Minha Coleção: um papo sobre música e discos com Gleison Junior, do Roadie Metal


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Primeiramente, quero agradecer a oportunidade. Confesso que sou leitor da Collectors Room desde 2008, esse site é uma das maiores referências que tenho na minha carreira. Para quem não me conhece, sou o Gleison Junior, idealizador de tudo que está relacionado a Roadie Metal. Atualmente produzimos um programa (ao vivo) com transmissão pelo Facebook e YouTube, além de estarmos prestes a lançar a primeira coletânea em DVD da história do metal nacional e já ter lançado nove edições físicas da coletânea Roadie Metal, envolvendo mais de 280 bandas. Possuímos uma assessoria de imprensa que gerencia a carreira de vários grupos brasileiros, e não menos importante, o site Roadie Metal.

Quantos discos você tem em sua coleção?

Atualmente devo ter uns 800 álbuns. Já tive muitos outros, mas na adolescência eu acabei me desfazendo de grande parte de minha coleção, para não dizer que foi ela toda. Fiz isso por vir de uma família humilde e, com sonhos e planos de conquistar o mundo, acabava vendendo meus preciosos álbuns com o intuito de obter dinheiro e com ele poder realizar viagens, shows, festas e, claro ter uma namorada! (risos)

Quando você começou a colecionar discos?

Foi aos 11 anos. No meu aniversário, minha mãe me deu um microsystem que tocava CD, e junto com ele ganhei R$ 20, que na época era uma fortuna! Assim começou minha obsessão em adquirir álbuns dos meus ídolos.

Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Me lembro como se fosse ontem. Com os R$ 20 que havia ganho de aniversário, fui a uma Lojas Americanas. Nunca tinha escutado Sepultura na vida, mas aquele nome tinha me deixado completamente fascinado. Logo que saí da aula, corri para a Americanas e fui lá fuçar nos álbuns do Sepultura. Não sabia qual escolher, porém tinha um cara mais velho, barbudo e com uma camiseta preta, mexendo também nos discos do Sepultura. Me lembro de pegar o primeiro que vi na frente e dizer a ele: "Esse aqui é muito bom, né??". Ele meio que desdenhando, olhou pra mim com calma, pegou um Beneath the Remains e disse: "Esse é melhor, um clássico!". Peguei da mão dele e levei na hora!!! (risos)

Confesso que demorou um bom tempo para eu digerir aquele som pesado e extremo, mas com o tempo o Sepultura se tornou uma banda que admiro muito até hoje.

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

O metal proporciona isso aos fãs do estilo. Uma grande diferença do gênero musical que eu curto para os demais é que uma banda, quando lança um álbum, ele é uma obra como um todo, não apenas uma ou duas músicas. O grande diferencial é justamente querer ter tudo aquilo que os ídolos lançam, acompanhar e aguardar com ansiedade os próximos lançamento desde discos, CDs, camisetas, bottom, chaveiros, DVDs e afins.


Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Ordem alfabética, sem determinar gêneros, mas sim o ano de lançamento de cada álbum. Em minha coleção vai de A a Z!

Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Tenho uma área reservada em minha casa, onde é meu escritório. Nela eu deixo tudo que é relacionado ao meu trabalho, com isso meus discos ficam logo acima de mim. Tive que criar uma estante que eu mesmo fiz, mas sempre estão sob meu alcance e visibilidade.

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Manter em local arejado e sempre plastificar os discos, para que preservem a qualidade e originalidade.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

Sim, com certeza já ouvi tudo que tenho!! Atualmente confesso que escuto sim, mas pela correria do dia-a-dia eu digitalizei tudo e repassei para meu iPod. Com isso geralmente estou ouvindo minhas playlists. Inclusive nesse momento estou respondendo a entrevista com meus fones de ouvido no último volume.

Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Nem eu sei ao certo isso! (risos) Mas sou um amante do thrash metal, heavy metal e hard rock. Bandas que amo e sempre amarei são Metallica, Iron Maiden, Dio, Kiss, Gojira e Opeth.


De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

Metallica, Iron Maiden e AC/DC. Creio que isso se deva ao fato de serem as mais populares e fáceis de se encontrar.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Meu Kiss Alive de 1975 versão original! Esse é raro e pra mim único!!

Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Eu me contento em completar a discografia, não tenho nada repetido por ser uma versão diferente ou relançamento em um país X. Ao invés de comprar algo que já tenho, prefiro comprar aquilo que ainda não tenho.

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Sim, possuo uma coleção ainda pequena de biografias de bandas que eu curto. Atualmente estou lendo a bio do Paul Stanley, mas já li a do Metallica, Ozzy, Black Sabbath, AC/DC, Slash, Dave Mustaine, Slayer, Bruce Dickinson, Michael Jackson e umas outras que agora não me recordo. Todas mencionadas eu tenho em minha coleção.


Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Atualmente não tenho comprado LPs mas sim CDs, devido ao alto custo e dificuldade de encontrar, afinal moro em Goiânia e, querendo ou não, aqui é um lugar meio escasso de material voltado ao metal, ainda mais sabendo que aqui se você chacoalhar uma árvore cai uma dupla sertaneja.

Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Confesso que me apertou muito agora. Não sei se eles vendem discos ainda, mas vai aqui minhas indicações de duas excelentes distribuidoras: Hellion Records e Shinigami.

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Uma vez um conhecido de um amigo disse que um tio dele tinha uns discos velhos e queria vender para comprar umas peças para a moto dele que estava estragada. Com isso eu e meu amigo acompanhamos esse conhecido. Chegando na casa desse tio dele, era uma viela feia, tipo uma quebrada assustadora. Pensamos na hora "putz, fudeu, vamos ser roubados aqui! (risos). Mas que nada, foi tudo tranquilo e ainda tivemos uma aula de som setentista e oitentista do tio dele, alem de termos comprado vários itens de coleção.

O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Não me importo nem um pouco com o que os outros pensem, mas sim com o legado que vou deixar para os meus filhos. Quando olho minha coleção eu tenho a certeza que isso tudo ficará para meus dois filhos, eles gostando ou não de metal.

Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Sinceramente, não! Apenas curto ter meus títulos a minha disposição.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

O principal é a textura na audição de um disco original, a qualidade é o grande diferencial. Atualmente poucos tem essa percepção e conseguem entender cada nota, cada instrumento sendo muito bem conduzido nas harmonias das músicas.

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Jamais me vejo chegando nesse ponto. Algo que não consigo pensar é em um dia parar de aumentar minha coleção de discos.
  
O que significa ser um colecionador de discos?

Muito subjetivo isso, mas na minha opinião é valorizar a arte em sua originalidade, ser autêntico na hora de apreciar a arte como ela foi criada.

Qual o papel da música na sua vida?

Absolutamente tudo!! A música é a impulsão para qualquer desafio ou conquista, uma trilha sonora para a alma ser conduzida em todas as dificuldades e momentos de prazer.


Você é o responsável pelo Roadie Metal, site e programa de rádio que tem aberto uma porta importante divulgando as bandas brasileiras de rock e metal. Fale um pouco sobre esse projeto.

Ele teve início dia 10 de maio de 2014 com um simples programa de web radio. Atualmente somos considerados o primeiro programa a passar suas transmissões em áudio para imagens, com transmissão ao vivo pelo Facebook e YouTube. Estamos angariando cada vez mais público e quem chega para assistir sabe que irá encontrar apoio total ao metal nacional, entrevistas ao vivo, álbuns tocados na íntegra, interação com quem nos assiste e sorteio de vários CDs, para manter a chama e o amor pelo material físico ainda vivo.
  
Sobre o site, sou muito grato a um grande amigo, André Pasquali. Ele foi acompanhando de longe o crescimento do programa e da página no Facebook. Com isso há dois anos, ele que é um dos mais geniais web designers de sites, entrou em contato e me presenteou com o site Roadie Metal. Atualmente possuo uma equipe lindíssima com mais de vinte colaboradores e vários outros querendo fazer parte da equipe.

Pessoalmente, acho que o trabalho que você realiza na Roadie Metal, com o lançamento de coletâneas periódicas reunindo novas bandas brasileiras, é não apenas fundamental mas quase único no Brasil. Como tem sido o retorno de tudo isso?

