Veredito Collectors Room: Carcass - Surgical Steel (2013)

Terceira edição do Veredito Collectors Room, seção onde nossa equipe analisa, de forma coletiva, aquele que julgamos ser o principal disco lançado no último mês.

O escolhido desta vez foi o novo álbum do Carcass, Surgical Steel, que marca o retorno de uma das mais importantes e influentes bandas da história do heavy metal. O disco representa o primeiro trabalho de inéditas do grupo desde 1996, e foi lançado no dia 13 de setembro pela Nuclear Blast.

Guilherme Gonçalves, Ricardo Seelig, Rodrigo Carvalho, Marcelo Vieira e Thiago Cardim escreveram abaixo, cada um, as suas opiniões sobre Surgical Steel. Com base na avaliação e na nota atribuída por cada um dos nossos redatores chegamos a uma média final, que está no fim deste texto.

Gostaríamos de saber também qual a sua opinião sobre o novo disco do Carcass. Conte o que achou do álbum para a gente, nos comentários.




Se havia alguma dúvida em relação à relevância de um álbum novo do Carcass em pleno 2013, ela simplesmente foi extraída, dissecada, cauterizada com ácido, carbonizada e obliterada de uma vez por todas com o lançamento de Surgical Steel. Quase duas décadas após o derradeiro Swansong, Bill Steer e Jeff Walker demonstram mais uma vez o porquê de o legado da banda inglesa permanecer um dos mais importantes da música extrema até hoje: com uma coleção de faixas que parece reunir de forma orgânica todas as vertentes nas quais o Carcass esteve diretamente ligado em sua história, como um agregado das melhores composições guardadas pela dupla ao longo dos anos.

Enquanto as características letras patológicas são vomitadas insanamente, o instrumental comprova que brutalidade não é exatamente sinônimo de ritmos descontrolados e ininteligíveis. A experiência de Steer e Walker traz uma música por vezes simples, sempre mantendo a violência e a carga equilibrada de melodias, que engrandecem ainda mais a obra (mostrando que, talvez, Michael Amott não fez tanta – ou nenhuma – falta), como pode ser ouvido em “Cadaver Pouch Conveyor System”, “The Granulating Dark Satanic Mills” e a mais do que excelente “Mount of Execution”. Surgical Steel é sim, e muito, relevante em 2013. Tanto para o legado do próprio Carcass, quanto para o que pode vir a seguir. Nota 8 (por Rodrigo Carvalho)

Um dos mais longos silêncios da história do metal foi quebrado de maneira espetacular pelo Carcass. Dezessete anos após seu último disco, Swansong (1996), a banda inglesa retornou com o excelente Surgical Steel, um dos grandes álbuns dos últimos anos. As onze músicas presentes no trabalho entregam uma mistura azeitada de peso e agressividade temperada com doses fartas de melodia. Essa receita, comandada com precisão pelos chefes Bill Steer e Jeff Walker, mostra por A mais B o quanto o Carcass segue sendo necessário e muito relevante para o heavy metal. Michael Amott, acomodado em seu Arch Enemy, deve ter se arrependido profundamente de não participar desse retorno. Ouça, compre, tenha! Nota 9 (por Ricardo Seelig)

Ainda que em um universo bem mais restrito, Surgical Steel teve impacto congruente ao de 13, do Black Sabbath, no sentido de simbolizar o renascimento dos fundadores de um gênero. Ou de várias vertentes dele. Se o Sabbath criou o heavy metal e é o pai de seus conceitos centrais, o Carcass é um dos pilares de pelo menos três ramificações oriundas desse ponto de origem. Situá-lo na discografia da banda não é tarefa difícil. A primeira impressão é de que ele está estrategicamente no meio do caminho entre Necroticism - Descanting the Insalubrious (1991) e Heartwork (1993). Algumas audições depois, entretanto, constata-se facilmente que o mesmo se aproxima muito mais do segundo.

