Minha Coleção: Tiago Neves, do blog The 7th Wall, mostra os seus discos


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Olá! Meu nome é Tiago Neves e tenho 30 anos. Sou nascido e criado no município de Três Rios, interior do Rio de Janeiro, mas moro há três anos em Belo Horizonte. Sou Administrador por formação e colecionador por compulsão. Além disso, sou músico desde os 11 anos de idade, e depois de começar a escrever sobre música e colaborar com textos para sites como o Whiplash e para o próprio Collectors Room, criei em 2011 o meu próprio blog, o The 7th Wall, que apesar de se encontrar em um hiato no momento pretendo retornar em breve e em novos formatos, pois essa é a forma que encontrei atualmente para expressar minha paixão por essa arte tão cativante e envolvente que é a música para o maior número de pessoas possíveis.

Quantos discos você tem em sua coleção?

Atualmente não consigo precisar com exatidão o número exato de itens que eu possuo, pois minha coleção se encontra dividida entre a casa dos meus pais em minha cidade natal e minha residência atual, aqui em BH. Mas, chutando por baixo, creio ter cerca de 2.000 itens no total, incluindo-se aí CDs e DVDs. Livros específicos sobre música (biografias, etc) tenho por volta de 300.

Quando você começou a colecionar discos?

Foi na época de moleque, entre 2000 e 2001 quando, com 16 anos, alguns colegas de escola começaram a me “injetar” as primeiras bandas de rock, como Legião Urbana, Guns N’ Roses, Ozzy Osbourne e Iron Maiden. Daí em diante, minha vontade de conhecer o maior número possível de bandas do estilo foi crescendo de uma forma tão intensa que adquiri a obsessão de possuir o máximo de itens possíveis das bandas que aos poucos vinha descobrindo e absorvendo a sonoridade.





Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Impossível não lembrar! O primeiro item da minha coleção foi o estupendo Somewhere in Time, do Iron Maiden. Lembro como se fosse hoje do impacto que aquela capa, com o Eddie em sua versão cyborg e a infinidade de detalhes que continha na ilustração, causou em minha pessoa, antes mesmo de ter ouvido o seu conteúdo. Comprei-o às cegas (ou melhor, às surdas hehe) e quando coloquei a bolachinha pra tocar no meu humilde aparelho de som que tinha na época, fez todo o sentido pra mim a sintonia entre os desenhos de Derek Riggs e o som futurista e repleto de sintetizadores do disco.

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Quando passei a ter mais discos em casa do que dinheiro no bolso! (risos) Como a paixão em ter os trabalhos originais foi só crescendo e na época, apesar de já trabalhar, ainda morava com meus pais, comprava cerca de cinco ou seis itens por semana. Costumamos reclamar do preço dos discos hoje, mas numa cidade pequena e do interior esse valor era absurdamente maior nas pouquíssimas lojas que lá existiam há dezesseis anos atrás, isso antes da chegada das Lojas Americanas ao município! (risos) Ainda assim, os comprava. Daí foi um instante para meu objetivo ser possuir a discografia completa de minhas bandas favoritas, ou ao menos os trabalhos que considero fundamentais na obra dos meus artistas prediletos. 

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Como disse acima, atualmente minha coleção está dividida entre Três Rios e Belo Horizonte. Porém, trouxe para cá os discos que considero melhores ou que me causam alguma nostalgia por algum motivo. Porém, em ambas as “coleções”, considero imprescindível organizar por ordem alfabética e cada artista com suas obras organizadas cronologicamente, de acordo com seu lançamento. É quase um “TOC” mantê-los organizados, e quem vem à minha casa sabe que somente eu mexo neles, e que se quiserem ouvir algo, tem que me pedir para pegar. (risos)




Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Então... basicamente mantenho os itens de bandas que possuo discografia completa e/ou considero mais importantes entre todos guardados em suportes plásticos, daqueles baratinhos mesmo para 15 ou 25 CDs em cima de uma mesa, sendo que todos os discos da coleção eu coloco em saquinhos para evitar marcas de dedo ou do tempo. Itens em digipak e slipcase mantenho guardados à parte, em um móvel à parte, envolvidos em saquinhos plásticos mais resistentes. Os livros, além dos principais que ficam na mesma mesa dos CDs, improvisei e customizei caixas de legumes que eu pegava nas feiras, envernizava e tratava para parecer um móvel rústico. Mas pretendo, quando me mudar para um apartamento maior, o que deve acontecer em breve, construir um móvel próprio e mais adequado para guardar todos os discos e livros da forma que merecem ser mantidos.

