10 exemplos de como 2015 está sendo um ótimo ano para a música - Parte I


É uma contradição, e confesso que tenho uma dificuldade enorme em entender este comportamento. Explico: em tempos como esse, onde o acesso ao trabalho de todo e qualquer artista é praticamente instantâneo através de uma simples pesquisa nas mais variadas plataforma (YouTube, Spotify, Google, redes sociais), parece que mais e mais gente se contenta em manter o ouvido focado confortavelmente nos mesmos sons de sempre.

Não é o meu caso. E sigo confessando: é muito bom ter esta atitude. 2015 está sendo um grande ano para a música, com ótimos discos nos mais variados gêneros. Basta ser um pouco curioso e inquieto para descobrir e entrar em contato com trabalhos excelentes, como os que estão listados abaixo. 

São apenas 10 discos, mas poderiam ser 20, 30, 50. E serão, porque escreverei posts semelhantes a esse de tempos em tempos. Peguei uma dezena de títulos, e escrevi pequenos textos explicando o que você irá encontrar em cada um deles. 

Vem comigo e vamos mergulhar juntos neste grande e imenso oceano musical!


The Mighty Mocambos - Showdown

Terceiro álbum deste combo, Showdown é uma jóia funk cheia de embalo, groove e balanço. O The Mighty Mocambos tem uma sonoridade rica e contagiante, dando um passo à frente em relação aos seus dois discos anteriores - This is Gizelle Smith & The Mighty Mocambos (2009) e The Future is Here (2011). Encaixando muito bem as peças do seu quebra-cabeça sonoro, o grupo dá ao ouvinte uma usina sonora repleta de referências essenciais, do jazz ao funk setentista, da disco music ao pop. A cereja do bolo são as participações especiais de nomes como Afrika Bamabaataa, presente em três das onze faixas.


London Afrobeat Collective - Food Chain

Um trupe multinacional com canções com ritmos fortes e letras idem, explorando temas políticos. O London Afrobeat Collective se posiciona claramente em aspectos como a imigração e a economia europeia, a comunidade comum e o impacto disso no dia a dia dos ingleses e de quem mais vive na capital do Reino Unido. Com dois EPs no currículo e dois álbuns, o LAC é uma hidrelétrica musical funcionando a pleno vapor. Food Chain, segundo álbum da banda, é um dos grandes e essenciais discos de 2015 até agora.


Leon Bridges - Coming Home

Uma das mais agradáveis novidades do ano, Leon Bridges vem de Atlanta e traz consigo toda a rica tradição de uma das capitais da música norte-americana. Coming Home, seu disco de estreia, foi lançado no final de junho e vem carregado como toda a herança do soul, em dez faixas que seguem a linha evolutiva de ícones como Otis Redding. Apesar da pouca idade, Bridges mostra grande maturidade, entregando interpretações vocais repletas de classe e feeling. Não tem como não gostar.


Sister Sparrow and the Dirty Birds - The Weather Below 

Tendo os irmãos Arleigh (vocal) e Jackson Kincheloe (gaita) à frente, o Sister Sparrow and the Dirty Birds (é deles a foto principal deste post) é uma banda nova-iorquina dona de evidente e explícito talento. O grupo já tem três discos no currículo, sendo que o mais recente, The Weather Below, é uma delícia deliciosa - com pleonasmo e redundância, mesmo. A praia aqui é um soul pop, o chamado blue-eyed-soul: ou seja, o tradicional gênero negro interpretado por artistas brancos e acrescido de bem-vindas pitadas de rhythm & blues. Chiclete ao extremo: é ouvir e não desgrudar mais!


Kamasi Washington - The Epic

Não seria um equívoco, em uma análise simplificada, definir o novo trabalho do saxofonista californiano Kamasi Washington como uma espécie de Bitches Brew de nossa época. Fazendo juz ao título, o álbum (triplo, é claro) é uma odisseia sonora que passeia pelos mais variados caminhos possibilitados pelo jazz, e encheria Miles Davis de orgulho. Um verdadeiro tratado musical, que caminha a passos largos para o posto de grande álbum de jazz do ano.


The London Souls - Here Come the Girls

Agora reduzido a um duo, o London Souls (que é nova-iorquino e não londrino) retorna após quatro anos com o seu segundo disco. Here Come the Girls é um pouco mais suave que a estreia lançada em 2011 e brinda o ouvinte com melodias e influências que vêm direto da década de 1960. The Who e Cream, as duas principais inspirações da banda, seguem dando as cartas, resultando em um rock and roll enérgico, direto e agradável, que agrada de imediato.


Kamchatka - Long Road Made of Gold

O foco do hard rock mudou a sua direção e estabeleceu a sua força na Suécia. Isso é de conhecimento comum e consolidado entre todo mundo que acompanha o gênero de maneira mais próxima. Ghost, Graveyard e mais uma centena de bandas transformaram o país europeu em um paraíso pra quem curte guitarras distorcidas, riffs inspirados e canções que chegam não para serem passageiras, mas sim para acompanhar nossos dias a partir do momento que as conhecemos. O trio Kamchatka é um dos grandes nomes dessa cena sueca, e, como sempre, vem com outro disco matador. Sexto trabalho do grupo, Long Road Made of Gold equilibra doses equivalentes de hard e blues rock, e é o mais bem acabado e resolvido álbum da banda. 


The Waterboys - Modern Blues

A veterana banda inglesa, responsável pelo belo e clássico Fisherman’s Blues (1988), lançou em em janeiro um disco que cresce a cada nova audição. Deixando as influências celtas e de música folclórica em um plano secundário, mas sem abandoná-las por completo, o The Waterboys veio com um álbum estradeiro, onde cada canção é uma pequena história, um conto apaixonante, apresentando personagens comuns e, por isso mesmo, de identificação fácil em que está do lado de cá. Boa surpresa!


Ryan Bingham - Fear and Saturday Night

Com um timbre sujo, embebido em doses generosas de fumaça e álcool, Ryan Bingham transita entre o country e o alt-country, com um pouquinho de blues aqui e acolá. Canções econômicas, levadas ao violão e com linhas vocais simples e bem construídas, que mantém viva a magia e a força do estilo que é um dos mais tradicionais dos Estados Unidos. Pra ouvir em um domingo pela manhã, despertando a cada novo acorde. 


Hanni El Khatib - Moonlight

Transitando entre o blues rock e o revival do garage rock, o californiano Hanni El Khatib chega ao seu terceiro disco com Moonlight. E esta terceira dose de sua carreira é densa, sem gelo e desce redonda! As onze canções de Moonlight são todas construídas a partir da guitarra, com ritmos fortes e refrãos idem. Uma indicação perfeita pra quem anda com saudades dos primeiros álbuns do Black Keys, mais diretos e menos rebuscados que os últimos lançamentos do duo. 

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