Entrevista exclusiva com Heleno Vale, baterista e idealizador do Soulspell


O Soulspell lançará no próximo dia 25/05 o seu quarto disco, The Second Big Bang. Para saber mais sobre o álbum, sentamos e batemos um longo papo com Heleno Vale, baterista da banda, idealizador e líder do projeto. 

Heleno, pra começar eu gostaria que você comentasse um pouco sobre a história que é contada pelas músicas do novo disco, The Second Big Bang?

Obrigado pela oportunidade. A saga do Soulspell é contada desde o primeiro ato e será a mesma história até seu desfecho, muito provavelmente no sétimo ato. Esse é um diferencial importante do projeto que acredito torná-lo mais especial e interessante. No quarto álbum a história voltou a ser narrada no encarte, portanto para obter todos os detalhes desse ato, comprem o disco (risos). Resumidamente, esse ato conta o momento em que um cientista brilhante de uma grande agência aero espacial descobre, ilegalmente, que o universo está próximo de seu fim. Mesmo sem saber disso ainda, a mente de Timo, aprisionada no Labirinto das Verdades, é a única esperança de retrocesso do segundo Big Bang.

O disco foi todo gravado aqui no Brasil?

Nem todo. Algumas participações internacionais gravaram em seus próprios estúdios.

Como sempre, temos a participação de diversos vocalistas dos mais diferentes países. Como se deram as gravações das partes destes músicos? Elas foram registradas lá fora e enviadas posteriormente?

Muitos vocalistas gravaram aqui conosco, mas alguns fizeram questão de gravar em seus estúdios e nos mandar o material pronto. 

Na sua opinião, qual foi a contribuição de cada uma destas vozes neste novo disco do SoulSpell?

Na verdade a contribuição musical maior provém dos artistas que estão envolvidos na pré-produção, que acontece antes de qualquer gravação. São eles: Daísa Munhoz, Cleiton Carvalho, Tito Falaschi, Leandro Erba, Jefferson Albert, etc. Os demais artistas, na maioria das vezes, apenas interpretam as linhas guia que foram criadas aqui por mim e lapidadas pela Daísa e pelo Tito.


Ouvi The Second Big Bang e achei o disco muito bom, no mesmo nível do segundo álbum, Labyrinth of Truths (2010). Quais elementos dos três discos anteriores você enxerga no novo trabalho?

Que bom, muito obrigado. O Labyrinth of Truths é um grande álbum do metal brasileiro e acredito que este novo disco tem tudo para o suceder adequadamente quanto à preferência dos fãs. Enxergo nesse novo álbum uma aura única. Todo disco do Soulspell é diferente dos demais e enxergo isso como um ponto positivo. Geralmente, as bandas e principalmente os projetos soam um pouco enjoativos, mas acredito que o Soulspell não sofra desse mal. Assim, esse novo álbum não pode ser comparado aos demais. Ele é verdadeiramente único. Ele é mais maduro e mais ousado ao mesmo tempo. Gostamos de experimentar coisas novas e vamos continuar fazendo isso ao longo da saga. Mas, se eu tivesse que apontar algumas semelhanças desse disco com seus anteriores, eu diria que há algumas faixas que remetem à velocidade e ingenuidade do primeiro ato, como, por exemplo, a faixa-título e o single "Dungeons and Dragons", além das novas e lindas versões de "Soulspell" e "Alexandria". Outras faixas abordam, de certa forma, todo o mistério de Labyrinth of Truths, como "Game of Hours" e "Super Black Hole". Por fim, outras possuem leves pitadas de prog, remetendo assim ao terceiro ato, como "Horus’s Eye" e algumas são totalmente únicas da aura desse ato, como "The End You’ll Only Know At the End" e "Sound of Rain" (algumas de minhas faixas favoritas, dentre todos os álbuns). 

O disco será lançado apenas no mercado brasileiro ou já há um acordo para lançá-lo também em outros países? 

O disco será lançado mundialmente no dia 25 de maio, dessa vez pela Valetes Records. E o CD físico nacional será novamente lançado pela Hellion, no começo de junho.

Vamos ter uma turnê de lançamento de The Second Big Bang por diversas cidades brasileiras? E há planos de tocar no exterior para promover o álbum?

Sim. Está nos planos fazer shows nas principais cidades do país a serem divulgadas em breve e faremos de tudo para viabilizar uma turnê internacional.

