Red Fang: crítica de Whales and Leeches (2013)


Em atividade desde 2005, o quarteto etílico de Portland precisou apenas de Red Fang (2008) e Murder the Mountains (2011) para colocar o nome da banda em evidência em meio às toneladas de outros grupos de stoner surgidos nos últimos anos. Não coincidentemente, além das composições facilmente memoráveis nestes dois primeiros registros, os vídeos de divulgação das músicas sempre vieram acompanhados de bem vinda dose de humor e despreocupação em um estilo que andava pretendendo soar apenas cada vez mais chapado e/ou sombrio.


Com crescente popularidade graças às turnês ao lado de Metallica, Mastodon e Black Tusk, o Red Fang chega ao seu terceiro trabalho, Whales and Leeches, que foi novamente produzido por Chris Funk (do The Decemberists) e lançado pela Relapse Records, atingiu a 66ª posição da Billboard.


Apesar do início meio espacial, não demora muito até que Maurice Bryan Giles e David Sullivan comecem a despejar os sempre pesadíssimos e massacrantes riffs de “DOEN”, que sempre foram os principais personagens nas músicas do Red Fang, mantendo aquele stoner às margens do hard e do southern, que inicialmente aparenta estar ainda mais sujo e intencionalmente rústico neste novo trabalho. A tendência se mantém na densidade de “Blood Like Cream”, faixa descaradamente com cara de single, e nas trombadas com o blues rock da curtíssima e direta “No Hope”, lembrando ligeiramente uma encarnação mais simples e ao mesmo tempo tão psicótica quanto o Mastodon.


E por falar no quarteto de Atlanta, impossível não notar mais algumas semelhanças em “Crows in Swine”, mesmo com os esporádicos elementos acelerados de punk em certos momentos da faixa. As coisas mudam um pouco de figura apenas em “Voices of the Dead”, lotada de passagens cadenciadas e interessantes mudanças de andamento, e na mistura de stoner e hardcore de “Behind the Light”.


Em seguida, um dos grandes destaques em Whales and Leeches, a epopeia doom de sete minutos em “Dawn Rising” une de forma extremamente natural os mais diversos elementos que de alguma forma influenciam o som do quarteto, desde a arrastada e profunda atmosfera de um Electric Wizard às melodias sabbathicas psicodélicas de um Cathedral, sem deixar de lado as sempre características alternâncias de vozes.


“Failure”, a próxima faixa, é o mais próximo de uma balada que o Red Fang pode atingir, e considerando as extremas proporções, tem um andamento relativamente lento e reflexivo, sem abandonar os ruídos que marcam presença na música anterior. “1516”, por outro lado, se aproxima perigosamente da tênue margem entre o stoner mais agressivo e a letargia com um resultado facilmente descartável, ao contrário da quase motörheadiana “This Animal”. O curto disco fecha com a psicodelia blueseira de “Every Little Twist”, que permite uma série de improvisos e a inclusão de vários efeitos que de alguma forma engrandecem a composição.


Não que Whales and Leeches não tenha grandes músicas e passagens memoráveis, mas a produção cuidadosamente suja e desleixada parece ter tirado um pouco o foco nas estruturas diretas e calcadas naqueles grudentos riffs de guitarra dos álbuns anteriores. Aliado a isso, apesar de o Red Fang parecer buscar inspiração em estilos para tornar tudo mais dinâmico, enaltecendo um pouco mais a influência do hardcore e do blues, bem como uma maior participação dos vocais de Bryan Giles, há um sério problema em como o disco funciona como um todo.


Ao mesmo tempo em que “Blood Like Cream”, “Dawn Rising” e “This Animal” mostram uma banda trabalhando em ultrapassar alguns limites e propensos a tornar a experiência ao mesmo intrigante e agradável, outras soam excessivamente apressadas, como se ainda estivessem em seus estágios embrionários, com o quarteto um pouco mais preguiçoso na criação de melodias que realmente façam a diferença e em faixas que fisgam facilmente a atenção. Os lampejos de criatividade, que faziam os americanos se destacar de forma excepcional parecem estar um pouco mais apagados aqui, com trechos dispersos ainda em busca do equilíbrio, que mesmo ouvidos após algumas vezes, ainda não soam completamente encaixados.


Evidentemente, errados estaríamos se estivéssemos esperando que o Red Fang trouxesse algo de revolucionário (ou até mesmo algo razoavelmente novo) em seus discos, e mesmo a sutil proposta aqui é de boa intenção. Porém, há ainda algo um tanto quanto inconsistente, sem a mesma segurança, que deixam este terceiro trabalho ligeiramente ofuscado pelos álbuns anteriores.


Nota 6,5


Faixas:
01. DOEN
02. Blood Like Cream
03. No Hope
04. Crows In Swine
05. Voices Of The Dead
06. Behind The Light
07. Dawn Rising
08. Failure
09. 1516
10. This Animal
11. Every Little Twist


Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. Achei o último bem superior.
    Mas essa faixa aí de 7 minutos eu gostei bastante: danw rising.

    Acredito neles, sempre.
    Mas acho que é por aí mesmo: 6.5

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  2. A capa é muito melhor que o disco, rsrs, mas, apesar de não ter gostado, esse foi o único que ouvi inteiro dessa banda - superestimada, em minha opinião.

    Tentei algumas coisas dos álbuns anteriores, mas me parece que só os singles/videos são realmente bacanas.

    Quanto à resenha, eu a achei um pouco estranha; até chegar ao antepenúltimo parágrafo, a impressão que o texto passava era de se tratar de aprovação do disco.

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