De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.
Bom, primeiro agradeço a oportunidade dessa entrevista e de poder falar um pouco sobre esse mundo fantástico dos quadrinhos. Pois bem, meu nome é Fábio e criei um canal no YouTube chamado Caverna do Morcego, que tem o intuito de conversar e apresentar um conteúdo amplo relacionado ao Batman. Falo muito da fonte principal do personagem, que são os quadrinhos, mas vou além falando sobre o Homem-Morcego em filmes, livros, games e assim por diante.
Quantas HQs você tem em sua coleção?
Hoje estou com praticamente 2.800 revistas, sendo que a maioria é relacionada ao Homem-Morcego. Acredito que o Batman domine uns 75% da coleção.
Quando você começou a colecionar HQs?
Comecei efetivamente a ler quadrinhos com a 5ª série da revista Batman lançada pela editora Abril em 1996. Ali também começou esse meu colecionismo relacionado a esse personagem, claro que de forma moderada, não do jeito que é hoje (risos).
Você lembra qual foi a sua primeira HQ? Ainda a tem em sua coleção?
Possivelmente foi algo relacionado à Turma da Mônica ou da Disney, pois meu pai gostava muito desses quadrinhos. Mas a lembrança mais clara da primeira HQ que eu tenho foi quando ganhe a Batman Anual nº 2, onde dentre as histórias que estavam sendo publicadas dentro do encadernado tínhamos a origem do vilão Duas-Caras, personagem este que considero um dos melhores antagonistas do Batman. Eu havia ganhado essa HQ do meu pai, mas com o tempo ela se perdeu. Posteriormente eu a readquiri e hoje está guardada na coleção para ler e reler. Por sinal, recomendo a leitura, história muito boa.
Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um leitor de quadrinhos, mas sim um colecionador de quadrinhos?
Com as influências dos filmes do Batman e, principalmente, com a série animada do personagem nos anos 1990, resolvi por vontade própria começar a colecionar os quadrinhos do Batman, e tudo começou quando comprei a edição nº 1 da revista Batman, que citei na resposta às perguntas anteriores. Não só virei um leitor de quadrinhos como segui essa vida de colecionismo de HQS.
Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de editora, autores, personagens, ou usa algum outro critério?
Recentemente me mudei e consegui um quarto maior e com mais estantes para guardar quadrinhos, não só os meus, mas os da minha noiva também. Então tenho uma estante grande onde uma parte ficou reservado para guardar os quadrinhos dela, que envolvem Vertigo e principalmente Sandman. Já na minha parte eu reservei um espaço só para colocar os quadrinhos do Batman, organizando por capa dura e capa cartão, e outra parte para guardar os outros quadrinhos, como DC Comics (exceto Batman, por motivos óbvio), Vertigo, mangás e livros teóricos relacionado às HQs.
Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?
Nesse local onde me mudei existe um escritório com um móvel bem grande, que comportava diversos livros. Então, acabei não precisando adquirir algo novo ou sob medida. Ainda sim, além desse móvel também tenho estante de ferro que comprei para guardar alguns quadrinhos que não couberam no referido móvel devido ao tamanho deles, como por exemplo alguns absolutes americanos.
Que dica de conservação você dá para quem também coleciona HQs?
Essa é uma boa pergunta. Já vi alguns vídeos na internet e cada um dá uma dica de como deve ser a conservação de quadrinhos. Às vezes as várias dicas que vamos pegando acabam se contradizendo e cada colecionador segue o que acha melhor.
Particularmente eu guardo as revistas em formato canoa e os encadernados de capa cartonada em sacos plásticos. Já os de capa dura deixo na estante sem plástico nenhum, sempre tirando o pó para que as revistas não fiquem com as folhas amareladas. Eu uso naftalina para afastar os insetos também.
Agora, um ponto principal para qualquer colecionador, seja de HQs, discos, filmes e assim por diante, é deixar a sua coleção viva, sempre estar manuseando ela, buscando ler, reler ou rever os itens da sua coleção. Coleção não existe para ficar parada, mas sim para que você possa usufruir dela de maneira total. Isso ajuda você a preservar ela também.
Você já leu tudo que tem?
