Esse texto, na verdade, não tem o objetivo de contar a história de Back in Black. Ela está facilmente disponível na internet pra quem estiver interessado. O que buscamos aqui é realçar o quão improvável foi a aceitação e o sucesso do álbum, fruto de um período extremamente complicado e sombrio para o grupo. Basta fazer uma associação com o último disco do AC/DC, o mediano Rock or Bust, lançado no final de 2014 em uma situação digamos que similar, com o afastamento de Malcolm por motivo de saúde. O primeiro é excelente. O segundo é um arremedo do que a banda foi um dia.
Há um fato curioso sobre a edição brasileira de Back in Black. A versão lançada no Brasil teve a ordem das músicas trocada, fazendo que o lado A fosse o lado B, e vice-versa. Assim, uma geração conheceu o AC/DC no Brasil dos anos 1980 através do seu disco de maior sucesso, que aqui em nosso país tropical abria com a clássica faixa-título e seu riff imortal, seguida pela não menos impactante “You Shook Me All Night Long”. Lá fora, a ordem original era outra, com “Hells Bells” abrindo os trabalhos. Isso só foi corrigido quando o disco saiu em CD por aqui, mas aí o estrago já estava feito.
Tenho uma teoria sobre isso. Na minha visão, o impacto imediato de “Back in Black”, a música, é muito maior que a de “Hells Bells”, apesar de as duas serem composições excelentes. E a sequência inspirada, colocando fogo no pavio com “You Shook Me All Night Long”, “Have a Drink on Me”, “Shake a Leg” e “Rock and Roll Ain’t Noise Pollution”, cativou e formou uma geração de fãs apaixonados pelos australianos. Em um exercício de puro devaneio, me pergunto se o impacto sobre aquela geração brasileira da década de 1980, da qual faço parte, teria sido a mesma se a ordem das faixas tivesse sido lançada da maneira correta.
Independente da resposta, o fato é que Back in Black é não apenas o disco de maior sucesso e um dos melhores trabalhos do AC/DC, como, sobretudo, um dos maiores exemplos de superação e volta por cima da história da música. Um álbum que nos dá a lição, a cada nova audição, de que por maior que seja a dificuldade que estejamos passando, sempre é possível seguir em frente. Que a dor é uma fonte de inspiração tão forte, ou até mesmo maior, que a alegria de um novo dia.
Back in Black é eterno. O AC/DC é eterno. Como o rock, como a vida, como a gente.
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.