Muito obrigado por esse reconhecimento, vindo de você é uma honra imensa. A ideia central sempre foi divulgar ao máximo as bandas nacionais. Sou um amante do metal brasileiro. Hoje sei da importância que essas coletâneas tem no país e também fora dele, recebemos criticas sempre positivas de vários veículos de comunicação, sempre resenhando com afinco e apoio nosso projeto. Quando comecei com essa coletânea, o país tinha apenas um trabalho similar a esse, mas era com uma média de 25 bandas, sendo apenas 2 ou 3 brasileiras. Quando eu lancei a primeira edição ninguém deu muita moral para esse trabalho, mas a partir do volume 2 as coisas começaram a mudar, tanto que hoje o que mais se vê no país são novas coletâneas. A coisa meio que inflamou e hoje qualquer um acha que pode lançar uma coletânea com bandas nacionais, e de fato pode mesmo, mas o bicho pega ao criar o planejamento de custos, distribuição, respaldo aos músicos envolvidos, divulgação em mídias virtuais, seja rádio, sites, blogs, zines, revistas, YouTube e outros. Aí as pessoas enxergam a diferença entre as coletâneas Roadie Metal e as outras.

Torça para que todos tenham sucesso, mas confesso que para isso precisam ser mais autênticos e trabalhar pesado, coisa que somente a Roadie Metal sabe fazer em se tratando de coletânea brasileira.

Quais são os planos para a Roadie Metal no futuro?

Dia 18 de maio estamos lançando oficialmente o primeiro e único DVD de clipes da história do metal nacional. Será uma coletânea com alto padrão gráfico, inspirada em materiais de bandas alemãs, com distribuição gratuita para a imprensa e veículos de comunicação. Além de divulgar os clipes de 34 bandas do país, a Roadie Metal mostra novamente que não bastam cópias, nós temos que criar e isso tenho o maior orgulho de saber que sou o criador desse projeto que irá entrar para a história da música pesada brasileira.


Falando sobre jornalismo musical, como é pra você produzir algo nessa linha em um mercado como o nosso?

Primeiro é extremamente prazeroso, mas existe o outro lado da moeda: não recebemos nenhum centavo de investimento para manter o site ativo e divulgando as bandas. Claro que tenho minha assessoria e dela faço minha renda. Se não fosse isso talvez o site e até mesmo a Roadie Metal já teriam acabado há muito tempo, pois a realidade nesse país é única. A valorização da escrita e da leitura está cada vez mais escassa, o interesse do público novo é cada vez menor, por isso tentamos nos adequar para entreter sempre com novidades e utilizando a ferramenta mais usada nos dias de hoje, o vídeo.

Quais são as suas referências no jornalismo musical, tanto aqui no Brasil quanto lá fora?

Juro que não é puxa-saquismo, mas a Colectors Room é um site que leio desde 2007 ou 2008. Conheci inúmeras bandas através da coluna criada por vocês que apresentavam novas bandas, até hoje tem bandas que me tornei fã após conhecer nesse site. Outro veículo que acompanho há anos é a revista Roadie Crew, no qual tenho amizade virtual com quase todos os redatores. Existem atualmente excelentes sites que sempre acompanho e tenho como inspiração: Metal Samsara do Marcos Garcia, Arte Metal do Vitor Franceschinni, A Música Continua a Mesma do Leandro Vianna, Rebel Rock do Sergiomar Meneses, Metal na Lata do Johnny Z, Underground Resistance do Ygor Nogueira. Tem vários outros que agora não me lembro, mas fica a dica aos leitores: pesquise mais um pouco e irá encontrar excelentes canais de comunicação que sempre se mantém atualizados levando o melhor da música até você.

Opa, obrigado pelo elogio, fiquei até meio constrangido agora (risos). Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

Sou um amante da música pesada brasileira, mas se indicar uma ou duas bandas aqui outras com certeza se sentirão chateadas comigo, por isso vou deixar a dica de procurarem no site Roadie Metal a barra “Press”, lá você irá encontrar várias bandas de altíssimo nível. Em se tratando de bandas gringas, eu tenho escutado muito Clutch, Gojira, Opeth, Mustasch, Evile e Monster Truck.

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