Confesso que ultimamente venho sendo negligente com as minhas leituras, principalmente pela correria da mudança que mencionei anteriormente, mas grande parte dela está lida sim. Com a criação do canal Caverna do Morcego, bem como os perfis no Instagram e Facebook, criei um incentivo para todo os dias fazer mais de uma leitura de HQs. Todos os dias eu posto nas redes sociais o gibi que li e faço uma brevíssima opinião sobre o material. Do Batman li praticamente tudo, só faltando às edições Omnibus da coleção Batman The Golden Age, mas que tenho corrido atrás e buscado fazer a leitura de uma história por dia dessa coleção. Falta eu me dedicar mais um pouco nas Vertigos e nos mangás, mas algumas leituras prazerosas que tenho feito recentemente são os quadrinhos do Eisner.
Você tem o hábito de retornar a alguma quadrinho tempos depois de lê-lo pela primeira vez, entrando em contato novamente com a história? Essas releituras já fizeram você mudar a sua opinião que tinha sobre tal HQ quando a leu pela primeira vez?
Tenho sim, inclusive faço isso regularmente com algumas histórias. Por exemplo, Cavaleiro das Trevas, Longo Dias das Bruxas, Ano Um, Asilo Arkham e A Piada Mortal são HQs que anualmente releio, visto a qualidade dessas obras. Recentemente peguei a 3ª série da revista Batman lançada pela editora Abril para reler. Gosto de fazer isso para reavivar as narrativas na minha cabeça, mas ao mesmo tempo me aprofundar no entendimento das tramas e apreciar melhor o desenho. Algumas revistas não demandam uma leitura mais cuidadosa, mas os grandes quadrinhos sempre pedem para que façamos e refaçamos a leitura, tendo o intuito de encontrar pontos que a primeira leitura nos fez passar despercebido.
Qual o seu escritor preferido e o seu personagem favorito?
Meu escritor preferido é o Alan Grant, roteirista que passou boa parte dos anos 1990 escrevendo Batman. Gosto como o escritor consegue trabalhar o Homem-Morcego lidando com problemas sociais. Já em relação ao meu personagem favorito... bom, acho que não resta dúvida de qual seja (risos).
De qual personagem, autor e editora você tem mais itens em sua coleção?
Como deve ter percebido, Batman ganha disparado nessa questão da quantidade de itens. Com relação a autor, confesso que não tenho noção de qual autor especificamente domina mais a coleção. Tem bastante coisa do Neil Gaiman, Alan Moore, Grant Morrison, Bill Finger, Alan Grant, Ed Brubaker, Greg Rucka. Por fim, em relação à editora, acredito que a Panini e a Abril são as editoras que dominam a coleção.
Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?
Em relação à raridade, acredito que sejam algumas revistas do Batman da editora Ebal. Recentemente encontrei no sebo um lote com várias revistas antigas e uma delas era o Almanaque de Batman do ano de 1975. Esse almanaque é difícil de achar hoje em dia, então fiquei bem feliz de ter encontrado essa edição. Gosto das revistas que foram publicadas pela Ebal e sempre estou à caça das edições do Homem-Morcego lançadas por essa editora.
Já em relação a que mais gosto, essa é uma pergunta bem difícil de responder pois tenho um grande apreço por muitas revistas da coleção, mas para não ficar em branco eu escolheria a Graphic Novel nº 5 lançada pela editora Abril que publicou pela primeira no Brasil o clássico A Piada Mortal. Lembro que na época fiquei estupefato quando li pela primeira vez essa história, por isso essa primeira publicação se tornou uma das minhas favoritas.
Você só coleciona edições brasileiras ou tem o hábito de também adquirir edições gringas para o seu acervo de quadrinhos?
O “grosso” da coleção são edições nacionais, contudo coleciono edições gringas, em especial encadernados de luxo ou materiais em qualidade similar. Uma coleção gringa que estou fazendo no momento é Batman The Golden Age Omnibus. Essa é uma coleção que reúne toda a fase da Era de Ouro do personagem, sendo que cada edição traz 800 páginas de quadrinhos, publicando as histórias de forma cronológica. Até o momento já foram lançadas três edições, sendo que o quarto volume já está programado para ser lançado no mês de novembro deste ano.