O ponto alto de Surgical Steel ninguém tira de Bill Steer, que tem atuação simplesmente de outro planeta. Guitarras gêmeas e riffs brutais, velozes ou com groove e, acima de tudo, criativos, são o carro-chefe. Tudo afinado alguns tons abaixo, em Si, e temperado com solos melódicos no ponto exato, destilando toda sua influência de classic rock e, principalmente, NWOBHM. Em seu habitat, que é o da música extrema e que congrega vasta gama de lançamentos de qualidade em 2013, não há dúvidas de que Surgical Steel se sobressai e praticamente oblitera a concorrência. Um verdadeiro marco na cena death metal como há tempos não se via. Além disso, um álbum para cooptar neófitos e recém-iniciados ao necrotério em que repousa incólume o legado do Carcass, assim como fez Heartwork, seu irmão mais velho, 20 anos atrás. Nota 9,5 (por Guilherme Gonçalves)

 
Para mim, o Carcass se resumia a um álbum, Heartwork (1993), frequentemente apontado entre os melhores discos de death metal da história. Como estou longe de ser um profundo conhecedor — e mesmo admirador — do gênero, nunca me permiti ir além do fundamental, do óbvio. Após ouvir mais atentamente o recém lançado Surgical Steel, arrisco dizer que é questão de tempo eu ir mais a fundo no trabalho dos caras, pois 2013 ainda estava devendo um disco que coubesse na definição de brutalidade sonora. Jeff Walker e Bill Steer agem como dois necromantes, esconjurando mortos famintos por cérebros e tímpanos, que atacam ao rufar dos tambores do estreante, porém monstruoso, Daniel Wilding. Capa e título fazem jus ao conteúdo, uma vez que ao término de cada canção era como se um órgão tivesse sido extraído cirurgicamente do meu corpo. Quem acha que não é possível decompor sentimento em selvageria deveria dar uma chance, e comprovar que existe vida — e vida foda — após a morte. Nota 8,5 (por Marcelo Vieira)

Não sei se isso vai ser considerado uma falha de caráter na minha formação como headbanger, mas o fato é que nunca fui dos maiores fãs do Carcass. Conhecia o som dos caras e já tinha ouvido e acompanhado muito de seu trabalho, em grande parte por conta de um grande amigo que era simplesmente fanático pelo grupo. Mas nunca me atraiu de verdade, confesso. No entanto, bastou os caras se reunirem mais uma vez para lançar o seu primeiro álbum de inéditas depois de quase 20 anos para que eu ouvisse grandes nomes da crítica musical, nomes que eu sempre admirei, incensando este Surgical Steel como um dos maiores e melhores lançamentos de heavy metal dos últimos anos. Não tinha como não aguçar a minha curiosidade. E deu no que deu. Que porrada. 


Lançado de maneira independente e sem a presença do estrelado Michael Amott, Surgical Steel tinha todos os motivos do mundo para despertar a desconfiança de seus seguidores mais fiéis – mas a banda, agora no formato de um trio, está numa forma invejável. E a adição de Dan Wilding às baquetas parece ter injetado ainda mais sangue novo, embora a sua escolha tenha se dado justamente pelo estilo similar ao de Ken Owen, que ficou afastado da turnê de reunião por problemas de saúde. A patada batizada de "Thrasher's Abattoir" é a prova de que este é, inegavelmente, um disco de death metal, poderoso, jovem intenso, inquieto. Mas o grande trunfo está no fato de que não se trata de um disco APENAS de death metal. 

"Cadaver Pouch Conveyor System" é uma das muitas canções que conversam com o metal tradicional, em especial pelo trabalho primoroso de Bill Steer, que fez com que a guitarra fosse o grande arregaço desta bolacha. Ouvir o interlúdio instrumental de "A Congealed Clot of Blood" é uma beleza, pois Steer nos entrega um solo lindíssimo, ao mesmo tétrico e emocionante, triste e delicado. E o que dizer da crueza quase thrash de "The Master Butcher's Apron"? É fato que quando uma banda consegue fazer um disco pesado, extremo, sem concessões, mas ainda assim acessível o suficiente para que você sinta vontade de cantar junto, na primeira audição, um refrão como o de "The Granulating Dark Satanic Mills", é sinal de alguém está fazendo a coisa certa. Nota 9 (por Thiago Cardim)

Com base em todos esses textos, que emitem as opiniões individuais de toda a equipe, chegamos a um veredito sobre Surgical Steel.