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Recomendo manter os itens longe do sol, ouvindo e limpando frequentemente cada um deles. A tentação é grande de chegar e colocar pra tocar um disco, mas é muito pertinente lavar bem as mãos antes de manuseá-los, evitando assim manchar os itens com gordura ou outra sujeita qualquer.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

Essa é a pergunta que mais ouço de pessoas que descobrem que coleciono discos! Confesso que não ouvi todos ainda, e acho que essa é uma das magias de possuir uma coleção vasta de discos. Apesar de ter os meus discos prediletos e que são colocados pra tocar com uma certa frequência, é muito legal descobrir aquele item “perdido” lá no meio da coleção e que é escutado pela primeira vez. Na maioria das vezes, me arrependo de não tê-lo ouvido antes, porém algumas vezes preferiria não ter tirado da embalagem original. (risos)




Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Meu gênero favorito é aquele que me fez ter essa paixão em comprar discos: o rock, em suas subdivisões hard rock, heavy e thrash metal. Minhas bandas favoritas no estilo são Iron Maiden, Megadeth, Queen e Ozzy Osbourne. À parte desses gêneros mais “pesados”, sou um apaixonado por Pink Floyd, colocando acima de todos os itens que já ouvi na vida o The Wall (1979).

De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

Sem dúvida, a banda que preenche a maior parte da minha coleção é o Iron Maiden. São cerca de 90 itens do grupo, incluindo aí CDs, DVDs, livros e outros diversos. Desde o princípio minha maior obsessão entre todas as bandas que me apaixonei foi de completar a discografia da banda do Steve Harris. Apesar das pessoas terem o costume de me associar mais ao Pink Floyd, a qual também tenho uma quantidade razoável de itens por causa do disco que citei na pergunta anterior ser ouvido e citado quase que religiosamente por mim, o Maiden possui um espaço considerável no meu coração desde o começo de tudo.




Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Considero a minha coleção bem “convencional”, na falta de outro termo mais adequado para defini-la. Sendo assim, tenho poucos itens que considero como raros em meu acervo. Ainda assim, posso destacar três itens: tenho um carinho especial pela trilogia Kissology, do Kiss, pela dificuldade que foi na época encontrar todos os três boxes que o compõem, e pela riqueza de detalhes dos mesmos. Realmente Gene Simmons trabalhou bem demais ali, e lançou algo que deve ser realmente considerado como “item de colecionador” para quem deseja obter algo em vídeo da banda. Além desses, me orgulho demais da minha discografia completa dos Beatles remasterizada em 2009, com faixas multimídia e capas em paper/cardboard sleeve. Tenho também uma edição italiana do Forevermore, do Whitesnake, em versão digipak e com DVD bônus, cortesia do brother Tuka Coverdale, um conhecido músico e lojista de discos de Juiz de Fora, que guardou esse disco pra mim sabendo que eu curtia a banda tanto quanto ele. E por último, tenho uma edição do Angels Cry do Angra, que é especial na minha coleção mais do que pela qualidade musical do disco, mas pela circunstância em que ele foi autografado pelo Kiko Loureiro em 2011, com sua costumeira cara emburrada, doido pra ir embora depois de ter realizado seu workshop. Guardo esse item com carinho e mostro a todos que perguntam por ele como o disco que o Kiko autografou com completa má vontade de fazê-lo. Mesmo assim, desejo sucesso a ele junto do Mustaine no Megadeth, vamos ver só quanto tempo os dois egos super inflados vão durar juntos (risos).

Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

De maneira alguma! (risos) Sinceramente, não vejo sentido nisso. Penso muito no porquê de ter 300 versões do mesmo disco se posso empregar o dinheiro gasto nisso em 300 oportunidades de ouvir outras bandas, e assim conhecer sons diferentes. A discografia completa dos meus artistas favoritos já me basta, ou ao menos os discos que mais curto nas bandas que considero fundamentais.






Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Eu me defino como um “colecionador de coleções” (risos). Mantenho, além de CDs e DVDs, livros, revistas do segmento (Roadie Crew, Rolling Stone) e de guitarra (Guitar Player, Cover Guitarra, etc), pôsteres e o que mais me interessar relacionado aos meus artistas, bandas ou discos favoritos. Também coleciono graphic novels e estou começando a colecionar rótulos de cervejas especiais. Porém, infelizmente não possuo nenhum LP, o que é uma eterna frustração para mim! Tracei como objetivo começar uma coleção de vinis tão logo me mudasse para BH, o que aconteceu há três anos, porém, por diversas circunstâncias, ainda não consegui começar a bendita coleção nesse formato. Mas um dia ainda consigo! (risos)

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Ultimamente tenho comprado bem poucos discos, pois meu espaço atual não permite possuir um acervo maior no momento. O Spotify tem me atendido muito bem no momento pela praticidade de se ouvir um novo lançamento, muito melhor do que encher o HD do computador de arquivos MP3 de qualidade duvidosa. Diferentemente de como fazia há alguns anos atrás quando não tinha internet, onde eu fazia garimpo nas lojas pelos discos que me interessavam, atualmente busco mais na internet mesmo por algum lançamento.

Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Para quem tem uma coleção como a minha, onde as raridades não predominam, as grandes redes como a Saraiva atendem muito bem, apesar de geralmente os preços dos discos não condizerem com o valor real do trabalho. Eu acho absurdo pagar mais de trinta reais em um disco simples em jewel case, por exemplo!




Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Aconteceu uma situação bem estranha tão logo conheci e me mudei para BH. Muita gente me falava da famosa Galeria do Rock da Praça Sete, e que eu encontraria muita coisa boa lá para completar meu acervo. Com as melhores expectativas do mundo, fui conhecer o lugar. E não é que, para minha surpresa, vi um monte de lojistas de lá vendendo itens piratas, com capinhas xerocadas da forma mais vagabunda possível! (risos) Foi uma tremenda broxada enquanto colecionador! Os que vendiam itens originais cobravam um absurdo por itens em sua maioria usados. Foi estranho pra mim, e quase não voltei lá depois dessa experiência. Que me desculpem os lojistas honestos de lá que vendem itens originais (risos).

O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Sou sempre considerado o “maluco” no meu círculo de amigos, afinal, “pra quê comprar original se eu posso baixá-los”, dizem eles. O que a maioria das pessoas não entende é que a música é uma forma de arte, certamente a mais popular delas, e que é inestimável o prazer de abrir um disco novo, sentir o cheiro do encarte, colocar a bolacha com todo cuidado no aparelho e ouvir o disco lendo as letras. É um sentimento que só quem coleciona sabe expressar.




Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Apesar da toda coleção ser algo bem peculiar, me inspiro em gente que está nessa empreitada há muito mais tempo do que eu. Desde os tempos que eu lia essas entrevistas com colecionadores que tu fazias na época do Whiplash, pensava em um dia poder apresentar a minha também. Ou seja, você Ricardo, foi uma das grandes inspirações para eu entrar de cabeça nesse universo dos colecionadores de discos!

Opa, que honra, obrigado! Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

Penso muito no que estou deixando de herança para meus filhos no futuro. Muito mais do que o valor financeiro (muita gente me fala que com o dinheiro que gastei com discos eu poderia facilmente comprar um automóvel razoável hehe) tem o valor nostálgico, da arte eternizada em alguns minutos dentro de um compact disc, e em todas as coisas boas que a boa música proporciona para quem a aprecia ou coleciona, como é o nosso caso.

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Acredito ser impossível eu dizer isso um dia! Sempre que eu penso em dar por encerrada minha missão de comprar discos, aparece um lançamento ainda mais atrativo e em belo formato. Apesar de, como disse acima, comprar muito menos discos atualmente, não resisto a um bom lançamento em digipak, que é o formato que eu mais tenho comprado agora.




Qual o papel da música na sua vida?

A música, no meu caso, foi a arte que fez um moleque de onze anos passar ter um rumo a seguir na vida, primeiramente aprendendo a tocar teclado, depois violão, guitarra, e começando a comprar discos aos 16 anos. É a música que desperta em mim os melhores sentimentos, que me acalma quando estou com raiva, que me faz chorar quando um disco me lembra um bom momento do passado, enfim, é a companheira que nunca me deixa quando estou na solidão da minha casa. E sim, ela nunca te abandona, seja nos melhores ou piores momentos da nossa vida!

O que significa ser um colecionador de discos?

Além de ser o “maluco” do círculo de amigos, colecionar discos é manter em casa obras de arte atemporais, é olhar para cada disco e lembrar de bons momentos e ocasiões que deixei de comprar coisas mais importantes em prol da minha obsessão por música, e não se arrepender disso. Música é vida, e a minha coleção é um dos meus maiores orgulhos!

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

Atualmente não consigo parar de ouvir dois discos. O Alucinação, do Belchior. Infelizmente o cara teve que morrer pra darmos valor pra obra dele, e esse disco em especial é absurdamente sensacional! Estou ouvindo também sem parar o Espiral de Ilusão, o mais recente lançamento do Criolo. O cara caiu com os os dois pés no samba, e me arrisco a dizer que, além de já o considerar sem dúvida como o disco do ano, afirmo sem sombra que este é um dos melhores e mais deliciosos discos de samba dos últimos tempos! Recomendo muito!

Por último, obrigado pela oportunidade de mostrar uma parte da minha paixão pela música em forma de discos para todos os seus leitores!




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