Os 25 melhores discos de 2015 na opinião da Collectors Room


Um ano ótimo para a música: assim foi 2015. Com excelentes lançamentos em diversos gêneros, o ano apresentou uma pluralidade sadia, carregada de qualidade e inspiração. 

Antes, um pequeno esclarecimento: desta vez, ao contrário das anteriores, não publicamos diversas listas de melhores do ano trazendo as escolhas da equipe e de convidados. Você acompanhou a Collectors em 2015 e sabe que passamos por um período de pausa, com um grande ponto de interrogação, onde demos uma parada. Retornamos apenas alguns meses mais tarde, com mudanças e uma proposta de fazer tudo de maneira mais leve, saudável e divertida pra quem escreve a CR. Nesse processo, eu, Ricardo Seelig, decidi seguir sozinho produzindo o conteúdo do site, como era lá no início de tudo. As razões para isso foram muitas, e algumas já contei por aqui.

Assim, o que temos é uma apenas uma lista, apontando os melhores discos lançados este ano na opinião da Collectors Room. Estão abaixo 25 títulos, de estilos variados, que acredito que contém alguns dos melhores momentos que a música nos proporcionou em 2015.

E fica um convite: nos comentários, poste a sua lista de melhores do ano, e vamos juntos compartilhar o amor pela música e pelos bons sons.

25. London Afrobeat Collective - Food Chain

Dez músicos de origens e nacionalidades diferentes, baseados na capital inglesa: esse é o London Afrobeat Collective. Influenciados por Fela Kuti tanto no som quanto no discurso político, o LAC entrega uma música com ritmo contagiante e letras afiadas, que retratam de maneira contundente a miscigenação dos grandes centros europeus. Com dois álbuns e dois EPs já lançados, o London Afrobeat Collective mostra que o ritmo africano segue pulsando, agregando elementos contemporâneos para soar renovado e refrescante.

24. Bixiga 70 - Bixiga 70

Chegando ao seu terceiro disco, o combo paulistano Bixiga 70 segue no mais alto nível sonoro. Unindo afrobeat e jazz a elementos brasileiros e latinos, a banda é um exemplo de como a música instrumental é cativante. A usina sonora do grupo transita com imensa naturalidade pelas variadas influências exploradas, sempre com muito bom gosto. Enfim, um álbum excelente, como os dois anteriores.

23. Ryan Bingham - Fear and Saturday Night

Caminhando entre o country e a música tradicional norte-americana, este cantor e compositor natural do Novo México vem chamando a atenção nos últimos anos com trabalhos consistentes. Em 2010, por exemplo, a canção que o rapaz compôs para o filme Crazy Heart (estrelado por Jeff Bridges e que no Brasil teve o título de Coração Louco), e que virou a música-tema da película (“The Weary Kind”), foi indicada a inúmeros prêmios, incluindo o Oscar e o Grammy. Fear and Saturday Night é o quinto álbum de Ryan e foi composto em um retiro solitário que Bingham fez em seu trailer. Estacionado nas montanhas da Califórnia e sem eletricidade e celular, o músico retratou a sua infância nas doze faixas, marcada pela morte da mãe devido ao alcoolismo e pelo suicídio do pai. Um disco belíssimo e que transborda sentimentos.

22. Graveyard - Innocence & Decadence

O quarto álbum do Graveyard veio com a responsabilidade de manter a alta qualidade dos trabalhos anteriores do quarteto sueco. E conseguiu. O disco trouxe uma mudança na formação, com Truls Mörck assumindo o baixo no lugar de Rikard Edlund. Mas a sonoridade manteve-se praticamente inalterada, com o bem azeitado hard rock poeirento da banda funcionando que é uma maravilha. Alternando faixas agitadas com momentos mais contemplativos (os backing vocals com ascendência gospel de “Too Much is Not Enough” são lindos de chorar), o quarteto liderado pelo ótimo vocalista e guitarrista Joakim Nilsson reafirmou a sua posição como uma das bandas mais interessantes da atualidade.

