Atualmente, Janet Robin ensina estrelas de Hollywood a tocar guitarra. Mas quando ela tinha 9 anos, teve aulas com um certo Randy Rhoads. No papo abaixo, Janet conta a sua experiência ao lado do lendário guitarrista, que fez história na banda de Ozzy Osbourne e faleceu precocemente em um trágico acidente de avião em 1982, com apenas 25 anos.
Como você começou a ter aulas com Randy Rhoads?
Comecei a tocar violão clássico aos 6 anos. Meu irmão mais velho já tocava e eu copiava tudo que ele fazia. Alguém que não vou lembrar agora nos indicou Randy, provavelmente um amigo que já estava tendo aulas com ele. A recomendação era de que ele era um guitarrista fantástico e um professor incrível. A pequena escola em que ele lecionava era de sua mãe e ainda existe - hoje, seu irmão Kelle segue dando aulas. Então fomos até lá e começamos a ter lições com Randy. A única que conhecíamos que estava fazendo algo semelhante com a guitarra e totalmente fora de realidade na época era o Van Halen. Nunca tinha visto alguém tocar daquela maneira antes. Aos poucos comecei a trazer os meus amigos comigo e falava “Galera, vocês tem que ver o que esse cara faz!”. As aulas custavam aproximadamente 8 dólares a hora, naquele tempo.
Quais eram os seus métodos de ensino?
Ele não era tão estruturado como se poderia pensar, mesmo com tudo que sua mãe o havia ensinado - e ela era uma professora de piano muito exigente. Ele propunha algumas frases pra gente tocar, e aprendi a tocar guitarra rítmica dessa forma. Ele me mostrava uma progressão, e eu a tocava. Na sequência, ele começa a solar feito louco. Depois, trocávamos de lugar e ele tocava a progressão enquanto eu aprendia escalas e licks. A coisa mais importante que aprendi foi como escrever uma canção a partir de um riff de guitarra. Se você ouvir a minha música, verá que muitas da canções tem como ponto de partida um riff. Não se faz mais muito isso hoje em dia, mas eu sigo essa escola até hoje.
Ele lhe dizia que para escrever uma boa canção era preciso um bom riff?
Não, ele nunca me disse isso, mas mesmo as progressões que ele me passava não eram mudanças de acordes padrão. Eu tento ensinar meus alunos da mesma maneira. Claro, ele precisam aprender o básico antes, mas eu já havia passado por essa fase com meu professor anterior, então cheguei com minha guitarra elétrica e Randy me ensinou os acordes. Eu era uma menina de 9 ou 10 anos, e isso é outra coisa - ele não podia me tratar do mesmo jeito que tratava os meninos. Randy era também un excelente guitarrista de blues, e comecei a me interessar pelo gênero a partir de suas dicas. “Johnny B. Goode” foi a primeira música que ele me ensinou, e não algo do Black Sabbath ou do Iron Maiden. Nos primeiras dias, tudo era blues. Ele me fez entender que se eu não fosse capaz de tocar blues, jamais conseguiria tocar algo mais pesado.
Ele usava métodos padronizados como guias?
Não, não líamos música. Aliás, até hoje não sei ler música. Ele me ensinou de ouvido, e a minha audição passou a ser muito bem desenvolvida para entender o que estava tocando desde então.
Randy te deu algum conselho que ficou com você desde então?
Prática! Apenas a prática. Ele nem precisava me dizer isso. Eu estava tão obcecada com a guitarra na época que enquanto meus amigos brincavam lá fora, eu me trancava no quarto e ficava tocando minha Les Paul. Eu não tinha ninguém pra tocar comigo, então em ficava no quarto com dois toca-fitas. Pensava que era um gênio: gravava uma progressão em um gravador, colocava a fita no outro e tocava meu solo por cima daquilo. Era uma gravação multipista, e eu usava isso pra ver como estava soando o meu som.
Randy chegou a se tornar uma amigo da sua família?
Não, mas ficou muito próximo disso. Houve momentos em que meus pais não podia me pegar, e sua mãe me levava pra casa. Meus pais e eu íamos aos seus shows, ele era um fanático por saúde. Uma vez estava chegando uma frente fria e Randy estava chateado porque poderia ficar gripado e perder um show, então meu pai deu para ela alguns cristas de vitamina C. Naquela época isso vinha em um saco de pó branco, e as pessoas ficavam olhando pra gente pensando “o que uma menina de 10 anos está dando pra esse cara tomar antes do show?” (risos).
Quando foi a última vez que você o viu?
Na última aula antes de ele partir para a segunda turnê com Ozzy. Ele saiu e falou para a minha mãe: “Ela parece ótima, será tão boa ou melhor do que eu quando tiver a minha idade”. Não estou dizendo isso para parecer que tenho um ego enorme, eu jamais cheguei perto de tudo o que ele fez. Mas ele nunca quis que ninguém soasse como ele, ele queria que você encontrasse o seu próprio estilo e desenvolvesse a sua própria relação com o instrumento. Ele me deu confiança pra pensar que não importava que eu fosse uma menina. Meus irmãos não me deixavam jogar futebol com eles porque eu era uma menina, mas Randy nunca me disse uma coisa assim.
Você ainda é amiga da família de Randy?
Somos muito próximos. Toco todos os anos no NAMM, no show em memória a Randy. Sua irmã possui uma sala de degustação de vinhos e há muitos eventos que faço por lá. Na verdade, a família doou para a campanha de financiamento coletivo que fiz para viabilizar meu álbum mais recente. Eles vieram para o meu casamento. Sua mãe faleceu recentemente, mas viveu até cerca de 96 anos. Eu toquei em seu funeral.
Quando você descobriu que ele tinha falecido?
Eu estava na escola. Minha mãe ligou para a escola e eles enviaram uma mensagem para mim na sala de aula, e eu simplesmente perdi o controle. Senti como se alguém tivesse puxado o tapete debaixo de mim. Eu estava tendo aulas com o professor substituto enquanto Randy estava fora, mas não era a mesma coisa. Fiquei muito triste, pois tinha perdido o meu mentor. Foi muito perturbador, eu fiquei chorando na hora de almoço e as pessoas vinham me perguntar o que estava acontecendo. Quando respondia que meu professor de guitarra havia falecido, elas perguntavam “Quem?”. Mas ele ficou muito famoso depois que morreu. Ele estava começando a ficar conhecido com o trabalho com Ozzy, e virou uma lenda depois de sua morte.
Por Thea de Gallier, da Classic Rock Magazine
Tradução de Ricardo Seelig
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