John Constantine é um dos mais cultuados personagens das histórias em quadrinhos. Criado por Alan Moore após perceber a insistente inclusão de um homem loiro com um longo casaco em diversas de suas histórias, o personagem surgiu de um desejo dos artistas Steve Bissette e John Totleben em desenhar um cara inspirado em Sting, vocalista e baixista do The Police. Moore sentou com ambos e concebeu o mago inglês, errático, bêbado, mulherengo e com conduta questionável, um dos maiores anti-heróis das HQs.
Ao lado do Monstro do Pântano do próprio Alan Moore, do Sandman de Neil Gaiman, do Homem-Animal de Grant Morrison e do Preacher de Garth Ennis, Constantine é um dos pilares do selo Vertigo, criado pela DC Comics para produzir e publicar gibis destinados ao público adulto. Sua primeira aparição aconteceu na edição 37 da revista do Monstro do Pântano, publicada nos Estados Unidos em junho de 1985. A popularidade do personagem foi instantânea, o que levou Karen Berger, editora da Vertigo, a decidir pela criação de uma revista exclusiva. Ela veio em 1988 com o título de Hellblazer, em histórias escritas por Jamie Delano e desenhadas por John Ridgway. E é justamente essa fase que está de volta às bancas brasileiras.
Antes de seguirmos com o texto, é preciso falar um pouco sobre a publicação de John Constantine aqui no Brasil. O personagem passou por diversas editoras no mercado nacional. Brainstore, Atitude, Metal Pesado e Tudo em Quadrinhos realizaram um trabalho no mínimo questionável, cheio de erros de tradução e editoriais. As coisas melhoraram com a Pixel Media e a Devir, com ambas publicando encadernados com arcos fechados (Hábitos Perigosos saiu em 2008 pela Pixel, enquanto Nas Ruas de Londres e Poder Infernal foram publicados em 2005 pela Devir).
Mas foi apenas quando a Panini adquiriu os direitos de publicação do personagem que as coisas entraram nos eixos. A editora, que é responsável pelas edição nacionais das HQs da Marvel e da DC, decidiu publicar a saga de John Constantine em encadernados com arcos fechados e divididos por fases, sendo essas definidas pelos seus escritores. Assim, já tivemos cerca de quarenta encadernados lançados, com praticamente toda a saga saindo no nosso mercado, com exceção de apenas alguns arcos.
O início de tudo está em Hellblazer Origens: Pecados Originais, que saiu pela primeira vez em agosto de 2011 e acabou de ganhar uma nova edição. A diferença entre ambas é crucial: a primeira saiu em papel jornal, enquanto a nova foi impressa em papel LWC, de melhor qualidade. Aqui está o começo de tudo, o desdobramento que Jamie Delano deu à criação de Alan Moore, com a construção de todo o universo de personagens e de estilo que marcariam a trajetória de Constantine. São histórias de mistério e suspense, algumas vezes com investigações policiais e sempre com um toque de terror e sobrenatural, que mostram o mago inglês mergulhado em um mundo extremamente realista e sem maquiagem, rodeado por personagens estranhos mas mesmo assim estranhamente próximos aos indivíduos peculiares que volta e meia encontramos pelo caminho, e tudo isso com direito a citações de diversos elementos da cultura pop.
Se você nunca leu nada de John Constantine, Pecados Originais é uma excelente porta de entrada para dar início à sua jornada e acompanhar a história de um dos personagens mais fascinantes e cultuados dos quadrinhos. Ainda que não seja essencial ler as tramas do universo de Constantine seguindo uma cronologia - você pode ir agora mesmo na banca mais próxima e começar por qualquer encadernado que encontrar -, é bem mais legal ver como o mundo do personagem foi construído e evoluiu ao longo dos anos.
A minha relação com John Constantine começou no final de julho de 2016. Estava visitando minha mãe no interior do Rio Grande do Sul e não tinha nada para ler. Fui com meu filho Matias até a única banca de revistas de Espumoso e lá encontrei dois encadernados de Hellblazer, fato que me motivou a encarar um personagem que todos falavam bem e eu ainda não conhecia. Desde então devorei 28 encadernados com suas histórias, e com exceção da fase escrita por Denise Mina, recomendo todos.
Pegue um whisky, acenda um cigarro e venha para o universo de John Constantine. Ou, se preferir, apenas sente em seu sofá e mergulhe nas páginas desse personagem incrível acompanhado por um revigorante bule de café. Não há como não se divertir.
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