A ideia é listar, ano após ano, os 15 discos essenciais para entender o gênero. Preparem-se, pois eu pretendo escrever 46 listas (de 1967 a 2013 e, possivelmente, 2014).
Parte 1 - Por que 1967?
Muitos podem argumentar ou perguntar: “Por que começar por 1967?”. É verdade que o rock progressivo da maneira que a maioria de nós conhece começou entre os anos de 1969 e 1970. No entanto, pra tentar entender de onde vieram as bandas e como elas começaram a desenvolver o som que criaram, é bom que comecemos na raiz da questão, e pra mim 1967 é essa raiz.
Parte 2 - Por que então não começar em 1965 ou 1966?
A resposta é simples. Apesar da psicodelia ter começado em meados de 1965 e ter aflorado de verdade em 1966, foi apenas em 1967 que os primeiros “pirados” apareceram e as primeiras ideias realmente avançadas deram seus primeiros frutos. Não só isso: bandas importantes no futuro do rock progressivo lançaram seus primeiros discos nesse ano, como Pink Floyd, The Nice (futuramente ELP), Procol Harum, etc.
1967 não pode ser considerado um ano onde bandas lançaram trabalhos progressivos, mas como eu disse, pra entender o que vem a seguir, esse ano é extremamente importante.
Baseados quase que totalmente na psicodelia, os trabalhos a seguir seriam grandes influências no futuro do gênero.
Parte 3 - O flautista nas portas do amanhecer e outras histórias:
Não seria errado dizer que tudo nasceu com os Beatles. Não que sonoramente Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band seja um disco progressivo, de maneira nenhuma. Mas a música contida nesse álbum é completamente diferente de tudo lançado até então, incluindo a maravilhosa arte do LP que viria a inspirar tantas bandas prog nos próximos anos. Tudo que viria depois desse disco dentro do cenário rock seria influenciado e aumentado em escala industrial. Apesar de Sgt. Pepper’s não ser exatamente um disco conceitual no que diz respeito a contar uma história, havia todo um conceito por trás do LP, e isso incitou ideias ao redor do mundo. O fato de Paul McCartney querer se “esconder” sob o pseudônimo de uma outra banda e tentar criar um disco onde cada música contaria uma parte de uma história acabou gerando zilhões de álbuns desde então. Ainda hoje, Sgt. Pepper’s é surpreendentemente moderno em peças como “Lucy in the Sky with Diamonds” e “A Day in the Life”, por exemplo.
Como diz o ditado: “Quem não gosta de Beatles ,bom sujeito não é!”
Ouça Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band aqui.
O primeiro trabalho da maior banda que o rock progressivo produziu não tem nada a ver com o som que você com certeza conhece de anos mais tarde. A estreia do Pink Floyd foi quase que totalmente concebida pelo Madcap Syd Barrett, mentor e compositor da banda até então. Calcado em loucas e esquisitíssimas músicas e muito ácido, o disco marca o início da alta experimentação dentro do rock com faixas como “Astronomy Domine”, “Pow R. Toc H.” e “Interstellar Overdrive’. Menos de um ano depois do lançamento, Syd tinha comsumido tanto LSD que era incapaz de continuar com a banda de maneira sã e profissional. Então, um novo guitarrista - David Gilmour - foi adicionado, Syd acabou sendo chutado do grupo e um gigante nasceria alguns anos depois.
Ouça The Piper at the Gates of Dawn aqui.
Influenciado pela psicodelia, o Moody Blues deixou de ser a simples banda de rhythm and blues de dois anos antes e começou a compor seriamente. Altamente inspirados pelos Beatles e seu Sgt. Pepper’s, a banda inglesa lançaria em dezembro de 1967 um disco que é tido como um marco para o rock progressivo: Days of Future Passed. Neste disco, o Moody Blues pega a ideia de álbum conceitual e leva ao extremo, contando a história de um dia de trabalho de uma pessoa normal. O LP é apontado como sendo o responsável pelo nascimento do progressivo sinfônico, já que a banda trabalhou com uma orquestra completa em sua gravação. Days of Future Passed rendeu ao Moody Blues o super hit “Nights in White Satin”.
Ouça Days of Future Passed aqui.
