Reckless Love: crítica de Spirit (2013)

O hard rock escandinavo dos anos 2000 pode ser dividido em duas correntes: há os grupos que simplesmente reproduzem com fidelidade os clichês da década de 1980, não agregando nada de novo ao gênero, e há os que apontam para o futuro — com um pé cravado no passado, ok, mas não se deixando levar pela fórmula cujo desgaste levou à ruína no início dos anos 1990. Misturando o que há de melhor no passado e o que se salva no futuro, o Reckless Love acaba de lançar Spirit, seu terceiro álbum em aproximadamente quatro anos de dedicação total do vocalista Olli Herman à banda que inicialmente o revelou. E não tem como não dar graças à Dio por ele ter metido o pé do Crashdïet, afinal, o saldo foi positivo para ambos os grupos.

Em matéria de som, Spirit é mais comercial e, com isso, mais palatável que seus antecessores Reckless Love (2010) e Animal Attraction (2011). Parece haver, por parte do quarteto, uma preocupação imensa com cada mínimo detalhe referente às canções. É perceptível o cuidado na execução de cada nota nos solos, bem como o alinhamento dos backing vocals, a uniformidade do som da cozinha e a voz, nos quesitos volume e altura. O visual glamouroso, obviamente, agride os olhares dos xiitas chapéu-e-bigode, mas basta deixar o preconceito de lado para ser levado pelo hard radiofônico aqui oferecido.

"Night on Fire", cujo clipe circula pela internet desde abril, abre o trabalho em clima de festa. A pegada meio selva/meio L.A. é um convite para farrear regado à uísque e... margaritas, talvez. Um bom amigo notou semelhanças com "Whenever Wherever" da Shakira e eu tive que concordar. Agora peguem "Unskinny Bop" do Poison, adicionem uma bateria mono a la Rick Allen, misture bem e você obterá algo como "I Love Heavy Metal". Nuances de AOR velha guarda marcam presença na primeira balada do álbum, "Edge of Our Dreams". Enquanto isso, "Favorite Flavor" remete diretamente ao tipo de som que você ouviria em Venice Beach a qualquer hora do dia duas décadas atrás.

O nível cai de leve em "Sex, Drugs & Reckless Love", a mais fraca do álbum, mas sobe a níveis alarmantes em "Dying to Live", que foi a que mais me chamou a atenção por aqui. A atmosfera por trás da canção é sinistra, emana uma maturidade que até então o Reckless Love não havia transparecido — não que Olli e seus amigos sofram de alguma síndrome de Peter Pan, apenas ouçam e comprovem. Na tentativa de soar como um mantra metaleiro, "Metal Ass" mais se aproxima de um Steel Panther, só que sem as boas sacadas que fazem dessa uma das bandas mais sensacionais da história. Na reta final, "So Happy I Could Die", oportunamente escolhida como segunda música de trabalho e mais uma balada, e "Hot Rain", onde o destaque vai todo para a interpretação light FM de Olli.

Ante o que foi lançado até agora em 2013, Spirit tem vaga garantida na minha lista dos melhores do ano. Talvez até vença na categoria hard rock do prêmio Marcelo Vieira. Mas independentemente disso, é um álbum vigoroso, que assegura o Reckless Love no Olimpo da farofa escandinava do novo milênio.

Nota 8,0

1. Night On Fire 
2. Bad Lovin' 
3. I Love Heavy Metal 
4. Favorite Flavor 
5. Edge Of Our Dreams 
6. Sex, Drugs & Reckless Love 
7. Dying To Live 
8. Metal Ass 
9. Runaway Love 
10. So Happy I Could Die
11. Hot Rain
 
Por Marcelo Vieira

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