Veredito Collectors Room: Mastodon - Once More ‘Round the Sun (2014)

O Veredito Collectors Room traz a equipe do site analisando, de forma conjunta, aquele que julgamos ter sido o lançamento mais importante do mês anterior. E em junho, a escolha não poderia ser outra. Once More ‘Round the Sun, sexto disco da banda norte-americana Mastodon, chegou às lojas no último dia 24/06 e vem arrancando elogios mundo afora.

Guilherme Gonçalves colocou o disco para rodar a todo volume em Goiânia. Marcelo Vieira fez o mesmo no Rio de Janeiro. Em Belo Horizonte, Tiago Neves sangrou seus ouvidos com o quarteto. Seu quase homônimo, Thiago Cardim, caminhou por São Paulo tendo Once More ‘Round the Sun como trilha constante. Nosso viking oriental Rodrigo Carvalho deixou Sorocaba em chamas com o álbum. E em Florianópolis, Ricardo Seelig convenceu vizinhos, colegas de trabalho e quem mais encontrasse pela frente a ouvir o disco.

Tudo isso fez gerar os textos abaixo. Leia o que achamos de Once More ‘Round the Sun e, claro, conte pra gente a sua opinião sobre o álbum nos comentários.


O Mastodon jamais me fisgou. Não é uma banda que me atrai e poucas vezes foi contemplada com minha atenção voltada para algum de seus discos. Nada disso, porém, impede que eu admita ser o quarteto norte-americano um dos fenômenos mais relevantes dentro do universo do heavy metal há pelo menos dez anos. Para o bem e para o mal. Ainda que não tenha tanto conhecimento de causa para avaliar Once More 'Round the Sun, sexto e mais novo álbum de estúdio, é elementar situá-lo na discografia do grupo. Esqueça o caos e a complexidade de Remission (2002), bem como a grandiosidade de Leviathan (2004) - os dois que, talvez, eu mais tenha tido contado. Imagine uma continuação natural de The Hunter (2011), mas com doses ainda maiores de melodia e de diálogo com o mainstream. Até então, o Mastodon nunca tivera tantas canções com potencial para se tornarem hits como neste trabalho. Quem aprecia as primeiras empreitadas da banda, pode se queixar da redução do viés mais obscuro e subterrâneo. Quem se amarra em músicas mais retas, palatáveis e grudentas, vai aprovar. Como não tenho apego a nenhuma dessas duas faces específicas do Mastodon, ouvi sem qualquer expectativa e confesso ter gostado bastante de algumas coisas, embora ainda discorde de outras tantas. A trinca "Tread Lightly", "The Motherload" e "High Road” funciona muito bem. A faixa-título é como se Ozzy Osbourne tivesse montado uma banda grunge - e acertado em cheio, por mais estranho que pareça. "Chimes at Midnight", "Asleep in the Deep" e "Ember City" também são legais. Ouvirei o álbum mais vezes. Ainda que não consiga me livrar da sensação de que o Baroness faz basicamente o mesmo, só que infinitamente melhor. Nota 7 (Guilherme Gonçalves)

Nenhum disco começa a ganhar vida com pretensão de se tornar um clássico. Mas o que faz um disco se tornar um clássico? Contexto, nível de experimentação, bom uso de inovações tecnológicas; as transformações pessoais do artista ou grupo e subsequente canalização de diferentes sensações em música; o meio-termo entre obedecer às lógicas da indústria fonográfica e nadar contra a corrente. Once More 'Round the Sun tem tudo isso e mais um pouco. Aqui, o Mastodon confirma que seu ciclo criativo é tão calculado quanto imprevisível e propõe uma experiência sonora que transcende rótulos e sobreviverá ao implacável teste do tempo. Temos não apenas o melhor disco do ano, mas também a música do ano até agora: "The Motherload". Nota 10 (Marcelo Vieira)