A estreia em LP do grupo de Keith Emerson (que mais tarde fundaria o Emerson, Lake & Palmer) é tida como outro marco para o gênero. Apesar de ainda ensopado no rock psicodélico vigente na época, o The Nice trazia novidade para o seu som, como as adaptações clássicas da faixa “Rondo”, fator que alguns anos mais tarde seria altamente utilizado pelo ELP. A título de curiosidade, o título do álbum, especialmente o pseudônimo Emerlist Davjack, foi criado juntando os nomes dos integrantes da banda (Keith Emerson, David O'List, Brian Davison e Lee Jackson).
Ouça The Thoughts of Emerlist Davjack aqui.
O Procol Harum acabou sendo deixado para trás no que costumo chamar de Panteão do Prog Rock. Bandas como King Crimson, Pink Floyd, Genesis e Yes são mencionadas o tempo todo. No entanto, o grupo que acredito ter feito rock progressivo antes de todos acabou não rendendo da mesma maneira. Foi com o single “A Whiter Shade of Pale”, lançado em maio de 1967, que o mundo ouviu algo REALMENTE novo no universo da música. A edição original inglesa não tinha o single, porém a edição americana trazia a canção, que acabou se transformando em um grande hit. No ano seguinte o Procol Harum iria alcançar mais um primeiro lugar, mas isso são detalhes para o próximo artigo.
Ouça Procol Harum aqui.
Frank Zappa raramente precisa de introduções ou apresentações. Toda alma que se preza e que se diz ouvinte de rock obrigatoriamente TEM que conhecer o cara. Não necessariamente gostar, mas TEM que conhecer. O motivo é simples: Zappa foi um desbravador, um lunático, um gênio, um indomável. Fez o que quis e como quis. É exatamente por isso que o segundo disco de sua banda, The Mothers of Invention, se chama Absolutely Free (Absolutamente Livre). O álbum, lançado em maio, foi um dos primeiros a trazer suítes, com cada lado do LP contendo uma música dividida em várias partes.
Ouça Absolutely Free aqui.
Captain Beefheart é da mesma safra que Zappa, até mesmo amigo do mesmo. Logo, é “doidão” também. O líder da banda, que mais tarde – tal como Alice Cooper – acabou adotando o nome do grupo para si próprio, Don Glen Vliet, nunca se acomodou em um só som e fez de tudo: psicodelia, avant garde, blues, jazz, etc. Para justificar a banda nessa lista, as demos originais do álbum foram apresentadas à gravadora na época (A&M) e eles foram demitidos porque o material era “negativo demais”.
Ouça Safe As Milk aqui.
O Love, liderado por Arthur Lee, não teve sucesso comercial na época do lançamento deste disco. A banda também não seguiu um caminho progressivo em álbuns posteriores. No entanto, Forever Changes influenciou muitas cabeças da época, que posteriormente iriam gravar seus próprios trabalhos.
Ouça Forever Changes aqui.
O Cream nunca foi uma banda prog, mas seu segundo álbum vinha recheado de psicodelia e bluee rock. Músicas como “Tales of Brave Ulysses” e “Swlabr” abriam portas para o surrealismo em seus textos, e os músicos (Ginger Baker, Eric Clapton e Jack Bruce) foram influência para grande parte da cena prog, em especial o baixista e vocalista Jack Bruce, que está na lista de influências de Geddy Lee e Chris Squire.
Ouça Disraeli Gears aqui.
Jimi Hendrix, assim como Frank Zappa, não precisa de apresentações no mundo do rock. Axis: Bold As Love entra na minha lista de essenciais (e não o disco de estreia, apesar de ótimo), pois nele Hendrix se mostra como um grande compositor e não apenas como guitarrista. A grande maioria das faixas tem o estúdio como “instrumento” adicional, levando as experimentações sonoras aos mais altos níveis possíveis. O álbum acabou sendo influência para meio mundo.
Ouça Axis: Bold As Love aqui.
Outra banda que, assim como o Cream, apresentava um som 50/50. Metade da música do Jefferson Airplane era altamente psicodélica e inovadora, enquanto a outra metade era carregada de blues rock básico. O fato de ter uma mulher nos vocais fez também que o som da banda fosse diferente dos outros grupos psicodélicos. O álbum anterior, Surrealistic Pillow, havia sido lançado em fevereiro e trazia, entre outras faixas, “White Rabbit”. Essa música abria portas para viagens ao mundo dos livros (no caso, Alice no País das Maravilhas), fato que seria muito usado pelas bandas prog nos anos vindouros. Mas foi em After Bathing At Baxter’s, lançado em dezembro, que a banda foi adiante em seu som. Composto por suítes e faixas mais longas (como os nove minutos de “Spare Chaynge”), After Bathing At Baxter’s foi um trabalho de ruptura para o Jefferson Airplane.
