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A atual turnê, que celebra os 40 anos de Fly to the Rainbow — segundo álbum do Scorpions e primeiro com Roth na guitarra — desembarcou na Cidade Maravilhosa na última terça-feira para única apresentação no palco do Teatro Rival Petrobras, casa que cada vez mais se estabelece como primeira opção para os produtores locais de shows de pequeno e médio porte. Em meio aos quase 200 presentes, era possível contar nos dedos as mulheres e as pessoas que aparentavam ter menos de 50 anos. Havia também um ou outro que pela maneira que assistiam aquilo tudo, deviam estar se perguntando que horas rolaria “Rock You Like A Hurricane”.
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Estava na descrição do evento: Uli Jon Roth plays Scorpions. Capisce. Como explicar para o cidadão que só conhece a banda a partir das trilhas sonoras de novelas dos anos 1990 que as músicas que marcaram a sua vida não seriam tocadas — por razões óbvias — naquela noite? Meia dúzia deve ter saído com a sensação de ter jogado o dinheiro fora. E mesmo quem curte a fase setentista do Scorpions deve ter se surpreendido com a abordagem acid rock que Roth conferiu a canções como “Dark Lady”, na qual inseriu um improviso de quase 10 minutos. E não foi só nessa.
— Ainda bem que ele saiu do Scorpions — disse um amigo, perplexo diante do que seria a banda caso Roth tivesse continuado nas seis cordas. Não dá para comparar o Scorpions dos anos 1980 em diante, dos refrões ganchudos feitos sob medida para arenas lotadas com o que Uli considerava o direcionamento correto a seguir. E achismos à parte, foi após a saída do guitarrista que o Scorpions lançou os seus melhores trabalhos e despontou para o estrelato mundial. A Roth, se faltaram os milhões de dólares e discos multiplatinados, veio o status perante a ala mais conservadora e caras como Yngwie Malmsteen apontando-o entre as suas principais influências.
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No palco, é como se estivesse prestes a levitar. Vestido como uma divindade hippie trazida diretamente do pós-Woodstock, esmerilha sua Sky Guitar com leveza e elegância. Toca fácil, o Roth. Dá inveja. Sua banda também não é nada mal, sobretudo o seu vocalista e também guitarrista, com timbre meio Michael Sweet (Stryper) e gogó de sobra para se arriscar nos agudos mais ousados que Klaus Meine já registrou. A crítica fica para o som saturado que projetava o teclado em primeiríssimo plano, engolindo os demais instrumentos e as vozes.
Havia também grande expectativa com relação ao repertório, já que a fase do Scorpions em questão conta com uma porção de hits em menor escala — “Speedy's Coming”, “Virgin Killer”, “He's a Woman, She's a Man”, “Steamrock Fever”... todas essas ficaram de fora. Em compensação, marcaram presença “Catch Your Train”, “Fly to the Rainbow”, “Top of the Bill” e “In Trance”, envolta em belíssimo jogo de luzes alaranjadas. E, claro, não faltou “Pictured Life”. Teve até tiozão subindo em cadeira!
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Um grande momento da apresentação foi a hexafônica “The Sails of Charon”; uma peça admirável, milimetricamente construída sobre intervalos de tons inteiros, desafiando o óbvio da teoria musical. “We'll Burn the Sky” veio na sequência, carregada de emoção. Para quem não sabe, a música originou-se a partir de um poema homônimo escrito por Monika Dannemann, a última namorada de Jimi Hendrix, em homenagem ao então recém-falecido músico. Com um background desses, somado a uma resposta tão positiva do público no coro e nas palmas, o resultado não poderia ser outro.
Falando em Hendrix, o bis consistiu num verdadeiro tributo ao reinventor da guitarra, com “All Along the Watchtower” — o próprio Bob Dylan reconhece que esta canção pertence a Jimi, ok?! — e um medley com “If 6 Was 9” e “Little Wing”. A saideira foi gélida, com a instrumental “Atlantis”. Não rolou agradecimento, não deu tempo de tirar foto. O último toque no aro foi a deixa para Uli e os outros virarem as costas rumo a escuridão dos bastidores.
Uli Jon Roth e sua banda seguem para São Paulo, onde se apresentam no próximo dia 29.
Por Marcelo Vieira
Fotos: Daniel Croce
Curto mais o Scorpions desta fase
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