O mercado de quadrinhos sofre de um problema que vai e vem de tempos em tempos: a formação de novos leitores, o encantamento de novos fãs e a consequente queda nas vendas. Com décadas de uma cronologia desenvolvida em tramas complicadas e complexas, uma revista de qualquer super-herói não atrai, de cara, os jovens leitores. Não é simples: não basta chegar e ler. É preciso mergulhar em um emaranhado de personagens, autores, desenhistas, mortes, ressurreições e tudo mais. E isso, para quem está começando a ler HQs, não é tarefa das mais fáceis.
Como já disse, Batman é um dos meus personagens preferidos, então foi através de Bruce Wayne e companhia que dei o meu primeiro mergulho no universo de Os Novos 52. A Panini, responsável pela publicação tanto da DC quanto da Marvel aqui no Brasil, colocou no mercado alguns encadernados compilando os primeiros arcos de histórias de Os Novos 52, cobrindo personagens como Superman, Flash, Aquaman, Shazan e a Liga da Justiça. Sobre o Batman, foram lançados duas sagas independentes: A Corte das Corujas e Corporação Batman. O primeiro foi escrito por Scott Snyder e ilustrado por Greg Capullo, e o segundo é uma criação de Grant Morrison e desenhada por nomes como Yanick Paquette, Scott Clark, Cameron Stewart e Chris Burnham.
Vamos falar do primeiro destes encadernados. A Corte das Corujas é um volume de luxo, com capa dura, papel couché brilho de alta qualidade e 176 páginas. A edição compila os números 1 a 7 da revista Batman, publicada nos EUA em 2012. A trama conta a história da Corte das Corujas, sociedade secreta formada pelas famílias mais poderosas de Gotham, que controla a cidade de maneira silenciosa há décadas. Até que um certo Batman surge pelo caminho. O enredo de Snyder é muito bem escrito e prende o leitor, sendo direto ao ponto e sem gorduras extras. Ela não dá voltas, não fica enrolando, e isso torna a leitura mais agradável e interessante. O processo se completa com a bela arte de Capullo (pra quem não sabe, o cara por trás das ilustrações das HQs do Spawn, de Todd McFarlane). A história apresenta a grande maioria dos personagens do universo de Batman em novas encarnações, mas não tão diferentes das clássicas interpretações que ficaram conhecidas em todo o mundo (não há uma transformação radical como a que ocorreu na série Ultimate da Marvel, por exemplo). Bruce Wayne encarna um Batman que faz uso de diversos apetrechos tecnológicos, enquanto Dick Grayson, o Robin original, convive com outros dois Robins simultaneamente - Tim Drake e Damian Wayne, este último filho de Bruce. O Comissário James Gordon é um cara mais novo que a figura clássica, e coadjuvantes como Batgirl e a Mulher-Gato também batem ponto. Entre os vilões, que aparecem somente de maneira rápida no início da trama, vemos ilustrações mais realistas e menos fantasiosas das figuras de Pinguim, Duas-Caras, Senhor Frio, Crocodilo, Espantalho e outros. O Coringa também surge de relance. O fato é que, ao menos neste primeiro volume, o antagonismo se dá através da Corte das Corujas personificada em seu soldado, Garra, deixando os vilões clássicos em segundo plano.
O segundo volume, intitulado A Noite das Corujas, mantém o mesmo padrão gráfico do primeiro e vai pro confronto explícito, com Batman e sua turma sendo atacados por um enxame de assassinos enviados pela Corte das Corujas. Muito bem ilustrada, a trama traz quadros extremamente plásticos, colocando beleza na violência física enquanto Batman narra e filosofa sobre o que está ocorrendo. O legal deste segundo volume são as visitas ao passado, com flashbacks de personagens importantes como Jarvis Pennyworth, o pai de Alfred, que revela um segredo escondido da família Wayne. Outro ponto marcante é o capítulo que redefine a origem do Senhor Frio, tornando o personagem ainda mais assustador. Cheia de segredos, a história lança uma nova perspectiva sobre a família Wayne e também sobre os Grayson, o clã de trapezistas de onde veio Dick, o primeiro Robin.
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