O nosso veredito final é: 8,8

E o de vocês?


Por Equipe Collectors Room

Comentários

  1. Bem, vou dizer o que achei de "Surgical Steel" e o impacto que o disco teve sobre mim como ouvinte da banda.

    Entretanto que antes estabelecer uma ideia que venho ruminando quando penso nesse e em outros discos. Muitas vezes as pessoas moderam aquilo que realmente sentem com medo de opiniões divergentes oriundas de ideias já super estabelecidas. É por isso que muitas vezes caímos naquele papo de "é muito bom mas não é clássico ainda". Bom, o que é um clássico? Eis ai um ótimo tema para debate, não acham? O "clássico" é apenas um disco muito bom ou um disco que muda toda a forma de se pensar e fazer música? Existem discos excelentes que não tem esse poder de mudança, da mesma forma que ocorre o contrário.. enfim, dito isso darei minha opinião sobre o "Surgical Steel" do Carcass.

    Antes disso porém contextualizarei minha relação com a banda em questão. A primeira vez que ouvi a banda eu tinha quatorze anos e não, não era o maior fã de Death Metal ou estilos extremos do mundo, gostava mesmo (e ainda gosto) de Classic Rock, Heavy Metal e Rock Progressivo. De cara peguei o "Necroticism - Descating the Insalubrious", um disco que, quando ouvi pela primeira vez percebi que algo havia de errado entre mim ou ele. Reconhecia a sua riqueza, suas nuances, entretanto, não conseguia absorver tudo aquilo. Como Borges dizia, alguns livros merecem tempo serem apresentados a seus leitores. Concordo em tudo. Ali não era o nosso momento de encontro, ainda. Dai, peguei "Heartwork", esse sim, já gostei mais.. "Buried Dreams" e "Heartwork" foram canções que me chamaram bastante a atenção. Ouvi o "Swansong" e apenas "Keep On Rotting In The Free World" me chamou a atenção. Os dois primeiros discos da banda eu não cito, pois para minha mente na época eram inconcebíveis como música. Até que...

    Até que esse ano o Carcass lança o novo disco. Quando ouvi "Captive Bolt Pistol" confesso que não dei a devida atenção. Então, por um movimento de curiosidade subita, baixei o disco do Carcass para ver como estava. De cara já fico impressionado. A beleza de "1985" preparando um terreno cheio de nuances e emoções para a entrada de "Thrasher's Abattoir" e do resto do disco que é na minha opinião uma sucessão enorme de pérolas e mais pérolas.

    É um disco sem dúvida muito equilibrado, não acho que exista uma faixa se destaque demais às outras, mas não por falta de qualidade individual, mas a harmonia do grupo é muito forte. Está sim na fronteira de "Necroticism" e "Heartwork", mas apresenta elementos novos. "Mount of Execution" talvez seja o maior exemplo. Carrega elementos que nenhum outro disco do Carcass mostrou até então como a introdução acústica.

    Enfim, o disco conseguiu fazer com que eu me interessasse de novo pela banda, o que resultou numa segunda audição muito mais positiva que o primeiro contato. Agora sim, posso dizer que fui apresentado ao real "Necroticism" (meu disco favorito da banda, hoje), reaprendi a ouvir "Swansong" e "Heartwork". Além de reconhecer a música sublime de "Reek of Putrefaction" e "Symphonies of Sickness".

    Meu veredito? É talvez o álbum do ano, não só pela qualidade mas pelo peso que este carrega frente a discografia da banda. Para mim por exemplo é um disco melhor que "Heartwork", o tão falado clássico. Heresia? Veremos como o teste do tempo responderá à "Surgical Steel". Um disco excelente, do início ao fim, com um enorme potencial para ser tocado ao vivo. Recomendo à todos, inclusive aos não fãs de Death Metal.

    Outros discos fantásticos lançados nesse ano: "13" do Black Sabbath e o pouco falado "The Last Spire" do Cathedral.. mais são outros emboras e para horas outras.

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  2. Discasso; talvez o melhor disco de metal do ano.
    Em uma palavra ; RIFF'S

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