Realmente é difícil, muito difícil, definir em palavras as sensações que o mais recente disco de inéditas do Mastodon, Once More ‘Round the Sun, causou e vêm causando até hoje sobre minha pessoa. E o hype em torno da banda não é de maneira alguma exacerbado. Desde a magnífica arte da capa, passando pela introdução acústica de “Tread Lightly” até a última canção (ironicamente começando com violões também) “Diamond in the Witch House”, esse quarteto norte americano vêm rompendo com todo e qualquer limite e/ou tentativa de denominação de seu estilo, se é que eles ainda podem se enquadrar em algum pré estabelecido. É metal acima de tudo, mas também é acessível em alguns momentos. E sempre, em todas as suas 11 faixas, soando perfeitamente bem aos nossos ouvidos, com nuances e climas que transcendem ao que conhecemos e definimos popularmente como “boa música”. Até mesmo com os refrães a lá Avenged Sevenfold contidos na lição de auto-ajuda (ou seria uma mensagem de algum ser de outro plano espiritual propondo libertação do sofrimento terreno?) em formato de música na empolgante “The Motherload” mostram que a banda, apesar de apresentar poucas diferenças entre este trabalho e The Hunter, seu disco anterior, consegue tornar e fazer tudo parecer parte de uma unidade coesa, as vezes sombria, e as vezes melódica. Os solos de guitarra parecem mais presentes também, o que só vem a tornar mais prazerosa a audição para um apreciador dessa arte, como eu. Destaque também para as melodias vocais contidas em todo o trabalho, em especial na atmosfera intergaláctica de “Asleep in the Deep”. A verdade é que, tal qual um corpo celeste atraído pela lei da gravidade, eu não consigo parar de ouvir esse disco desde que o descobri, e já o coloco facilmente no meu top 10 do ano, com louvor! E dificilmente alguém os supera no restante deste período. Os Mastodontes atropelam mais uma vez, sem dó nem piedade! Nota 9,5 (Tiago Neves)

Vamos aproveitar este clima de Copa do Mundo, que está contagiando até os mais céticos e inclusive os norte-americanos, geralmente desinteressados pelo esporte bretão, e fazer um exercício inverso? Afinal, os EUA estão passando a entender o que o mundo inteiro acha de legal neste futebol jogado com os pés. Então, que acha você de largar mão deste preconceito besta e entender que, tudo bem, a Europa tem muita banda boa, aquelas mesmas que você ouve há anos - mas o metal que está sendo feito por uma trupe de bandas nos EUA não é apenas excelente. Tem gosto de novo, tem gosto de experimentação, de quem sacode a poeira e não se satisfaz em fazer mais do que mesmo. Em resumo: fora do comum. Merece ser ouvido. É um saco ter que ficar repetindo isso insistentemente há anos, confesso. Para derrubar as suas resistências e te fazer ampliar os horizontes, pode ser que o novo disco dos sulistas do Mastodon seja um bom ponto de partida. Once More 'Round the Sun é, como tem sido padrão nos lançamentos dos caras, surpreendente. Dialoga com The Hunter, explorando melodias mais acessíveis, bebendo na fonte do rock dos anos 70, em especial da sua cena hard rock, mas sem soar nostálgico e babaca. É rock alucinado e viajandão, mas também pesado e vigoroso. O riff de  "Chimes at Midnight" por exemplo, entra fácil entre os melhores do ano. "The Motherload" chega até a flertar com o rock progressivo, mas o resultado está longe de ser matemática - é puro feeling. Para encerrar, vem "Diamond in the Witch House", que tem gosto de jam session entre amigos, tocando despretensiosamente na garagem, enquanto tomam uma breja e fumam tudo que vêem pela frente. Se sempre achei isso, este álbum me dá a impressão ainda mais nítida de que a definição faz sentido: o Mastodon é uma espécie de "o que aconteceria se o Queens of the Stone Age resolvesse tocar pesado de verdade". Nota 9 (Thiago Cardim)

