potente que ele faz com o baixo de Piggy D. em “Revelation Revolution”, por exemplo, chega a ser quase essencialmente música eletrônica, um house pesado apoiado em uma batida única e repetitiva.

Destaque ainda para o cover, selecionado a dedo, do clássico do Grand Funk Railroad, “We’re An American Band”. Quem soube da escolha torceu o nariz à primeira vista. Bobagem. O resultado é gostoso demais de se ouvir – Zombie diminui o andamento, deixa as guitarras obviamente mais pesadas, capricha no vozeirão monstruoso e até insere uns efeitos sonoros para dar a impressão de que é uma faixa gravada ao vivo. E um detalhe curioso, para aqueles mais minuciosos: no verso “up all night with Freddie King I got to tell you, poker's his thing”, em que é mencionado o guitarrista de blues, Zombie faz uma troca sutil, colocando o nome de Kerry King, do Slayer, no lugar. Sintomático.

Para você entender, em resumo: Hellbilly Deluxe é a grande obra-prima da carreira de Rob Zombie pós-White Zombie. Venomous Rat Regeneration Vendor é, pelo menos até o momento, o seu melhor disco desde Hellbilly Deluxe. Diversão furiosa, na melhor acepção da expressão.



Nota 8,5

Faixas:
1 Teenage Nosferatu Pussy
2 Dead City Radio and the New Gods of Supertown
3 Revelation Revolution
4 Theme for the Rat Vendor (Instrumental)
5 Ging Gang Gong De Do Gong De Laga Raga
6 Rock and Roll (In a Black Hole)
7 Behold, the Pretty Filthy Creatures!
8 White Trash Freaks
9 We're An American Band
10 Lucifer Rising
11 The Girl Who Loved The Monsters
12 Trade in Your Guns for a Coffin

Por Thiago Cardim

Comentários

  1. Astro Creep 2000 (White Zombie) e Hellbilly Deluxe (Rob Zombie) são excelentes e sempre ouvi até cansar. Mas de lá pra cá ... eu baixo as coisas do RZ e nunca rola. Não sei o que é ... e acho o cara muito inteligente e até pouco celebrado dentro daqueles artistas do metal anos 90.

    Vou colocar de novo pra rodar depois de dito dessa forma: "Hellbilly Deluxe é a grande obra-prima da carreira de Rob Zombie pós-White Zombie. Venomous Rat Regeneration Vendor é, pelo menos até o momento, o seu melhor disco desde Hellbilly Deluxe."

    Valeu pela resenha.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.