Review: Green Day - Revolution Radio (2016)


Envelhecer dentro do rock and roll é uma tarefa árdua, e quando se toca punk rock (ou alguns de seus derivados) isso é ainda pior, já que se trata de um estilo com maior apelo entre adolescentes. Mas se o artista consegue mostrar algum tipo de evolução musical, seja um maior aprimoramento das composições ou o acréscimo de novas influências ao seu som – ainda que os mais conservadores torçam o nariz –, fica mais fácil adentrar a vida adulta ainda dentro do estilo, e sem parecer ridículo. Dito isso, o caso do Green Day é meio esquisito, pois acaba não se encaixando muito bem nessa descrição.

Após Warning (2000), tido como o disco mais maduro do grupo até então, a banda atingiu um novo auge comercial quatro anos depois com American Idiot (2004), que mesmo sendo um álbum conceitual/ópera rock com influências claras de bandas como The Who, Beatles e Queen em algumas canções, ainda continha um certo espírito juvenil – basta checar a maioria das letras. Vieram em seguida outra “ópera” ainda mais ambiciosa (21st Century Breakdown, lançado em 2009) e uma trilogia de discos (Uno!, Dos! e Tre!, todos disponibilizados em 2012) tida como uma volta às raízes, mas que acabou sofrendo da megalomania habitual do grupo – eram três discos, afinal. E é amparado por esse contexto que Revolution Radio chega às lojas em 2016.

Como aconteceu com a trinca de discos de 2012 – ou até mais –, o novo álbum chega com toda a pompa, reforçada pelos próprios integrantes, de um retorno à uma sonoridade mais simples e descompromissada, remetendo ao clássico Dookie (1994), e o primeiro single “Bang Bang” demonstra isso. Todo esse papo acaba indo novamente na contramão do que é citado no início do texto, mas a canção, mesmo não sendo lá tão impactante para uma música de trabalho até que funciona, sendo ao mesmo tempo rápida e agressiva (a nível Green Day) e com a guitarra, mesmo um tanto “limpinha”, apresentando bons riffs que compensam a letra meio “rebelde sem causa”.

O que fica notável quando se analisa o repertório é o quanto a banda, ainda hoje, consegue criar boas canções punk com apelo pop  – ou seria o contrário? – como poucos de sua geração. Fale o que quiser, mas o Green Day sabe escrever os hits, como provam “Revolution Radio” e “Too Dumb to Die”, mais familiares ao estilo pop-punk clássico do trio, e a divertida “Bouncing Off the Wall”. Há de se destacar também “Outlaws”, um rock de arena mais moderninho que chega até a lembrar a primeira vista o hit “We Are Young”, do Fun (mas não se assuste, a música é bacana), e a grudenta “Still Breathing”, ambas feitas sob medida para as rádios mais roqueiras – as que ainda existem, pelo menos.

Mas se engana quem pensa que a grandiosidade e ambição da década passada foi totalmente esquecida. Além de “Say Goodbye”, com seu jeitão – ou pretensão – de hino, Billy Joe Armstrong retoma um artifício muito usado em seus álbuns conceituais: emular Pete Townshend. “Somewhere Now”, que abre o disco, passaria facilmente com algum lado B de Who’s Next (1971), alternando entre partes acústicas e outras mais “explosivas” (dá pra entender quando se ouve a música). O mesmo vale para “Forever Now”, com mais de sete minutos de duração, e dividida em três partes, cuja última é uma continuação de “Somewhere Now”. O início da mesma é inclusive repetido, ao melhor estilo “See Me, Feel Me” em Tommy (1969).

Até o encerramento com “Ordinary World”, que conta apenas com Billy Joe fazendo voz e violão, tem-se um disco sem nenhum grande deslize – ok, “Youngblood” é fraquinha, mas nada que comprometa muito. Num ano em que até o Blink 182, sem Tom DeLonge, conseguiu chegar ao topo da parada americana (e com um disco bem ruim), não há como achar injusto o fato de Revolution Radio ter alcançado a mesma posição em sua semana de lançamento. Um novo gás para uma banda que, após sua malfadada trilogia e os problemas de seu frontman com o alcoolismo, parecia sem novas ideias musicais. Ao menos caso, apostar no mais básico (ou quase isso) funcionou.

Por Matheus Henrique Pires

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