Ouça After Bathing At Baxter’s aqui.
Mr. Fantasy é o álbum de estreia do Traffic. O disco foi o pontapé inicial para a imersão no som mais progressivo que viria em discos posteriores como John Barleycorn Must Die (1970) e The Low Spark of High Heeled Boys (1971). Em tempo: Steve Winwood também gravaria o único álbum do Blind Faith, lançado em 1969.
Ouça Mr. Fantasy aqui .
O Despertador de Morango é uma banda americana que estava completamente imersa na psicodelia e no acid rock já em seu disco de estreia, Incense and Peppermints. O álbum teve um hit número um nas paradas com a faixa-título, o que acabou colocando a banda em maus lençóis quando a mesma resolveu experimentar ainda mais no trabalho seguinte, Wake Up… It’s Tomorrow (1968).
Ouça Incense and Peppermints aqui.
O Red Krayola (às vezes escrito como Red Crayola) foi uma banda norte-americana liderada por Mayo Thompson. O som estava absurdamente à frente do seu tempo, e todo o contexto do disco The Parable of Arable Land é estranho. Por exemplo: entre cada uma das faixas o álbum possui interlúdios chamados de "Free Form Freak-Out". Esses interlúdios foram criados convidando diversos amigos da banda a virem ao estúdio para fazerem o que bem entendessem. Não só isso: cada uma das faixas tem longos e estranhos subtítulos como “Parable of Arable Land (And the End Shall Be Signaled by the Breaking of a Twig)”. Musicalmente falando, o disco estava muito mais para avant garde e Zappa do que para a psicodelia.
Ouça The Parable of Arable Land aqui.
Donovan de maneira alguma fez uma música que chegasse perto do que seria o rock progressivo. Na verdade, ele estava metido no Verão do Amor, e isso acabou refletindo em suas composições. Seu disco de 1967, A Gift From a Flower to a Garden, é uma coleção de músicas em um álbum duplo. O primeiro reflete sua linha musical já conhecida, enquanto o segundo conta com faixas compostas para o público infantil. Donovan entra na lista porque o disco foi um dos primeiros na história do rock a ser lançado em formato box set, fato esse que nos anos 1970 renderia ao rock progressivo todo o material visual extra para complementar o lado musical.
Ouça A Gift From a Flower to a Garden aqui .
Epílogo:
Como disse no começo do texto, o ano de 1967 não tem nenhum lançamento de rock progressivo, pelo menos não do tipo que ficou famoso durante os anos 1970. A intenção aqui foi listar álbuns essenciais para que pudéssemos entender o que viria a seguir. Não concorda? Acha que está faltando alguma coisa? A seção de comentários te espera para que possamos conhecer outras pérolas de 1967 que influenciaram os proggers de plantão!
Por Diego Camargo, do Progshine
Aquele Moody Blues pra mim é o começo de tudo. Parabéns pela coluna e por deter tanto conhecimento!
ResponderExcluirUm adjetivo: fantástico.
ResponderExcluirEducativo e muito legal.
Ow, façam mais disso, por favor.
Que tal um texto falando da relação de Prog (ostentação do som) com Glam (ostentação da imagem), além do punk (fudendo com toda ostentação, mas também sendo o desleixo total da técnica).
Sinto falta desses textos que negociam um movimento ou uma estética com a outra. E elas se relacionam, ora pq se beijam, ora pq se batem, ora pq nem se cruzam. Os 8, 80 e os 40 dessas porra.
Mas muito bom o texto aí.
Só que dá pra tirar mais sumo desse bagaça.
Grande Diego. Mandou benzaço. Esse disco do Moody Blues é lindo demais.
ResponderExcluirWow, clássicos e mais clássicos ai.
ResponderExcluirTraffic, que banda fantástica, grandes discos, grande banda.