O Mastodon em si é um evento no curso da história do heavy metal. Em quinze anos de atividade, os mendigos de Atlanta lançaram cinco obras praticamente intocáveis (ou há algo a ser mudado em Crack the Skye?), entregaram várias composições que podem se tornar clássicas em um futuro próximo (“Blood and Thunder” é uma das melhores introduções de álbum do milênio) e sempre buscando algo a mais, uma noção de experimentações musicais acima da média que torna cada um de seus discos singular. Once More ‘Round the Sun não foge a regra. O grupo revisita sob um novo ponto de vista toda a sua trajetória, com maturidade condizente a uma das maiores bandas de metal em atividade, ainda inserindo alguns interessantes elementos, relativamente previsíveis, ao mesmo tempo em que é atrapalhada por uma produção excessivamente incômoda. Isso não diminui a qualidade das composições, mas sim, em muito, a experiência do álbum em si. Evidentemente um excelente trabalho, mas é um buraco negro de potência ligeiramente inferior em relação aos quais já fomos absorvidos anteriormente. A primeira translação se encerra aqui, e só podemos aguardar para que a próxima seja tão desafiadora e explorável quanto esta. Nota 8 (Rodrigo Carvalho)

Idolatrado há anos pela crítica e pelos ouvintes mais atentos de heavy metal, o Mastodon decidiu que agora quer ser conhecido definitivamente pelo grande público. Para alcançar esse objetivo, gravou um disco muito mais acessível que seus registros anteriores, mas com um diferencial importantíssimo e essencial: tão bom quanto. Em comparação ao que você conhece ou já ouviu da banda, Once More ‘Round the Sun traz uma quantidade muito maior de melodias e vocais que se alternam de maneira constante entre o guitarrista Brent Hinds, o baixista Troy Sanders e o baterista Brann Dailor. O resultado é um conjunto de canções forte e com apelo imediato. Faixas como a sensacional “The Motherload” (uma ignorância, um arregaço, uma iluminação e tudo mais), “High Road”, “Tread Lightly”, “Asleep in the Deep” e “Aunt Lisa” proporcionam uma audição cheia de prazer e com direito a vários arrepios pelo caminho. De modo geral, Once More ‘Round the Sun é aquele tipo de disco que agrada desde fãs de música pesada até ouvintes que não estão inseridos na realidade do estilo - e isso, é bom frisar, é um elogio gigantesco e uma qualidade cada vez mais rara. Sempre que penso no Mastodon, no que a banda representa e no que ela proporciona com seus álbuns, o Led Zeppelin me vem à mente. A similaridade entre as duas bandas se dá por um fator chave: a imprevisibilidade e a capacidade de sempre surpreender, explorando os mais diversos elementos e sempre alcançando ótimos resultados. O Mastodon está fazendo história. A cada passo. A cada dia. A cada disco. E é sensacional estar presenciando tudo isso. Nota 9 (Ricardo Seelig)

Nosso veredito é 8,75

Equipe Collectors Room

Comentários

  1. Em questão de comparações com outras bandas, eu prefiro comparar o Mastodon com o Rush e este novo álbum é o Moving Pictures deles.

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  2. Sobre o comentário do Guilherme Gonçalves minha impressão é contrária, quanto mais eu ouço o Mastodon fico sempre achando que o Baroness tenta chegar no nível deles e nunca consegue.

    Eu acho o Mastodon imprevisível cada trabalho deles é único, mas ali no meio você sabe que eles estão inovando e sendo fiéis ao mesmo tempo.

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  3. "Ainda que não consiga me livrar da sensação de que o Baroness faz basicamente o mesmo, só que infinitamente melhor."

    Amo o Mastodon, mas tenho a mesma sensação do Guilherme.

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  4. Faço das palavras do Guilherme as minhas palavras. Não tenho cacife para dizer porque o Mastodon está revolucionando o mundo da música, pois não sigo a carreira da banda de perto, justamente pelo motivo do som deles nunca ter me atraído. De qualquer maneira dá para perceber que o conjunto é diferenciado e o disco é um arregaço. Do que eu escutei deles até hoje este é o álbum que me atraiu mais.

