Crítica do livro Crazy Diamond: Syd Barrett e o Surgimento do Pink Floyd


Apesar de suas seis décadas de existência, Syd Barrett, cujo nome de batismo era Roger Keith Barrett - viveu pouco. É essa a impressão que temos ao ler a biografia Crazy Diamond: Syd Barrett e o Surgimento do Pink Floyd. O vocalista, guitarrista, fundador e principal compositor da lendária banda inglesa de rock progressivo em seus primórdios entrou em colapso mental muito jovem, logo após o lançamento de seu disco de estreia, o seminal The Piper at the Gates of Dawn (1967), fato esse que levou o grupo a substituí-lo pelo seu grande amigo David Gilmour. Desde então, sua criação musical se resumiu a algumas poucas composições do segundo disco da banda, A Saucerful of Secrets (1968) e a gravação de dois álbuns solo de pouca relevância, The Madcap Laughs e Barrett, ambos lançados em 1970.


A biografia é fruto de sete anos de pesquisa dos jornalistas Mike Watkinson e Pete Anderson a partir de 1984, movidos pela curiosidade em saber por onde e o que Barrett estava fazendo após sua precoce aposentadoria musical. O livro foi editado e lançado em 1991 e é apresentado aqui em uma edição atualizada e complementada com detalhes da vida de Syd até o seu falecimento, em  2006. Inexplicavelmente, só foi lançado em 2013 no Brasil através da Sonora Editora.

Em Crazy Diamond os autores buscam, através de depoimentos de amigos e pessoas próximas ao Madcap – apelido pelo qual era conhecido – buscar explicações para o fim prematuro de sua carreira musical, e ajudam a revelar que os seus problemas mentais já vinham em evolução desde sua infância e adolescência, e foram agravados pelo uso excessivo de LSD. Sua trajetória é contada em detalhes e são apresentadas informações interessantes acerca da formação do Pink Floyd, bem como a influência direta de Syd em letras de no mínimo três álbuns da banda lançados após ser dispensado: The Dark Side of the Moon (1974), Wish You Were Here (1975) – aqui é contado em detalhes a aparição surpresa de um Barrett totalmente irreconhecível no estúdio Abbey Road durante as gravações do mesmo – e The Wall (1979). Watkinson e Anderson mostram o quanto a sombra do legado de seu fundador incomodava os membros remanescentes, principalmente o autoritário Roger Waters e David Gilmour, que sentiu certo desconforto em substituir seu amigo na banda, assim como tentam explicar a distância mantida por eles após a expulsão de Syd, confundida por muitos como abandono ao músico em virtude de sua insanidade mental. Todos os passos de Barrett são desvendados, como sua reclusão na residência de sua mãe e sua ocupação com a pintura de quadros, sua dedicação às artes plásticas e sua opção em se ausentar completamente da mídia e não conceder entrevistas até sua morte em decorrência de complicações causadas pelo diabetes, em 2006.

Apesar de conter alguns erros ortográficos, que com certeza serão corrigidos em uma revisão mais apurada para uma segunda edição, o livro não perde em qualidade. Ele apresenta também imagens em preto e branco e em ordem cronológica do músico e de sua infância, passando pela origem do Floyd e mostrando sua transformação de ídolo do então efervescente cenário underground do rock progressivo em um senhor calvo, obeso e comum, longe de ser aquele jovem de fisionomia marcante de meados dos anos 1960. Contando com pouco mais de 200 páginas, este livro é tão curto quanto a carreira de Syd Barrett, o que não impede aos fãs do Pink Floyd de conhecer em detalhes a trajetória deste visionário, tido por muitos como um gênio e que foi um dos mais representativos ícones decadentes da história da música, mas faleceu sozinho e como status homem comum que preferiu esquecer o próprio legado musical.

Por Tiago Neves

Comentários

  1. Grande Syd, mais um gênio atormentado. Muito bom o texto, só acho que o pouca relevancia foi para a EMI, hahahaha.

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  2. Terminei o livro nesse final de semana. Gostei do livro, mas me senti um pouco angustiado com a história toda.
    Apesar de respeitar muito a história desse gigante do rock, vemos que se criou um mito que as vezes nem ele compreendia, isso não tira o seu valor e importância, mas tudo parecia muito exagerado. Mas ele certamente teve momentos brilhantes, como a composição de Arnold Layne, um tanto corajosa pra época.
    No geral, aprendi a gostar ainda mais de Syd; também ví bastante erro ortográfico.
    A história do Pink Floyd, mesmo pós Syd, é muito instigante.

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  3. Cenário underground do rock psicodélico. Progressivo estava longe ainda em 66..

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