Review: Vários Artistas - Sem Palavras (2017)


No release de Sem Palavras, o jornalista Leonardo Vinhas, produtor executivo do projeto, cita uma declaração de João Donato, na qual o músico brasileiro declara que “letra é coisa que a indústria da música inventou para ajudar a vender disco”. Não deixa de ser verdade, mas também está longe de ser uma revelação fundamental e que vá mudar o seu jeito de consumir música.

Sem Palavras é o novo lançamento do Selo Scream & Yell, braço do site comandado pelo jornalista Marcelo Costa desde o início dos anos 2000 - acessa lá. O disco traz doze bandas brasileiras, pouco conhecidas do grande público em sua maioria, fazendo releituras instrumentais para canções de grandes nomes como Astor Piazzolla, Iron Maiden, Black Sabbath, Ramones e mais um monte de gente. Isso mesmo: sem versos, sem letras, sem palavras. Só acordes e arranjos e notas e ideias expressos através da interação entre os instrumentos. Um trabalho bastante original e que você deveria tirar um tempo para ouvir.

Conheço pessoas que não conseguem conceber a música sem vocais. Acho isso uma limitação a qual qualquer indivíduo que diz gostar de música deveria ser imune. E não tem nada de elitista ou algo do tipo nessa conclusão. Assim como “música instrumental” não é um gênero, limitar-se a um estilo ou formato de expressão musical me parece tolo e superficial. 

O que temos em Sem Palavras, como já dito, é um trabalho de uma riqueza sonora apaixonante, onde ideias nascidas em um país distante como a Inglaterra, por exemplo, ganham novos contornos através de um músico do interior do Rio Grande do Sul para quem o Iron Maiden significa tudo e mais um pouco - mesmo esse cara não tocando heavy metal, mas sim música tradicionalista gaúcha. Essa é a ideia, esse é o caminho.


Ao se deixar impactar por algo tão belo e tocante, você acaba se permitindo experimentar outros sons através de uma plataforma que não é exatamente a convencional pela qual a música chega aos ouvidos de grande parte do público hoje em dia - três minutos, melodias derivativas e um refrão pegajoso, só pra constar. Entre as doze faixas de Sem Palavras tem rock, tem pop, tem fusion, tem jazz - tem tudo. E tudo muito bom, o que torna a digestão do disco suave e redonda.

Há destaques, é claro, como em qualquer forma de expressão artística. No entanto, fico aqui com os meus preferidos, guardo as faixas que mais gostei para mim enquanto espero você descobrir quais são as suas. É por aí que a coisa funciona: cada um traz o seu background, a sua história na música, e com ele vai caminhando para diferentes trajetos - alguns familiares, outros desconhecidos e hipnotizantes.

Sem Palavras é um projeto importante por documentar a riqueza da música brasileira atual, seja ela instrumental ou não. Ouça, conte para os amigos, faça esse disco chegar ao maior número de pessoas possível. Elas irão lhe agradecer pelo presente.

Faixas:
1 Ruído/MM - Buenos Aires, Hora Certo (Astor Piazzola)
2 Yangos - The Trooper (Iron Maiden)
3 Esperando Rei Zula - Always On My Mind (Brenda Lee)
4 Muntchako - Emoções (Roberto Carlos)
5 Pata de Elefante - Monkey Man (Rolling Stones)
6 Os Skrotes - Black Sabiá (Symptom og the Universe) (Black Sabbath)
7 Magabarat - The Telephone Call (Kraftwerk)
8 Félix Robatto - Wipe Out
9 Camarones Orquestra Guitarrística - Private Idaho (The B-52’s)
10 Terremotor - Baja (The Astronauts)
11 Mauricio Candussi - Chacarera de las Piedras (Atahualpa Yupanqui)
12 Camarones Orquestra Guitarrística - Rockaway Beach (Ramones)




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