The Second Big Bang é o quarto álbum do SoulSpell e, assim como os três anteriores, é um disco conceitual. Por que sempre esse formato?  Ele é o mais adequado às histórias que cada um dos álbuns do SoulSpell conta?

Todos os álbuns do Soulspell são parte de uma mesma história. Funciona como um seriado de TV, como Game of Thrones. Ainda não sabemos quantos atos levaremos para contar toda a saga, mas o certo é que todos os atos farão parte desta mesma história. 


O último disco do Soulspell, Hollow’s Gathering, saiu em 2012. Passaram-se cinco anos até o novo trabalho. O que você andou fazendo durante todo esse período?

Muita coisa. Não paramos de trabalhar um dia sequer. Nesse período fizemos o álbum mais complexo que jamais fizemos, o The Second Big Bang, que envolveu inúmeras participações nacionais e internacionais, estúdios diferentes, diversos novos contatos, etc. Além disso, nos dedicamos um pouco a gravar merecidos tributos e pretendemos, em breve, lançar um álbum só de tributos. Gravamos um tributo ao Helloween que contou com mais de quinze artistas e hoje já está com mais de 1 milhão de views no YouTube. Que eu saiba, nenhum vídeo do próprio Helloween para a música "We Got the Right" possui mais views que este nosso. Gravamos um tributo à Celine Dion, com um final super inusitado e surpreendente, cantado por Pedro Campos e Daísa Munhoz. Gravamos um tributo ao Edu Falaschi, onde interpretamos a música "Spread Your Fire" com Tim Ripper Owens, Ralf Scheepers e Daísa Munhoz cantando. E, por fim, gravamos um tributo ao Ayreon com 1h30 de duração em áudio e vídeo. Esse último tomou dois anos do nosso tempo e todos esses vídeos somados demandaram muito, mas muito tempo e dedicação da nossa equipe. 

Outro ponto é o conceito da Metal Opera, explorado pelo SoulSpell desde o início. Como surgiu a ideia de montar algo nessa linha, e quais foram as dificuldades para concretizá-la?

A ideia surgiu porque gostamos muito do estilo e havia uma lacuna, pois nenhuma banda estava fazendo shows desse tipo na época em que começamos. Hoje em dia há algumas poucas bandas que fazem shows de Metal Opera, mas, mesmo assim, não é algo teatral, como o Soulspell tenta fazer sempre que pode. A exceção é o Ayreon que acabou de lançar um DVD teatral, mas a pegada é totalmente outra, é prog e não power metal. Quanto às dificuldades para montar algo desse tipo, elas são inúmeras e muito maiores que as dificuldades que uma banda normalmente tem para se firmar. Lidar com um número gigantesco de contatos e músicos não é nada fácil. São muitas cabeças pensando e nem sempre elas pensam numa mesma direção. Foi difícil encontrar uma formação ideal para a banda, mas, agora, dez anos depois, acredito que encontramos. Estamos com uma formação excelente já faz algum tempo e pretendo continuar com esses músicos até o fim. Inclusive, eles devem ser os responsáveis diretos por uma nova fase do projeto, onde tentaremos gravar o quinto e os próximos álbuns de uma forma diferente. Vamos nos reunir e lapidar as ideias juntos antes das gravações. Acho que os próximos álbuns soarão um pouco mais diretos que os anteriores. 

Qual o tamanho da influência, tanto musical quanto conceitualmente, do Avantasia de Tobias Sammet no SoulSpell?

O projeto Avantasia é um projeto maravilhoso, liderado por uma mente brilhante e foi o pioneiro quanto ao uso da nomenclatura “Metal Opera”. Ninguém pode tirar isso deles. O Soulspell foi a segunda banda, acredito eu, a adotar o termo e, claro, esse termo foi proveniente do Avantasia, uma de nossas influências. Já no quesito “Opera”, nem Avantasia, nem Soulspell são pioneiros, já houve diversos álbuns de bandas de rock que se arriscaram nessa vertente, como Savatage e Queen, por exemplo. Eu realmente gosto muito dos dois primeiros discos do Avantasia, mas, musicalmente falando, há diversas outras bandas que influenciam bem mais nosso trabalho, como Sonata Arctica, Iron Maiden, Blind Guardian, etc

Um trabalho dessa magnitude, com o envolvimento de diversos músicos e com uma história contada em partes em cada uma das músicas, só funciona com a liderança central de um dos músicos, como é o seu caso?

