Skindred: crítica de Kill the Power (2014)

Surgido das cinzas do Dub War (e sua inventiva mistura de hard rock com punk e reggae), que sofreu durante anos com a falta de compromisso da Earache Records, o Skindred foi o novo projeto iniciado pelo vocalista Benji Webbe, no ano de 1998. Com uma formação totalmente reformulada, e basicamente atualizando a mesma proposta musical, o grupo do País de Gales atingiu sucesso mais do que considerável nos Estados Unidos, entrando na mesma onda da popularização do nu metal com os seus discos Babylon (2002) e Roots Rock Riot (2007), rendendo turnês ao lado de alguns dos maiores grupos do estilo na época.


Após o lançamento de Shark Bites and Dog Fights, em 2009, e Union Black, em 2011, é notável que o Skindred não apenas se recusa a permanecer limitado às combinações já feitas, como vem aprimorando o auto-proclamado ragga metal a cada novo trabalho. E isso se prova mais uma vez verdadeiro em Kill The Power, seu quinto álbum de estúdio, produzido por James Loughrey e lançado no dia 27 de janeiro pela BMG, com temas líricos totalmente condizentes com a situação atual do mundo.


Se os elementos de dubstep apareciam de forma tímida no agressivo disco anterior, a faixa título já mostra que os galeses decidiram trazê-los de uma vez por todas para a linha de frente, acrescentando muito ao groove e a quebradeira de riffs que remetem aos bons momentos do Disturbed. "Ruling Force" continua o processo de eletronificação, levando o som para um lado bem mais direto (com direito até a um breakdown), enquanto "Playing with the Devil" é uma balada que alterna entre hip-hop, reggae e exageros artificiais notavelmente semelhantes a trechos de "Chaos Lives in Everything", do Korn.


"Worlds on Fire", por outro lado, faz justiça ao termo ragga metal, resgatando completamente o Skindred de outrora e aquilo que havia sido deixado ligeiramente de lado nos trabalhos mais recentes. Podemos dizer isto também da funkeada e pesadíssima "Ninja" e do punk rock de suas raízes na simplicidade de "The Kids Are Right Now", que mesmo não fugindo dos padrões consegue prender pela eficiente melodia e as bem sacadas inserções de efeitos.


Em seguida, "We Live" carrega um sentimento típico das baladas do hard rock oitentista, que mesmo misturado a fórmula com o reggae, ainda deixa um rastro do cheiro de farofa no ar, dissipado apenas nas passagens cadenciadas puramente nu metal de "Open Eyed" (com participação da cantora inglesa Jenna G) e o seu ligeiro tom de mashup. "Dollars and Dimes" apresenta um inteligente trabalho de percussão, aonde os ritmos criados por Arya Goggin funcionam sozinhos ao lado da voz de Webbe, deixando espaço apenas para que a guitarra e o baixo incluam pequenos, mas importantes detalhes (imagine um groove funkeado a la Red Hot Chili Peppers com o som característico deles, e é aproximadamente o que você encontrará aqui).


Estranhamente parecida com a trilha sonora dos filmes adolescentes americanos, e não à toa, a ska punk "Saturday" parece saída diretamente de alguma praia ensolarada dos anos noventa para grudar durante dias em sua mente. Praticamente a antítese animada de "Proceed with Caution", com riffs que lembram "Are You Dead Yet?" (do Children of Bodom – sim, isso mesmo) manifestados na sonoridade semelhante ao já feito pelo Ill Niño em seus primórdios. "More Fire", como era de se esperar, é uma típica balada prioritariamente acústica e composta para um luau, mas acompanhada de um fundo 8-bits, encerrando perfeitamente toda a atmosfera criada pelo álbum.


Afinal de contas, Kill the Power não é apenas o receptáculo contendo uma série de mensagens positivas e motivadoras, mas sim uma banda transparecendo as suas mais variadas influências em um disco tão dinâmico que pode passar a impressão de estar ligeiramente perdido em certos momentos. Isso não poderia estar mais equivocado.


Benji Webbe, Daniel Pugsley, Mikey Demus e Arya Goggin são completamente seguros ao trabalhar com vertentes que podem ser complementares, assim como propor combinações de maneiras que ainda não haviam sido testadas, de forma que o disco parece ser um extenso laboratório dirigido por uma banda sem o menor receio de fazer novas tentativas e aprimorar ainda mais a sua sonoridade.


Ao encerrar o trabalho, temos uma coleção de faixas que é, de fato, bem mais melódica e “acessível” ao público não familiarizado com o som da banda, mas que também não deixa de lado o que já foi feito em cada um dos discos anteriores (pelo contrário, usa muito bem o que foi adquirido). O sentimento de inocência e esperança artística do início dá lugar à experiência e a luta criativa pelo seu espaço de uma vez por todas, e Kill the Power é o levante e a demonstração definitiva de que o Skindred merece um reconhecimento muito maior do que já tem. Muito maior.


Nota 8,5


Faixas:
1 Kill The Power
2 Ruling Force
3 Playing With The Devil
4 Worlds On Fire
5 Ninja
6 The Kids Are Right Now
7 We Live
8 Open Eyed
9 Dollars and Dimes
10 Saturday
11 Proceed With Caution
12 More Fire


Por Rodrigo Carvalho

Comentários

  1. Acho essa banda bacana. Chamo-a de metal de maconheiro, e é claro ninguém deverá discordar de mim. Baixei esse disco novo, gostei muito da primeira faixa mas, por preguiça, não passei dela rs.

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  2. olha, não me leve a mal. mas essa banda é muito fraquinha. a idéia de misturar metal com ragga é boa, mas o problema é que eles não compõem lá muito bem.

    melodias muito genéricas, riffzinhos manjados....

    mesmo que o sublime não tenha puxado o som pro lado do metal, consegue ser mais intenso que eles.

    tem uns refrões muito ruins msm esse álbum.

    pra não dizer que tô de má-vontade, curti mto a segunda música, ruling force

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