Além de HQs, você possui alguma outra coleção?
Não é a minha grande prioridade, mas coleciono algumas action figures também. Ultimamente tenho curtido pegar algumas actions relacionadas aos personagens do desenho animado do Batman dos anos 1990. É uma coleção muito bonita e com bastante detalhe. Para quem cresceu assistindo esse desenho, essas action figures são uma coisa muito linda.
Você ainda frequenta bancas de revistas e livrarias, ou hoje compra tudo pela internet mesmo?
Continuo comprando em banca, inclusive preferindo adquirir as revistas nesses locais mesmo. Felizmente eu moro numa cidade em que os quadrinhos da Panini ainda são um pouco mais acessíveis, mas tenho ciência que a distribuição para as outras cidades do país é muito precária, impossibilitando que todos tenham o fácil acesso em banca aos quadrinhos.
Gosto muito de visitar sebos todas as semanas e ficar de olho se chegou algo novo e diferente. Vida de colecionador é isso, ter que criar uma rotina de ir a sebos (físicos ou virtuais) para achar aquele gibi que você tanto quer na coleção.
Que loja de HQs você indica para os nossos leitores?
Para quem mora em Curitiba, vou indicar um sebo que estou sempre visitando e que o material sempre está em boa qualidade. O nome é Sebo Kapricho, que fica na rua Comendador Araújo, 432 ou na rua Alfredo Bufren, 193. Vá lá fazer o seu garimpo e achar aquele gibi que você estava tanto procurando. Inclusive a loja tem site que faz entregas pelo Brasil.
Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou quadrinhos?
Dizer para você que sempre comprei os gibis em bancas, sebos e na internet. Acabei nunca tendo uma experiência de compra em um local bizarro que tivesse quadrinhos. Uma pena, pois acredito que se isso tivesse acontecido eu teria uma boa história para contar (risos).
Que HQs você indicaria para quem nunca leu quadrinhos e quer começar a se aventurar pela nona arte?
Eu sempre sugiro algo mais clássico e que sempre é muito bem quisto pelo leitores habituais de quadrinhos. Em se tratando do Batman sugiro Cavaleiro das Trevas, Ano Um, Piada Mortal, Longo dia das Bruxas e Asilo Arkham, por serem histórias consagradas do personagem e também por serem muito bem escritas.
Fora do universo do Morcego sugiro ler Sandman, Maus e Watchmen. São três grandes clássicos da nona arte que valem muita a sua atenção.
Por fim, saindo um pouco do “feijão com arroz” em termos de indicação, faço a sugestão de leitura do quadrinho chamado Batman Ego, escrito e desenhado por Darwyn Cooke, que mostra Bruce Wayne e Batman conversando sobre os aspectos morais em relação à criação do Homem-Morcego. Um quadrinho fantástico que reflete a importância do Batman como super-herói.
Quais foram as cinco melhores HQs que você já leu na vida? E as piores?
Essa é uma pergunta bem difícil, não? (risos) Mas se apontarem uma arma na minha cabeça eu iria escolher Cavaleiro das Trevas, Sandman, A Piada Mortal, Homem Animal do Grant Morrison e Batman Ego.
Em relação aos piores, eu sempre coloco a fase escrita por A. J. Lieberman na revista Batman: Gotham Knights, que teve publicação aqui no Brasil na revista mensal do Homem-Morcego pela editora Panini. Aquilo era muito ruim e descaracterizava muito os personagens do universo do Morcego. Inclusive ele tentou fazer uma espécie de continuação de A Piada Mortal que ficou horrorosa. Por isso eu escolho essa fase como umas das piores coisas que eu li, preenchendo todas as cinco posições (risos).
O que as pessoas pensam da sua coleção de quadrinhos? Estranham este hábito ou admiram a sua biblioteca?
Então, nunca tive sérios problemas de pensamentos preconceituosos em relação a esse meu hobby. Às vezes um amigo ou algum conhecido emite algum comentário com nítido desdém sobre esse meu hábito, mas isso eu ignoro rapidamente. A minha família e amigos mais próximos sempre me deram apoio e incentivaram a coleção. Além disso, tive a sorte de conhecer a minha noiva que tem o mesmo hobby que eu, inclusive me ajudando a cada vez mais a aumentar a coleção. Então nessa parte tive muito sorte de estar próximo das pessoas certas, o que com certeza me incentivou a cada vez mais querer falar sobre quadrinhos, inclusive a montar um canal e falar sobre isso na internet.