21. Sister Sparrow and The Dirty Birds - The Weather Below

De tempos em tempos, a música nos brinda com surpresas deliciosas, daquelas que, ao bater na orelha, não conseguimos parar de ouvir por dias e dias a fio. Esta banda nova-iorquina se encaixa nesse exemplo. The Weather Below, terceiro álbum do Sister Sparrow and The Dirty Birds, é um disco saboroso, com uma sonoridade que traz elementos de rock, soul, funk e outros ritmos, tudo embalado na forma de um pop ensolarado e poderoso. Pra ouvir naqueles dias em que você acorda meio pra baixo: é só dar play e o sol volta a iluminar a sua vida.

20. The Mighty Mocambos - Showdown

O que temos aqui é uma turma de Hamburgo, na Alemanha, que faz um funk nervosíssimo. O The Mighty Mocambos é formado por nove músicos, unindo o trio guitarra-baixo-bateria a uma parede de metais que recheia a música de maneira sublime. Com a participação do lendário Afrika Bambaataa em três faixas, Showdown vem recheado de um balanço irresistível e uma produção que realça a crueza e a “verdade" dos instrumentos. Discaço, e ponto!

19. My Sleeping Karma - Moksha

Outra joia vinda da Alemanha, o My Sleeping Karma está na estrada há aproximadamente dez anos. A música da banda vem carregada de originalidade, com canções instrumentais que constroem paisagens sonoras a partir da união entre o hard rock e a psicodelia. Moksha é o quinto álbum do quarteto, e é daqueles discos capazes de carregar o ouvinte para outras dimensões à medida que a audição do trabalho se aprofunda. Uma experiência única e altamente recomendável!

18. Swallon the Sun - Songs from the North I, II & III

Quando a pretensão possui foco e é exercida com sabedoria e talento, é capaz de produzir obras-primas atemporais. Songs from the North I, II & III, novo álbum do Swallon the Sun, é um exemplo disco. Trata-se, muito provavelmente, do álbum de heavy metal mais pretencioso de 2015. E isso é uma qualidade. Grandioso e épico, o trabalho - triplo - entrega 21 canções densas, elaboradas e desenvolvidas à exaustão, em um resultado final sublime e que exige uma contrapartida do ouvinte, que é convidado a desbravar essa odisseia musical passo a passo. Trata-se de um trabalho que não oferece uma digestão simples, muito pelo contrário, mas que recompensa o ouvinte com sensações sublimes e que são como potes de ouro ao final do arco-íris. Sensacional é um adjetivo que serve como uma luva em Songs from the North I, II & III.

17. Buddy Guy - Born to Play Guitar

Do alto dos seus 79 anos, Buddy Guy segue produzindo música do mais elevado nível. Born to Play Guitar mantém a ótima fase que o bluesman natural da Louisiana vem atravessando nos últimos anos, e traz como cereja do bolo participações especiais que fazem toda a diferença, como Billy Gibbons e Van Morrison. É um clichê, mas define com perfeição Buddy Guy: ele é como vinho - quanto mais o tempo passa, melhor fica.

16. Riverside - Love, Fear and the Time Machine

Quem gosta de rock progressivo tem sido abençoado com excelentes discos nos últimos anos. O gênero atravessa um ótimo momento, com a afirmação de novos ícones e o surgimento de artistas que conseguem manter as características essenciais do estilo, sem cometer os exageros de alguns nomes do passado. A banda polonesa Riverside inscreve-se com autoridade entre as referências recentes do prog, e seu novo disco ratifica esse merecido status. Falando sobre viagem no tempo e usando o talento e a criatividade para transitar de maneira soberana através dos arquétipos do rock progressivo, o Riverside concebeu um trabalho excepcional.