O link para ouvir o Incense and Peppermints do Grooveshark se trata de um album coletânea, e não o album original. Segue abaixo o album original:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=m4uC5cN0apI
@BrunoSamppa:
ResponderExcluirValeu cara, acabei acreditando no Grooveshark e dei o link errado. :)
@Todo mundo:
Valeu mesmo pessoal! Agora fica a pergunta: Qual ano vcs vao ficar esperando? :)
Abraco
Link corrigido, Bruno. Obrigado.
ResponderExcluirAlguns links continuam quebrados, Ricardo.
ResponderExcluirMassa o trampo, Diego! Obrigado por nos presentear com a idéia.
Por sinal, os brothers do consultoriadorock.com têm uma coluna que já deve ser de conhecimento da galera, os MELHORES DE TODOS OS TEMPOS, que é bastante inspiradora tb.
Evidentemente, o foco não é exclusivo no rock progressivo, mas pra quem gosta de listas e mais listas (caso deste que escreve a vós), é também um prato cheio.
Confiram lá tb os melhores de 67, segundo os consultores:
http://consultoriadorock.com/2013/07/13/melhores-de-todos-os-tempos-1967/
abç
@Ricardo Seelig:
ResponderExcluirDays Of Future Passed quebrado, correto:
A8http://www.youtube.com/watch?v=2y_9hwW1eV0
The Nice:
http://grooveshark.com/#!/album/The+Thoughts+Of+Emerlist+Davjack/6294524
Procol Harum:
http://grooveshark.com/#!/album/A+Whiter+Shade+Of+Pale/372750
Zappa:
http://progrockaudioarchive.blogspot.com/2013/11/frank-zappa-absolutely-free-1967.html
Love:
http://grooveshark.com/#!/album/Love+Forever+Changes/1030777
Jefferson Airplane: http://grooveshark.com/#!/album/After+Bathing+At+Baxter+s/268565
:)
Red Krayola é definitivamente um que preciso procurar e conhecer.
ResponderExcluirDo restante da lista, Procol Harum e Love são discos mais do que excelentes, muito legal a presença deles na lista.
Compilação de quase cinco décadas atrás, e ainda descobrimos grandes álbuns.
Qual a diferença entre o prog rock e esses álbuns apresentados? Pois ouvindo Dream Theater, Rush, Camel, King Crimson, parece que é outro som.
ResponderExcluir"A Whiter Shade of Pale" é uma canção que eu colocaria fácil numa lista de mais bonitas de todos os tempos.
ResponderExcluirParabéns pela coluna, o rock progressivo, apesar de simpatizar, é um pouco obscuro para mim. Vou aproveitar para abrir meus horizontes musicais.
ResponderExcluirAcredito ser interessante mais colunas desse tipo, parabéns.
@Julian Romero:
ResponderExcluirO Rock Progressivo é absurdamente abrangente.
Só pra te dar um exemplo, as 4 bandas que vc citou (Dream Theater, Rush, Camel, King Crimson) sao completamente diferentes entre si.
Dream Theater = Metal Progressivo
Rush = Heavy Prog (ou Hard Prog)
Camel = Sinfônico
King Crimson = Eclético
O Rock Progressivo dificilmente é entendido comparando bandas :)
Assim como a musica, esse assunto é BEM complexo :)
Ah, entendi. Eu sabia que DT é prog metal, sendo comparado com bandas tipo Symphony X e Queenrysche, apenas a colocarei como exemplo porque há MUITAS semelhanças entre ela e Rush, por exemplo.
ResponderExcluirMas prog parece ser tão diferente de psicodélico, ainda não consegui perceber nenhuma relação entre.
@Julian Romero:
ResponderExcluirJulian, Psicodelia em nada tem a ver com o Rock Progressivo em temos de sonoridade.
MAS, se voce der uma olhada nas bandas que eu postei, no meu texto e na historia do Rock Progressivo, vai ver que TODAS as bandas de Rock Progressivo do final dos anos 60 e comecinho dos 70 VIERAM da Psicodelia :)
Basicamente o Prog Rock [e uma extensáo natural da Psicodelia :)
Espetacular essa matéria. Já espero ansioso por outras mais.
ResponderExcluirSobre o ano esperado, o meu é 1972! Vai ser bem legal ler sobre os discos desse ano.
@Alipio:
ResponderExcluir1968 ja esta no forno! :)
72 vai ter MUITO disco foda! Mas confesso que meu favorito é 73 rs