Você se espelha em alguma outra coleção de quadrinhos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?
Bom, nunca me inspirei em uma pessoas em específico, mas sempre admirei o conhecimento em quadrinhos de algumas pessoas, como por exemplo do pessoal do Universo HQ, o Gonçalo Junior, Alexandre Callari, entre outros. Sou um admirador de coleções alheias e gosto de incentivar outras pessoas a serem colecionadores também. Mas não deixo de citar novamente a minha noiva, pois ela me deu mais confiança em mergulhar a fundo nesse mundo do colecionismo.
Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de HQs como a sua?
Eu acredito que os quadrinhos são uma arte subestimada. Algumas histórias somente podem ganhar vida e um real significado através dessa arte. Acredito que uma HQ como Maus não teria a mesma recepção em outro tipo de mídia como foi como quadrinho. Outro exemplo é Watchmen pois, por mais que eu goste do filme, eu acredito que nenhuma pessoa irá conseguir traduzir a ideia e os sentimentos trazidos por Moore e Gibbons na obra para outra mídia. Assim, sempre defenderei a opinião de que os quadrinhos tem o seu mérito como arte e sempre nos trarão histórias que somente essa arte pode trazer.
Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais quadrinhos", ou isso é uma utopia para um colecionador?
Acho que é uma utopia, principalmente quando consumimos produtos da linha de super-hérois. Grandes histórias estarão sempre sendo contadas e que nos farão querer ter elas. E isso é bom, pois significa que o quadrinho sempre terá vida longa e estará sempre na vida das pessoas que
amam essa arte.
O que significa ser um colecionador de HQs?
É importante destacar que o colecionador não é acumulador. O verdadeiro colecionador faz com que sua coleção tenha vida, que ela não fique parada sem ter significado sendo somente uma conquista barata e sem sentido. O colecionador estará sempre fazendo com que os itens que foram adquiridos sejam manuseados, lidos, jogados, escutados, assistidos e assim por diante. Até porque o colecionador é um guardião de algo de grande significado para as pessoas. Ele que irá preservar itens importantes e cuidará para que aquilo continue existindo entre nós e continue transmitindo o significado que ele precisa transmitir. Sempre tive essa visão e por isso acho que os colecionadores de verdade são importantes para mantermos grandes obras e itens vivos em nossa sociedade.
Qual o papel dos quadrinhos na sua vida?
Quadrinho sempre foi um escapismo para um mundo diferente e algo que sempre me incentivou a ser uma pessoa melhor. Histórias de personagens como Superman e Batman sempre me mostraram como as escolhas que tenho na vida podem seguir um caminho justo. Além disso, quadrinhos como Sandman me fizeram querer sonhar além daquilo que vivemos e quadrinhos como V de Vingança e Watchmen me fizeram criar um senso crítico em cima de percepções políticas. Da mesma maneira que um livro, filme ou a música influenciaram outras pessoas, quadrinhos me influenciaram significativamente em grandes aspectos da minha vida, por isso sempre serei grato a essa grande arte.
Uma curiosidade: como é a sua relação com a música? Quais bandas e artistas você curte?
Sou muito fã de rock, mais especificamente do grunge, sendo um grande fã de bandas como Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden, Alice in Chains e assim por diante. Ainda tenho o hábito de comprar CDs do Pearl Jam quando eles são lançados e aprecio muito a música da banda.
Pra fechar: o que você está lendo atualmente e o que recomenda para os nossos leitores?
Além dos quadrinhos do Batman, tenho buscado as obras do Will Eisner e a leitura disso tem sido bem agradável. Então vou fazer duas indicações: 1º - Batman Ego, um quadrinho que eu acho essencial para o Homem-Morcego mas que não é tão conhecida como os grandes clássicos do personagem, vale a pena muito ler esse gibi. 2ª - Ao Coração da Tempestade - Uma obra biográfica do Eisner muito bem escrita e desenhada.
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