Minha Coleção: metal, prog, bossa nova, jazz, música brasileira e rock catarinense no acervo de Daniel Silva
Daniel, nós conversamos pela primeira vez há quase quatro anos, em novembro de 2013. O que mudou de lá pra cá na sua coleção?
Sempre sonhei em colecionar vinis. Comecei pegando alguns que estavam guardados na casa do meu pai, conheci um sebo (Eureka) com acervo gigantesco e preço justo. O dono é uma enciclopédia e acabou se tornando meu amigo. Em menos de três anos adquiri mais de 500 LPs. Por causa do meu blog, também, acabei ganhando muitos discos de bandas catarinenses. São mais de 100 CDs.
Passado todo esse tempo, acho que vale a pena fazer tudo de novo. De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.
Tenho 31 anos, sou jornalista e vivo em São José/SC. Atualmente trabalho como assessor de comunicação em uma prefeitura da região e mantenho desde 2013 o blog Rifferama, que é dedicado exclusivamente ao cenário autoral de Santa Catarina.
Quantos discos você tem em sua coleção?
Devo ter em torno de 1.200 álbuns. Tenho tudo catalogado no Rate Your Music, mas algumas bandas, principalmente as independentes, não possuem registro no site, por isso o número não é exato. São 700 CDs, cerca de 550 LPs, uns 35 DVDs e uns 30 livros sobre música/biografias. Tenho, também, duas fitas cassete e um pendrive personalizado.
Por que você decidiu começar a comprar mais LPs e deixar os CDs em segundo plano?
Por falta de espaço e também interesse em algumas bandas acabei me desfazendo de alguns CDs (uns 100). Hoje só compro lançamentos ou discos que faltam na minha coleção. Tem todo um fetiche sobre o vinil, né? As capas, fotos, encartes. É um ritual. Chego em casa, escolho um álbum na estante e coloco pra tocar. Passo o dia todo ouvindo música no computador, mas raramente consigo prestar atenção, por causa do trabalho, etc. Quando sento para escutar os meus discos, o foco são eles. Gosto de ler a ficha técnica, aprender as letras, essas coisas que todo mundo que é apaixonado por música faz. Outra coisa legal sobre a minha coleção de vinis é que ela é bem diversificada. A maioria dos meus CDs (90%) são de bandas de metal/rock. Já os LPs a grande parte é de rock setentista, mas tenho muita coisa de jazz e música brasileira também.
Quando você começou a colecionar discos?
Comecei aos 14 anos. O meu pai me dava um dinheiro para lanche na escola e eu guardava para comprar CDs na Roots Records, em Florianópolis. Saía de casa ansioso pensando em qual seria o disco da vez. Tempo bom, mas não tenho saudade de querer levar todos e só poder comprar um ou dois por mês. Se bem que essa sensação não passa, não é mesmo? A gente sempre quer mais um, dois, todos...
Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?
Tive que reler a primeira entrevista. Pra ser bem sincero, não lembro. Mas vou manter a minha resposta. Foi o Never, Neverland, do Annihilator. Deve fazer mais de 15 anos. Ainda tenho na minha coleção e considero o melhor disco da banda. O Jeff Waters é injustiçado demais. Apesar de a discografia ser irregular, é um dos melhores guitarristas do thrash metal.
Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?
Quando um amigo disse que o sonho dele era ter o estojo que eu guardava os meus CDs, quando ainda era adolescente. Detalhe, eram apenas 48 discos. A gente se contentava com pouco...
Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?
Os CDs organizo em ordem alfabética e cronológica. Recentemente separei os discos das bandas catarinenses do restante. Os vinis eu dividia por rock/metal, música brasileira, pop e jazz. Como a coleção foi crescendo, estava difícil me achar e deixei apenas ordem alfabética/cronológica. Quando é artista solo, tipo Marty Friedman, coloco na letra F. Está funcionando bem assim.
Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?
Para os CDs eu mandei construir um armário onde também coloco os meus livros, DVDs e uso para trabalhar. Os LPs guardo em uma estante que achei numa loja de móveis usados. Estou pensando em comprar outra, pois essa já está cheia, mas aí vai bater aquela angústia de ter que encher tudo com discos, então melhor segurar a onda. O bolso agradece.
Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?
Os meus discos foram todos lavados e colocados em plásticos novos (externo e interno). Uma dica é sempre deixar o plástico externo virado para cima, assim não pega poeira e também não corre o risco de cair.
Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?
Infelizmente, não. Essa é uma busca eterna. Tomei duas atitudes para diminuir essa lista. Eu tinha mais de 100 mil mp3, ouvia muita música no computador, streaming, etc. Deletei tudo sem fazer backup. Desapeguei para poder ouvir os meus discos. Recentemente criei um perfil no Instagram (@loucoporvinil) para me forçar a "descobrir" a minha coleção. Sempre que tenho um tempo livre, coloco um disco para tocar e posto. Coloco várias fotos, vídeos e informações sobre os álbuns. A interação com outros colecionadores tem sido bem bacana.
Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?
Depende do momento. Sempre fui fã de rock e metal, mas gosto de dizer que o meu TCC, sobre os 50 anos da bossa nova (em 2008), mudou a minha vida. Era daqueles bestas que achavam que só o que eu gostava presta. Abri a minha cabeça para outros estilos e conheci muito mais coisas do que se ficasse fechado naquele mundo. Gosto muito de jazz, música brasileira e pop. Costumava citar o Megadeth como minha banda preferida (e foi por muito tempo), mas hoje o Opeth tomou esse lugar. Eles estão em um nível que nenhuma outra banda chegou, na minha opinião.
