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Em 2010, o muitíssimo aguardado novo álbum de M.I.A., intitulado Maya, chegou para balançar a popularidade da rapper, que era alta devido aos seus dois primeiros discos, tidos como clássicos instantâneos da última década (Arular, de 2005, e Kala, de 2007).
Acontece que grande parte do público e da crítica ou não estavam preparados para questionar algumas verdades que balançariam de vez o status quo da época, ou esperavam hits instantâneos como o caso indiscutível de “Paper Planes” (aquela famosa música que tem samples de “Straight to Hell”, do The Clash). Porém, M.I.A. nos entregou em Maya algo como o seu próprio Metal Machine Music (referência ao álbum “inaudível" e experimental lançado por Lou Reed em 1975), caprichando em músicas cheias de ruídos nos vocais, sons de máquinas e até riffs de guitarra de Derek Miller (ex-Poison the Well, atual Sleigh Bells). Com uma produção pesada e letras que insinuavam corrupção de direitos civis na era digital, Maya não apenas nos alertava sobre a NSA como também discutia a onipresente falta de segurança a que nos submetemos quando resolvemos interagir com o mundo por meios digitais.
Em Maya talvez tenhamos o paciente zero das discussões sobre o caos digital que o futuro nos reserva. Mesmo que muitos outros artistas já falassem de uma espécie de “apocalipse digital”, nada tinha o apelo com que a rapper argumentava tão bem. E se hoje uma banda como Destruction, não tão antenada com a internet e sua influência nos problemas sociais em diferentes regiões do planeta, consegue lançar músicas sobre o assunto, talvez seja por que M.I.A. tenha começado essa discussão lá em 2010.
O fato é que Maya, o disco em questão, foi incompreendido quando da época do seu lançamento, talvez por trazer ruídos demais em toda sua produção, estranhamente numa época em que Crystal Castles e Death Grips foram aclamados por trazerem exatamente estas sonoridades a seu trabalho. Ou talvez o motivo esteja no fato de o álbum conter teorias de conspiração em suas letras, fator que foi altamente dissecado em uma resenha do site Pitchfork. Porém, com o tempo essas mesmas teorias julgadas como infundadas previamente foram reveladas na mídia como verdades inconvenientes, com os escândalos de violação de privacidade quebrados por vazamentos pelo WikiLeaks, evidenciando mais tarde a real proporção dessa devastação, agora a nível global, por Edward Snowden.
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De lá pra cá M.I.A. já lançou mais dois discos. Matangi em 2013 e AIM no último dia 09/09, ambos trazendo outros questionamentos e direcionamentos artísticos importantes e atuais tanto quanto Maya foi em sua época, como a atual crise global de refugiados em países em guerra, porém nenhum com a mesma sonoridade visceral evidenciada em seu antecessor.
Hoje seu valor artístico e político é inegável. Maya é como uma profecia que poucos ou ninguém percebeu a seu tempo, um aviso ignorado que se tornou cult - pena que tarde demais.
Por Lucas Melquiades
Por Lucas Melquiades
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