15. Songhoy Blues - Music in Exile

Disco de estreia deste quarteto natural do Mali. A música é uma espécie de blues rock temperado com hip-hop e batidas africanas, com letras cantadas em francês, o idioma natural dos caras. Um álbum original e delicioso, que abre várias portas para o Songhoy Blues.

14. Chris Stapleton - Traveller

Country. Clássico, contemporâneo, não importa. O que você precisa saber é que é dos bons. Traveller é o álbum de estreia do Chris Stapleton, compositor há anos na ativa e que agora decidiu sair dos bastidores e visitar os holofotes. Diversas composições de Stapleton estão presentes em álbuns de nomes como Adele, Tim McGraw, Peter Frampton e Sheryl Crow. Traveller revela o talento do cantor para o público, em um disco que irá agradar desde admiradores do country a até mesmo fãs de ícones do southern rock, como o Lynyrd Skynyrd. Ouça, você vai curtir.

13. Melechesh - Enki

Esta banda natural de Jerusalém e atualmente baseada em Amsterdam é uma das grandes forças criativas do black metal contemporâneo. Com uma sólida discografia, o Melechesh já havia recebido merecidos elogios rasgados com The Epigenesis, lançado em 2010. Enki mostra a banda seguindo a sua evolução e construindo uma música cheia de personalidade, trabalhando influências que vão do metal extremo até a música folclórica judaica.

12. Goatsnake - Black Age Blues

O riff de guitarra é a essência do rock, a alma do heavy metal. Mas, estranhamente, é cada vez mais raro ouvir canções que têm o riff como elemento condutor. O Goatsnake resgata essa tradição em Black Age Blues, entregando um inspirado trabalho de guitarra que bebe direto na herança de Tony Iommi. Se você curte rock pesado, vai adorar!

11. Iron Maiden - The Book of Souls

Ninguém esperava que o Iron Maiden gravasse um disco tão inspirado e inovador a essa altura da carreira. Mas a banda liderada pelo baixista Steve Harris e pelo vocalista Bruce Dickinson mostrou o porque de ter o status que possui. Longo, duplo e excelente, The Book of Souls é o melhor disco do Iron Maiden em décadas.

10. Ghost - Meliora

O Ghost chamou a atenção em 2010, com uma sonoridade que bebia no heavy metal clássico, letras explorando temas sombrios e integrantes com uma maquiagem marcante. Passados cinco anos, a banda sueca lança o seu terceiro disco, afasta-se do metal, agrega elementos de psicodelismo e mostra que chegou pra ficar.

9. Leon Bridges - Coming Home

Vem de Atlanta a nova sensação do soul norte-americano. Leon Bridges estreou este ano com um disco que é pura diversão. Feeling, balanço e ótimas canções fazem de Coming Home um álbum que cativa de imediato. Marvin Gaye curtiu, podem ter certeza!

8. Kamasi Washington - The Epic

Um álbum triplo, que explora as mais variadas áreas do jazz. A estreia deste músico natural de Los Angeles faz juz ao título, com uma coleção épica de canções. Passei meses ouvindo, e provavelmente ficarei mais outros tantos com The Epic por perto. Altamente recomendável!

7. Intronaut - The Direction of Last Things

O auge deste quarteto norte-americano, que sempre gravou bons discos. The Direction of Last Things mostra a banda inserindo elementos de jazz, prog e outros gêneros em sua música, criando um metal cheio de personalidade e inovador. E o que é fundamental: sempre audível e pra lá de cativante.

6. Emicida - Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Cada

O Brasil vive um momento delicado. O discurso de ódio pauta o dia a dia. A intolerância é onipresente. O racismo segue presente  Emicida fala sobre essas e outras questões em seu novo álbum, com canções fortes e letras mais intensas ainda. Com um discurso afiado, o rapper gravou um disco que sintetiza a realidade que vivemos. Pra ouvir, pensar e, sobretudo, entender.