De qual banda você tem mais itens em sua coleção?
Vou citar as cinco mais:
Megadeth, 30
Iron Maiden, 29
Yes (mais Steve Howe, ABWH, Jon Anderson, Chris Squire, Rick Wakeman): 28
Rush: 22
Opeth: 18
Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?
São vários, mas o que considero mais raro é o "Tudo Foi Feito pelo Sol", do Mutantes, autografado pelo Sérgio Dias. Tenho também o disco da banda Demian (ex-Bubble Puppy), prensagem francesa. É tipo aqueles segredos bem guardados. Outro disco raro é a prensagem original do "Wave", do Tom Jobim, de 1968. Capa sanduíche e tudo mais.O meu preferido é uma edição limitada do "A Forest of Polarity", da banda Rooftops, vinil azul transparente e apenas 250 cópias. Também gosto muito dos discos de bandas argentinas que comprei uma vez quando viajei para Buenos AIres. Pescado Rabioso, Spinetta solo, Hermética, Manal, Horcas, Dragonauta, Invisible, La Maquina de Hacer Pajaros, entre outros.
Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?
Não. O máximo que eu faço é ter o disco em vinil e CD. Tenho uns 50 assim. Mas se for pra gastar, prefiro comprar o que ainda não tenho na minha coleção. Não costumo comprar discos ao vivo, então considero discografia todos os álbuns de estúdio. Tenho as discografias da maioria das minhas bandas preferidas: Opeth, Megadeth, Metallica, Pantera, Iron Maiden, Yes, Rush, Green Day (sim!) e por aí vai.
Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?
Faço coleção de qualquer coisa relacionada aos Cavaleiros do Zodíaco, o desenho que marcou a minha infância. Tenho todos os episódios em DVDs (40), camisetas, bonecos, mangás, etc. Tenho uma quantidade razoável de livros também, ainda que não me dedique o quanto gostaria à leitura, infelizmente.
Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?
Compro bastante pela internet, mas quando comecei a colecionar vinil faço questão de comprar pessoalmente. Já tive algumas decepções comprando no Mercadolivre, por exemplo, então prefiro frequentar sebos e feiras para garimpar, que é a melhor parte da coisa.
Que loja de discos você indica para os nossos leitores?
O Sebo Eureka fechou, infelizmente, mas o Roque Rossetto, que era o proprietário, atende pelo Facebook e parece que vai voltar a abrir um espaço ainda esse ano (tomara).
Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?
Não é estranho, mas eu gostava de comprar discos em supermercados. Já achei muita coisa boa perdida no meio de Zezé di Camargo & Luciano. Não posso passar na frente de qualquer loja que vende discos que já vou entrando e acabo levando alguma coisa pra casa.
O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?
Tem gente que acha desnecessário, mas geralmente a galera gosta. Meus amigos sempre gostam de ouvir os discos quando vêm aqui em casa. E ontem (20 de maio) aconteceu uma coisa engraçada. Em Biguaçu tem uma gincana tradicional, que é disputada sempre na época do aniversário do município. Tinha uma prova em que as equipes tinham que reunir o maior número de discos, em vinil ou CD, com músicas que tivessem nomes de pessoas. Na hora em que saiu a prova o meu telefone começou a tocar. Ligação e mensagens no whatsapp de gente pedindo para vir olhar a minha coleção. Na hora não gostei, sou ciumento, mas depois achei legal. É tipo uma referência, né? Ainda bem que eu não estava em casa (risos).
Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?
Por causa do Roque, do Sebo, acabei conhecendo uma galera que coleciona discos. Um pessoal mais velho que eu, fã de rock progressivo e jazz, os Camangas. Eles fazem reuniões esporádicas durante o ano, sempre com um tema, e levam discos para ouvir e ficar discutindo. O Guilherme Zimmer tem uma coleção de encher os olhos. Muitos CDs, vinis, rolos, 8-tracks e o que mais puderes imaginar. Um dia eu chego lá.
Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?
A minha coleção não é a maior de todas. Longe disso. Mas além de ela contar a minha trajetória enquanto fã e consumidor de música, acredito que ela "abraça" um grande período da história. Se um dia eu tiver um filho, vou ter a possibilidade de explicar para ele o contexto e época em que cada álbum foi lançado, mostrar a evolução dos estilos conforme a passagem das décadas. Seria interessante.
Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?
Acho que tu nunca vai encontrar um entrevistado que vai dizer "sim, chega". Eu tenho uma lista de discos que gostaria de ter e vez ou outra acabo atualizando. Já aconteceu de eu ficar meses sem comprar nada e épocas de comprar dezenas questão de dias. Nunca vai acabar.
O que significa pra você ter mostrado e voltar a mostrar a sua coleção aqui na Collectors Room?
Pra mim é uma honra estar entre tanta gente boa e coleções de alto nível. A cada entrevista publicada fico com mais e mais vontade de ampliar o meu acervo. Obrigado pela oportunidade.
Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?
A banda que mais tenho ouvido nos últimos tempos é The Mire. Eles são da Inglaterra e fazem um som muito pesado (sludge/post-metal), com bastante melodia. Consegui comprar um EP e um split deles por 5 e 6 dólares no site de uma gravadora independente. Imagina a alegria. Pena que o grupo acabou. Tinham grande futuro. O Rooftops é a minha válvula de escape. Ouço sempre que estou ansioso ou puto: ele cura tudo. Também tenho escutado muitas bandas catarinenses por conta do blog. As que tenho ouvido mais no momento são Carinae, Noahs e Cobalt Blue.
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