Review: Lord Blasphemate - Lucifer Prometheus (2017)


Na estrada desde 1992, o Lord Blasphemate lançou em maio o seu quarto disco, Lucifer Prometheus. O trabalho saiu pelo selo Heavy Metal Rock e é o sucessor de The Sun That Never Dies … (1997), A Restless Shelter Under the Remote Star (2006), Ophisophia (2013) e do EP Opus Gnosticum Satannae (2014).

Um dos pontos principais do Lord Blasphemate é a temática lírica, que explora elementos de filosofia thelêmica e do luciferianismo. O Thelema, palavra grega que significa “verdade”, é uma filosofia religiosa desenvolvida no início do século XX pelo cultuado escritor e mago inglês Aleister Crowley e reconhecida como uma religião no Reino Unido em 2009. Um dos preceitos mais conhecidos é a Lei Thelêmica, popularizada no Brasil por Raul Seixas na canção “Sociedade Alternativa” ao cantar a plenos pulmões o ensinamento de Crowley: “faça o que tu queres pois é tudo da lei”. 

Já o luciferianismo é um conjunto de crenças centrado na figura de Lúcifer, o anjo caído. Suas origens estão nas práticas pagãs da Grécia antiga, que enxergam Lúcifer como o Portador da Luz e a personificação do esclarecimento. A principal filosofia do luciferianismo é a busca da divindade dentro de cada um de nós como elemento essencial para o caminho da verdade, encontrando assim a consciência, o conhecimento e o livre arbítrio.

Lucifer Prometheus traz oito faixas, sendo que duas ultrapassam os dez minutos de duração e uma supera os quinze. Musicalmente, temos um black metal voltada para a escola norueguesa do início dos anos 1990, construído pela tríade guitarra-baixo-bateria e sem a presença de teclados. Ou seja, e apenas para efeito de localização do leitor: soa muito mais como Mayhem e Burzum e não tem nada a ver com Dimmu Borgir e similares. Essa escolha, aliada à alternância de movimentos rítmicos, conduz o ouvinte por estados de consciência alternativos e sempre crescentes, como que retirando-o do seu cotidiano e inserindo-o, aos poucos, em um universo regido pela filosofia do grupo.

Muito mais do que apenas um disco, Lucifer Prometheus funciona como uma obra artística muito mais profunda, como ferramenta de expressão e propagação de um modo de vida. A busca pelo auto-conhecimento pregada tanto por Crowley quanto pelo luciferianismo é explorada de maneira criativa pelo grupo, e este aspecto é embalado em canções fortes, criativas e que mostram a capacidade da banda em conseguir traduzir para a linguagem musical aquilo em que acredita. A ótima produção só deixar a mensagem ainda mais forte.

No final, a experiência de ouvir Lucifer Prometheus se revela muito mais completa do que a de apenas escutar um disco. O que o trabalho proporciona é a quebra de paradigmas milenares de uma sociedade construída sobre uma estrututa religiosa responsável pela morte de milhões de pessoas (sim, estou falando do cristianismo) ao mesmo tempo em que apresenta uma visão alternativa aos dogmas espirituais tão necessários ao ser humano. Ou seja, tudo que um bom e competente disco de black metal deveria fazer.

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