5. Christian Scott - Stretch Music

Como o próprio título antecipa, o que este trompetista de New Orleans fez em seu novo disco foi alargar, espichar, romper os limites da sua música, e, por extensão, do próprio jazz. Unindo elementos do passado com características atuais, Christian Scott gravou um álbum refrescante, que mostra que o jazz segue muito vivo e forte. 

4. Deafheaven - New Bermuda

O Deafheaven já havia feito bonito com seu trabalho anterior, Sunbather. Mas aprimorou a fórmula em seu novo disco. A música vai do black metal ao shoegaze, com variações interessantíssimas entre as partes mais agressivas e as mais calmas, onde belas melodias invariavelmente surgem nos alto falantes. Um álbum incrível, de uma beleza intensa.

3. Terence Blanchard - Breathless

Terence Blanchard é conhecido de quem consome jazz já há algum tempo. Revelado pela Lionel Hampton Orchestra em 1980 e com passagem pelos Jazz Messengers de Art Blakey, desde 2000 Blanchard é também o Diretor Artístico do Thelonious Monk Institute of Jazz. Com mais de uma dezena de álbuns solo, o trompetista gravou o melhor disco de jazz de 2015. Com muito groove e balanço, e, é claro, doses generosas de feeling, Breathless leva o ouvinte por composições que mostram o gênero andando lado a lado com o funk, o hip-hop e outros ritmos. Pra ouvir por dias. 

2. Baroness - Purple

O Baroness quase acabou em 2012. Durante a turnê de Yellow & Green, seu fenomenal e já clássico último disco, o quarteto liderado pelo vocalista e guitarrista John Baizley sofreu um acidente de ônibus quase fatal no interior da Inglaterra, que colocou a carreira da banda em xeque e resultou na saída de dois integrantes. Três anos depois, Purple surge comp um atestado de força, um documento de renascimento. Mais enxuto, mais conciso e mais pesado que Yellow & Green, o disco mostra o Baroness reafirmando suas qualidades - como as melodias que parecem criadas por um artesão e a onipresente capacidade de emocionar a cada canção - enquanto resgate elementos que foram deixados um pouco de lado em Yellow & Green, como os sempre criativos riffs. Purple é um álbum emocionante, tanto no sentido de comprovar a capacidade do Baroness em sobreviver a tudo que passou, quanto pela força, criatividade e feeling de suas faixas. Um disco formidável, mais uma vez!

1. Steven Wilson - Hand. Cannot. Erase.

Principal nome da cena prog contemporânea, o inglês Steven Wilson (Porcupine Tree, Storm Corrosion) segue com a criatividade a todo vapor, emplacando uma sequência de discos excelentes. Acompanhado por uma banda incrível - Guthrie Govan (guitarra), Adam Holzman (piano e teclado), Nick Beggs (baixo) e Marco Minnemann (bateria) -, Wilson gravou aquele que pode ser definido como o seu trabalho mais emocionalmente intenso e profundo. Inspirado na história da inglesa Joyce Carol Vincent, que desapareceu e faleceu em 2001 sem que ninguém sentisse sua falta, e cujos restos mortais foram encontrados em seu apartamento somente no final de 2003, Hand. Cannot. Erase. é um álbum sublime. Nele, Steven Wilson cria novos paradigmas e padrões musicais para o rock progressivo, afastando o gênero dos exageros da segunda metade da década de 1970 e vestindo o estilo com uma sonoridade refrescante e absolutamente atual. As onze faixas exploram diferentes momentos da história contada (e cantada) por Steven, com a parte instrumental criando melodias e explorando arranjos que retratam os variados sentimentos pelos quais a personagem central atravessa. Inspirado e com canções muito bonitas, Hand. Cannot. Erase. conta uma história triste e pesada, que serve como metáfora para a realidade em que vivemos, onde, paradoxalmente, buscamos popularidade retratando nossos cotidianos nas redes sociais, mas vivemos cada vez mais solitários. Sem exageros, Hand. Cannot. Erase. pode ser definido como o The Wall da geração Facebook.


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