O hard rock escandinavo dos anos
2000 pode ser dividido em duas correntes: há os grupos que simplesmente
reproduzem com fidelidade os clichês da década de 1980, não agregando
nada de novo ao gênero, e há os que apontam para o futuro — com um pé
cravado no passado, ok, mas não se deixando levar pela fórmula cujo
desgaste levou à ruína no início dos anos 1990. Misturando o que há de
melhor no passado e o que se salva no futuro, o Reckless Love acaba de
lançar Spirit, seu terceiro álbum em aproximadamente quatro anos de
dedicação total do vocalista Olli Herman à banda que inicialmente o
revelou. E não tem como não dar graças à Dio por ele ter metido o pé do
Crashdïet, afinal, o saldo foi positivo para ambos os grupos.
Em
matéria de som, Spirit é mais comercial e, com isso, mais palatável que
seus antecessores Reckless Love (2010) e Animal Attraction (2011).
Parece haver, por parte do quarteto, uma preocupação imensa com cada
mínimo detalhe referente às canções. É perceptível o cuidado na execução
de cada nota nos solos, bem como o alinhamento dos backing vocals, a
uniformidade do som da cozinha e a voz, nos quesitos volume e altura. O
visual glamouroso, obviamente, agride os olhares dos xiitas
chapéu-e-bigode, mas basta deixar o preconceito de lado para ser levado
pelo hard radiofônico aqui oferecido.
"Night on
Fire", cujo clipe circula pela internet desde abril, abre o trabalho em
clima de festa. A pegada meio selva/meio L.A. é um convite para farrear
regado à uísque e... margaritas, talvez. Um bom amigo notou semelhanças
com "Whenever Wherever" da Shakira e eu tive que concordar. Agora
peguem "Unskinny Bop" do Poison, adicionem uma bateria mono a la Rick
Allen, misture bem e você obterá algo como "I Love Heavy Metal". Nuances
de AOR velha guarda marcam presença na primeira balada do álbum, "Edge
of Our Dreams". Enquanto isso, "Favorite Flavor" remete diretamente ao
tipo de som que você ouviria em Venice Beach a qualquer hora do dia duas
décadas atrás.
O nível cai de leve em "Sex,
Drugs & Reckless Love", a mais fraca do álbum, mas sobe a níveis
alarmantes em "Dying to Live", que foi a que mais me chamou a atenção
por aqui. A atmosfera por trás da canção é sinistra, emana uma
maturidade que até então o Reckless Love não havia transparecido — não
que Olli e seus amigos sofram de alguma síndrome de Peter Pan, apenas
ouçam e comprovem. Na tentativa de soar como um mantra metaleiro, "Metal
Ass" mais se aproxima de um Steel Panther, só que sem as boas sacadas
que fazem dessa uma das bandas mais sensacionais da história. Na reta
final, "So Happy I Could Die", oportunamente escolhida como segunda
música de trabalho e mais uma balada, e "Hot Rain", onde o destaque vai
todo para a interpretação light FM de Olli.
Ante
o que foi lançado até agora em 2013, Spirit tem vaga garantida na minha
lista dos melhores do ano. Talvez até vença na categoria hard rock do
prêmio Marcelo Vieira. Mas independentemente disso, é um álbum vigoroso,
que assegura o Reckless Love no Olimpo da farofa escandinava do novo
milênio.
Nota 8,0
1. Night On Fire
2. Bad Lovin'
3. I Love Heavy Metal
4. Favorite Flavor
5. Edge Of Our Dreams
6. Sex, Drugs & Reckless Love
7. Dying To Live
8. Metal Ass
9. Runaway Love
10. So Happy I Could Die
11. Hot Rain
Por Marcelo Vieira
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