Red Dragon Cartel: crítica de Red Dragon Cartel (2014)

Jakey Lou Williams, mais conhecido no mundo da música como o guitarrista Jake E. Lee, é um cara de sorte. Após deixar a banda Mickey Ratt, que futuramente viria a se tornar mundialmente famosa sem o seu primeiro nome, e uma breve passagem pela banda solo de Ronnie James Dio em 1982, veio a alcançar o estrelato mundial no ano seguinte após o convite de Ozzy Osbourne para a difícil tarefa de substituir o lendário e falecido guitarrista Randy Rhoads. Sob a desconfiança dos fãs do Madman, gravou dois bons discos – Bark at the Moon (1983) e o multiplatinado The Ultimate Sin (1986) – alcançando reconhecimento mundial por sua técnica apurada e virtuosismo empunhando sua guitarra Charvel, marca da qual sempre foi endorsee.

Após divergências com o “patrão”, causadas pelo excesso de uso de entorpecentes por Ozzy, Jake deixou a banda ao final da bem sucedida turnê, em 1987. Dois anos depois fundou o Badlands, um supergrupo formado por Ray Gillen no vocal (Black Sabbath), o baterista Eric Singer (Black Sabbath, Kiss, Alice Cooper, Lita Ford) e o baixista Greg Chaisson. Com essa formação, alcançou o topo da Billboard com seu auto-intilulado disco de estreia. Com a morte de Gillen, em 1993, que culminou no fim da banda, Lee passou os últimos vinte anos de sua carreira no ostracismo, gravando álbuns solo e tributos de pouca relevância, e tendo como último trabalho de estúdio o fraco disco de covers Retraced, de 2005.

Para a surpresa de todos, o guitarrista anunciou em 2013 que estava ensaiando e gravando um novo álbum com uma nova banda, que se chamaria Red Dragon Cartel, nome dado em homenagem às raízes orientais de Lee. Após uma série de shows no final de 2013, onde foi muito questionada a performance do vocalista Darren “DJ” Smith, a banda, que conta também com o baixista Ronnie Mancuso e o baterista Jonas Fairley, lançou o seu disco de estreia em 27 de janeiro pela Frontiers Records. Com uma banda formada por tantos nomes desconhecidos, o guitarrista optou por contar com vários convidados de peso. Participam do “cartel” de Lee nomes como Rex Brown (Pantera, Kill Devil Hill), Robin Zander (Cheap Trick), Paul Di’Anno (Iron Maiden), Maria Brink (In This Moment), Todd Kearns e Brent Fitz (Slash), e Sass Jordan, que ajudam a fortalecer e dar mais visibilidade ao primeiro trabalho da banda, que conta com a produção do próprio Jake E. Lee, Ronnie Mancuso e Kevin Churko (Ozzy Osbourne, Five Finger Death Punch e In This Moment).

O disco começa com a incendiária “Decieved”, trazendo riffs que remetem diretamente ao maior sucesso do guitarrista com Ozzy - “Bark at the Moon” – e já mostra de cara uma banda afiada e coesa, fazendo um hard rock atual, com toda a técnica virtuosa que Jake E. Lee sempre possuiu. Em seguida, a cadenciada “Shot It Out” apresenta linhas de baixo marcantes e traz uma característica que virá a aparecer em vários momentos ao longo das dez músicas do disco – o flerte com a música industrial –, o que traz modernidade ao trabalho e mostra que o guitarrista não parou no tempo. O ápice dessa aproximação com estilos mais atuais se encontra logo em seguida em “Feeder”, com a participação de Robin Zander, do Cheap Trick, nos vocais.

A balada “Fail From the Sky (Seagull)” acalma os ânimos e apresenta um excelente trabalho vocal de DJ Smith, que aqui canta com emoção e torna essa uma das melhores canções do álbum, com um solo cheio de feeling de Lee. Logo em seguida, o peso retoma seu lugar com o divertido hardão “Wasted”, que conta com a participação do ex-Iron Maiden, Paul Di’Anno, com seus característicos vocais rasgados que nem de longe lembram os tempos como frontman da donzela. A pesada “Slave” começa com uma sombria e climática introdução que precede o riff veloz de Jake E. Lee que a torna empolgante, culminando num refrão explosivo que nos leva a cantar bem alto junto com Smith. Logo em seguida vêm a arrastada “Big Mouth”, com a participação de Maria Brink, da banda de metalcore estadunidense In This Moment. Apesar de esbanjar sensualidade e performance em seus vocais, a música é totalmente dispensável e destoa de todo o restante do disco. “War Machine” é uma canção que remete diretamente à sonoridade do Alice in Chains, tanto pelos riffs de Lee quanto pelos vocais de DJ Smith. “Redeem Me”, mais uma balada, desta vez com a participação dos vocais vigorosos de Sass Jordan, precede “Exquisite Tenderness”, uma suíte de piano tocada por Lee, que encerra o disco de uma forma melancólica, nos fazendo imaginar quais serão os próximos passos desta nova e promissora banda.

O press release no site oficial do grupo afirma que Red Dragon Cartel, o disco, é um dos melhores álbuns de hard rock de todos os tempos. Obviamente não chega a tanto, pelo contrário, passa longe disso. É sim um bom lançamento, porém o disco alterna qualidade em vários momentos ao longo de seus 45 minutos de duração, talvez mais por conta de alguns convidados do que pela banda em si. Mas mesmo assim, para mim, como fã de sua carreira e de seus discos lançados com Ozzy Osbourne e Badlands, é muito bom ver Jake E. Lee de volta à cena com um bom debut, e espero que seja apenas o primeiro de vários álbuns de uma banda que tem tudo para se estabelecer e ganhar força como um dos grandes nomes do hard rock atual.

Nota 7

Faixas:
1 Deceived
2 Shout It Out
3 Feeder
4 Fall from the Sky (Seagull)
5 Wasted
6 Slave
7 Big Mouth
8 War Machine
9 Redeem Me
10 Exquisite Tenderness

Por Tiago Neves

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