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  5. O Mastodon é uma das cinco bandas das quais posso falar com o mínimo de conhecimento de causa, por conhecer a discografia inteira e por escutar há bastante tempo (ouvi pela primeira vez em 2004/2005, depois de ler uma resenha do "Leviathan" na Roadie Crew).

    Lembro que demorei uns três meses pra entender a música dos caras, até chegar a conclusão de que é foda pra caralho. E desde então, sempre demoro pra "captar" o que cada novo lançamento tem a dizer. Mas quando isso ocorre, a sensação é indescritível. Estou na quinta ouvida desse "Once More 'Round the Sun", e posso dizer que aos poucos começo a constatar que talvez em breve o considerarei uma obra-prima.

    Sobre alguns comentários do Veredito e também dos leitores: gosto do Baroness, mas concordo com o Lidson - o Mastodon é muito melhor. Gostei do Thiago mencionar essa nova geração de bandas norte-americanas, das quais a trupe do Brent Hinds é o principal destaque (ao lado do Between the Buried and Me). E, por fim, o comentário do Rodrigo Carvalho - de que a produção é um pouco estranha - talvez ajuda a esclarecer o por quê de as audições do "Once 'Round..." ainda não me soem tão "límpidas" quanto as do "Crack the Skye" ou do "Blood Mountain".

    Por ora é isso.

    Abraços,
    Vinícius - Florianópolis/SC

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  6. Como assim nota 9, Ricardo? O que aconteceu com "(A nota? Máxima, com tendência de subida nas próximas semanas)"? rsrs pegação no pé... Sobre a compração com o Baroness, pelos menos em questão de vocais, o Mastodon dá um baile!

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  7. Acho que a produção "diferente" tem um forte papel na experiência de ouvir o disco; é como se promovesse uma audição em movimento, se é que vocês me entendem... sei lá, é como o álbum soaria em outra órbita, hehe

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  8. Bem legal ler esse veredito sobre o Mastodon. Exceto essa parte: ""The Motherload" chega até a flertar com o rock progressivo, mas o resultado está longe de ser matemática - é puro feeling." Sério, de cada 10 vezes que leio algo sobre Prog na CR, 9 são de revirar o estômago rsrs.

    Parece que o Prog é o "calcanhar de aquiles" da CR.

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  9. Ricardo, bem que você podia escrever uma discografia comentada do Mastodon !

    Abraço

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  10. comparando somente os 2 ultimos albuns do mastodon e baroness.
    este ultimo é infinitamente superior.
    ta rolando um marketing muito pesado em cima desse ultimo album do mastodon isso sim.
    é um disco normal, ate um pouco inferior ao anterior.

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  11. Bom, eu conheci o Mastodon em 2009, com o Crack The Skye. A primeira vez que ouvi esse álbum, eu pensei: "há muito tempo que não ouço um som tão diferente, original e criativo". Me lembrou o que grandes bandas do passado faziam. Não por fazer um som parecido, mas exatamente por ter fugido de tudo o que já havia sido feito até então. Depois disso passei a ouvir todos os álbuns. Mastodon passou a ser a minha banda favorita (ficando atrás, somente, do Pink Floyd). Ouço Mastodon quase todos os dias e logo que lançou o "Once More ‘Round the Sun" fui conferir como ficou. Vou ser sincero, a princípio não me prendeu muito. Ouvi mais umas vezes e comecei a gostar do álbum, mas sinceramente não consigo coloca-lo no nível dos outros ainda. Talvez depois de ouvi-lo mais vezes isso aconteça. O álbum ficou bom, mas senti falta de alguma coisa. Acho que faltou um pouco mais da voz de Brent Hinds. Uma das coisas que mais gosto no Mastodon. Algumas faixas me agradaram bastante, outras ainda não me prenderam muito.

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  12. Ah, esqueci de comentar sobre Mastodon x Baroness. Curto muito o Baroness, e concordo que as duas bandas sempre surpreendem. Nunca conseguimos prever o que vão nos proporcionar, mas o Mastodon está muito a frente do Baroness.

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  13. Concordo com o comentário final do Marcelo Vieira!!

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