Crítica do livro American Hair Metal, de Steven Blush

Quem viveu, viu os anos 2000 promoverem um ascendente interesse no hard rock made in USA que dominou o mundo na década de 1980. Depois de férias forçadas impostas pela mesma mídia que outrora sustentou, o hair metal, como é frequentemente chamado, voltou com força total, impulsionado, sobretudo, pela cena escandinava. A fórmula do sucesso é antiga e os próprios grupos admitem que, sob vários aspectos, estão somente reproduzindo algo que já foi feito ou, para falar bonito, mostrando que a festa ainda não acabou, apenas fez uma pausa.

A estética do hair metal virou objeto de estudo. O way of life daquela turma que não estava nem aí para o governo Reagan prova que o hard rock oitentista ultrapassou os limites do som, tornando-se algo cultural. Uma nova aba foi aberta na ficha criminal do típico rockstar e as inovações tecnológicas asseguraram que tudo aquilo fosse ouvido em alto e bom som.

Conhecido pela obra American Hardcore, que recentemente virou documentário, Steven Blush se afundou em jornais, revistas e acervos pessoais de fotógrafos para traçar o perfil da cena hair metal estadunidense. Em American Hair Metal (2006), o autor define de maneira enxuta e com notável imparcialidade o movimento que dominou o país do Tio Sam num passado não muito distante. Seu texto é permeado por páginas e mais páginas de fotos e citações daqueles que construíram a cena e a viram ser esmagada pelo grunge com o lançamento de Nevermind, do Nirvana, em 1991. Há quem tome as permeações como excessivas — algumas críticas não pegaram leve no esculacho. Eu vejo isso como uma história sendo contada pelos próprios personagens. Um reconhecimento de firma em cartório.

Para Blush, tudo começou com o New York Dolls e a representação máxima do gênero é o Poison. A banda com mais citações ao longo do livro é o Mötley Crüe — há uma página com mais de dez atribuídas a Nikki Sixx —, mas Cinderella, Warrant e, surpreendentemente, Stryper, também marcam forte presença. Determinadas aspas são de rolar de rir, outras são simplesmente embaraçosas (farei uma compilação com as melhores em breve), mas todas depõem em prol do conceito de sexo, drogas e rock and roll levado às últimas consequências. Um detalhe interessante é o fato de o autor passar batido pelo Guns N' Roses, talvez por considerar o grupo uma exceção, já que seguiu faturando milhões em confronto direto com o grunge, até seu colapso em 1993. Outros aspectos, como a figura da groupie e o fortalecimento da imagem da mulher impulsionado pelo sucesso do Vixen, também fazem parte da mistura.

No terço final do livro, uma mini enciclopédia apresenta o que Blush entende como as principais bandas e inclui line-ups, canções fundamentais e curiosidades que mesmo eu, bom entendedor de hard rock, não fazia ideia. Como toda lista, esta aqui promete dividir opiniões — eu mesmo questionei algumas escolhas. O livro termina com menções honrosas a alguns grupos coadjuvantes e, novamente, as reações estão sujeitas a variação.

Como produto, American Hair Metal conta com um trabalho gráfico de primeira, com 280 páginas totalmente coloridas e capa metalizada. Fica bonito na estante e vale os 22 dólares pagos. Como objeto para pesquisa, a melhor opção ainda é o cada vez mais raro Hollywood Rocks!: The Ultimate Guide to the 1980's Hollywood, California Rock-N-Roll Music Scene, de Simon Toon.

Por Marcelo Vieira

Comentários

  1. Gostei da dica. Eu tenho interesse, mas pouco conheço o Hair Metal.

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  2. Hard Rock que muitos chamam de ''Hard Farofa'' mas eu particularmente gosto bastante, som divertido pra caramba.

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