Eu centralizo alguns aspectos do projeto em mim, para que haja um ponto de equilíbrio e para que as coisas não saiam do eixo. No entanto, musicalmente, deixo os músicos livres para criar.


Eu acho o trabalho da banda legal pra caramba e bastante diferenciado, além de muito complexo. Deve ser extenuante liderar um projeto assim, ainda mais quando não há, pelo menos ao meu ver, um reconhecimento comercial e financeiro equivalente aqui em nosso país. Isso chega a desmotivar todo o processo?

É bem difícil, mas não desmotiva a esse ponto. Nunca deixarei que as composições em si sejam afetadas pela falta de retorno financeiro. Ainda acreditamos que o projeto possa dar retorno financeiro a médio prazo. Por enquanto, para lidar com isso, optamos por não viver da música e fazermos somente o som que amamos. 

Levar tudo isso para o palco nem sempre é fácil, devido a presença de um grande número de músicos. Há planos de realizar um show ao vivo com a presença de todos os nomes que já participaram dos discos do SoulSpell, em uma grande celebração aos dez anos do primeiro disco, A Legacy of Honor (lançado em 2008) e ao trabalho da banda?

Os custos são bastante altos, mas, sim, está em nossos planos uma turnê comemorativa do A Legacy of Honor e um show com todos, ou com a maioria das participações. Nesse aspecto, precisamos de um suporte financeiro externo, alguém que queira investir no projeto ou a aprovação de algum projeto de incentivo. Eu acredito muito no Soulspell e acho que ele poderia ser sustentável e até produzir frutos financeiros tão bons quanto as maravilhosas mensagens de carinho que colhemos de nossos fãs a cada lançamento. 

Como o Soulspell tem sido aceito no Brasil e no exterior?

Eu sei que não deveria, mas não penso muito nesse lado. Como não vivo da música, me dou o direito de criar apenas o que curto e não algo que possa ser mais bem aceito no mercado atual. Claro que torço para que um dia nosso som seja tão bem aceito quanto os sons mais modernos, mas não vou mudar nosso estilo para isso. O mundo da música é uma espiral e um dia os estilos que estão em alta, estarão em baixa. Sendo assim, tudo leva a crer que haja alguma possibilidade de que o estilo feito por sua banda possa um dia estar em alta. Espero estar vivo para ver isso. Sendo um pouco mais direto na resposta, posso dizer que os álbuns e vídeos estão recebendo excelentes críticas e resenhas. Sentimos que estamos aprendendo a cada dia, a cada nova música. Estamos felizes e orgulhosos com o que fazemos. Os fãs estão se acumulando no YouTube e no Facebook, já são mais de 30 mil no Facebook e mais de 10 mil no YouTube. Então, acredito que, se analisarmos toda a trajetória, a tendência é positiva e acelerada. Estamos muito animados e confiantes para lançar novos trabalhos. As ideias estão fluindo e nossa química como banda está cada vez melhor.

Imagino que você leia bastante, já que as histórias contadas nos discos do Soulspell são bem interessantes. De onde vem a inspiração para elas?

A inspiração vem de tudo que faço no ramo da ciência e de todas as relações pessoais, conversas, discussões, etc. Também de tudo que leio e assisto, mas, principalmente, dos meus próprios pensamentos sobre a vida e a existência. Eu não faço nada forçado. Tento escrever o que eu gostaria de ler, o que acho interessante e diferente, ou engraçado. Não quero mudar a crença de ninguém, trata-se apenas de uma boa história para virar teatro, livros, filmes e, principalmente, música.


Quais são as suas principais influências não apenas na música, mas também na maneira de tocar bateria?

Minhas influências musicais são estranhamente variadas: Iron Maiden, Blind Guardian, Sonata Arctica, Slayer, Ayreon, Sepultura, Tears For Fears, Michael Jackson, Celine Dion, Metallica, Maná, Judas Priest, Alanis Morissette, Queen e por aí vai. Como baterista gosto muito do Alex González do Maná, Neil Peart, John Bonham, David Grohl, Ian Paice, Dave Lombardo, Nicko McBrain, Chad Smith, etc.

Heleno, você já está na estrada com o Soulspell há quase 10 anos, e antes já tinha uma carreira como músico. Pergunta simples e direta: atualmente, dá pra sobreviver de música aqui no Brasil tocando heavy metal?

Essa é fácil: não.

Cara, obrigado pela entrevista, e sucesso nesse novo capítulo da saga do SoulSpell.

Eu que agradeço a oportunidade. Muito obrigado!

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