Sabe aquela rapaziada denim and
leather que marca presença na Galeria do Rock (SP) usando coletes
repletos de patches de bandas que você provavelmente nunca ouviu falar?
Pois bem, a base de fãs do Thor compreende essa turma de profundos
entendedores de metal, fundamentalistas da velha guarda que nas
entrelinhas se proclamam a raça ariana da música pesada pelo simples
fato de conhecerem (e idolatrarem) tudo que é obscuro nesse universo.
Independentemente da legião de abobalhados que permitiu isto, o icônico
Jon Mikl Thor construiu uma carreira sólida e, da mesma forma que muitos
sobreviventes do período jurássico do metal, segue na ativa — muito
mais como logomarca/personagem do que como artista, mas isso é outra
história.
Recentemente caiu na net a mais nova
coletânea do Thor e eu me senti na obrigação de conferir, afinal, apesar
de não me encaixar no perfil do headbanger chato pra caraca descrito
acima, acho o som (muito mais pelo caráter interpretação) realmente
bacana. Com sua capa que parece ter sido chupada de alguma HQ,
Aristocrat of Victory reúne dez10 canções que cumprem com o propósito de
introdução ao artista/banda que toda coletânea carrega em seu âmago. Aos
que estão antenados aos lançamentos do grupo — que provavelmente estão
na Galeria do Rock enquanto escrevo este texto —, uma má notícia:
nenhuma música inédita. Aliás, este CD aqui nada mais é que um apanhado
do que foi julgado ser mais relevante em Thunderstryke, coletânea
lançada em edição limitada em 2012 que consiste, basicamente, de sobras
de estúdio de ontem e de hoje.
Com alto nível
de epicidade, "Collider" anuncia a partida do herói, nos moldes de
antigamente, com a bênção de Odin e o Mjolnir em punho. Aí "Metal
Warriors" arregaça com um riff que é total back to the 80's. A banda vem
do Canadá, mas o selo de qualidade é britânico, e se a voz está longe
de ser um atrativo, eu insisto: a interpretação é o grande barato. Thor,
o cantor, sobe ao palanque e, tal como um general, dá voz de batalha
aos seus comandados. Um teclado pra lá de pasteurizado permeia
"Thunderstriker", mas a letra é tão TRUE que nem mesmo o timbre
irritante do instrumento é capaz de por sua masculinidade na roda. "Hey
with You" soa genérica — lembra Sabbath, Purple, Zeppelin e tudo que
veio em seguida — e justamente por isso, pode vir a ser apontada como a
favorita dos saudosistas.
"Flight to the Stars"
é Manowar com roupa de astronauta enquanto "That Girl is Poison" foge
do âmbito metálico com sua levada rock 'n' roll de baile dos enxutos.
Aliás, interessante a colocação dessas faixas em sequência, pois mostra
dois extremos para os quais Jon Mikl Thor navegou em mais de três
décadas de músculos de aço, couro e tachinhas. Outro som das antigas é a
mal gravada — e por isso engraçada — "Crush the Skull". O encerramento
vem com "Ceremony", e a figura do herói voltando dos campos de batalha
vem logo em mente, com direito a tambores rufando, vozes entoando "hail,
Thor!" e uma breve narração sobre o bem sucedido regresso pós-guerra.
Irresistível... e impagável.
Nota 7
Faixas:
1. Collide
2. Metal Warriors
3. Thunderstrike
4. Hey With You
5. Flight To The Stars
6. That Girl Is Poison
7. Lady
8. Crush The Skull
9. Power
10. Ceremony
Por Marcelo Vieira
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