Minha Coleção: conheça a linda e impressionante coleção do paranaense Aldo Edson


Aldo, nós conversamos pela primeira vez há nove anos, em novembro de 2008. Passado todo esse tempo, acho que vale a pena conversamos novamente. faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Primeiramente gostaria de agradecer a Collectors Room pelo espaço e dizer que é um prazer poder me dirigir a outros apreciadores de música que, assim como eu, também dedicam parte de suas vidas a essa que é a mais brilhante forma de arte na minha opinião. Me chamo Aldo Edson Portes de França,  sou funcionário público, moro em Rio Branco do Sul, cidade que fica a 30 quilômetros de Curitiba e sou um apaixonado por música desde a minha infância. 

Quantos discos você tem em sua coleção? 


Atualmente tenho em torno de 3.000 LPs, 2.200 CDs e uns 300 DVDs. Ou seja, um total de 5.500 itens mais ou menos. 

O quanto ela cresceu de 2008 pra cá?


Em se tratando dos discos de vinil ela cresceu até pouco, proporcionalmente falando, pois em 2008 já eram uns 2.000. Ou seja, comprei de lá pra cá uma média de 100 LPs por ano aproximadamente. Já a coleção de CDs cresceu bem mais, pois naquele ano eu tinha uns 500 e  atualmente já passou de 2.000. O motivo pra isso acontecer foi que o CD passou a ser uma alternativa mais viável de alguns anos pra cá, principalmente pelo fato de que colecionar discos de vinil infelizmente virou “modinha” e isso fez com que o preço disparasse de forma inexplicável.


Quando você começou a colecionar discos?

Eu diria que foi a partir de 1992, pois foi quando comecei a trabalhar e ter o meu próprio dinheiro. Antes até já tinha alguns discos, mas não tinha condições de comprar LPS nem fitas K7s. Os poucos que conseguia era juntando os trocados que meus pais davam pra fazer lanche na escola e eu deixava de comer até conseguir comprar que queria, ou então quando fazia aniversário e sempre pedia um disco de presente.

Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Lembro sim. Foi o The Ballad Album do Nazareth, que ganhei do meu pai, mas não tenho mais porque emprestei pra alguém e não consegui recuperá-lo. Tive que comprar outra cópia algum tempo depois. A partir de então decidi que não emprestaria mais LPs, CDs, livros ou revistas pra ninguém, pois o risco de ficar sem o objeto é grande.

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

A palavra colecionador infelizmente carrega um certo ranço porque muita gente confunde quem  aprecia música, e por isso compra vários itens de seu interesse, com aqueles que na verdade são acumuladores e compram de tudo mesmo que não gostem. Inclusive cheguei a presenciar há alguns anos, numa feira,  uma pessoa comprando um LP do Osvaldo Montenegro chamado Trilhas que realmente é bastante raro. Vi ela pagando 800 reais pelo disco e como estava próximo fiz um comentário que deveria ser muito fã do cantor pra se dispor a pagar tanto por um item apenas. Pra minha surpresa, ela disse que na verdade não gostava das músicas do Osvaldo Montenegro, mas que comprava qualquer LP que fosse considerado raro. Isso é algo que eu nunca faria mesmo que fosse milionário, pois procuro comprar somente aquilo que gosto. Quanto à pergunta inicial, considero que percebi que me tornei um colecionador a partir do momento que passei a gostar boa parte do que ganhava em LPs e CDs. Isso ocorreu mais ou menos no início da década de 1990. 





Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?


Pra ser bem sincero não tenho nenhum critério específico, mas consigo encontrar o que quiser na minha coleção em menos de 1 minuto. A única coisa que fiz foi separar basicamente por estilos, evitando misturar coisas completamente diferentes entre si.

Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?


Sim, há mais ou menos uns 5 anos mandei fazer uma prateleira de compensando naval impermeável que acabou ficando perfeita pros LPs, já que os CDs estão guardados numa estante bem espaçosa e num outro móvel menor que adquiri recentemente. Mas o problema com espaço sempre é uma dor de cabeça pra quem coleciona, pois chega uma hora que você tem duas alternativas: ou diminui o ritmo de compras ou então vai começar a empilhar um em cima do outro e isso não é algo aconselhável pra quem quer conservar seus itens e mantê-los íntegros por muito tempo. 





Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?


A principal dica é evitar empilhar os discos na posição vertical, pois isso certamente vai empená-los com o tempo, além de fazer marcas nas capas. Além disso, é importante sempre fazer uma limpeza antes de usá-los, evitando dessa forma o desgaste da agulha. Também é importante não esquecer dos plásticos externos pra preservar as capas e também dos internos pra que o LP não fique exposto à poeira e à umidade.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?


Procuro ouvir pelo menos uma vez cada item que compro, pois é o mínimo que um apreciador de música deve fazer, caso contrário tá mais pra acumulador do que qualquer outra coisa. Obviamente eu gostaria de ter mais tempo pra dedicar a audição dos itens que possuo, mas diariamente ouço de 1 a 3 álbuns em média.


Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Meu gênero favorito é o rock, mas citar apenas uma banda como a preferida não dá. Algumas  que foram decisivas pra formação do meu gosto musical são as seguintes: The Rolling Stones, AC/DC, Iron Maiden, Kiss, Black Sabbath, The Beatles, Led Zeppelin, Metallica, Queen, Lynyrd Skynyrd, entre outras. Porém, gosto também de outros estilos, pois sou da mesma opinião que o genial Miles Davis, que costumava dizer que existem dois tipos de música: a boa e a ruim. Na minha opinião, com exceção do sertanejo universitário, do funk carioca, do pagode romântico e do axé, acredito que é possível encontrar músicas de qualidade e justamente por isso sempre procurei ter um gosto bem eclético.




De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

A banda que possuo mais itens é o Edguy, pois foi a única que decidi realmente colecionar tudo o que se refere a ela. Tenho quase 100 peças, entre CDs, LPs, fitas k7, DVDs, etc. Por ser uma banda mais nova a tarefa não é tão complicada como seria no caso de uma banda mais veterana e clássica.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?


Antes de responder essa pergunta, uma coisa que acho interessante frisar é que nunca me interessei em comprar algo só pelo fato de ser raro. Lógico que quando encontro um item que sei que é raro, e está por um preço muito abaixo do que vale, acabo comprando pra usar como moeda de troca em futuras negociações. Porém, pra minha coleção pessoal, o que vale mesmo é o que gosto, independente se custa 1 ou 1.000 reais. Dito isso, posso dizer que gosto de tudo o que está no meu acervo mas alguns se destacam por particularidades, como por exemplo a edição original álbum do Alice Cooper- School’s Out que vinha com uma calcinha de verdade envolvendo o LP, ou então o Exile on Main Street dos Stones com os cartões postais. Além deles, tenho também alguns boxes limitados, como o do Metallica que contém os primeiros álbuns e só saíram 5 mil cópias, e também as novas edições de luxo dos álbuns do Led Zeppelin, que foram lançadas há alguns anos e são espetaculares, tanto no acabamento gráfico quanto na sonoridade.



Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?


No caso específico do Edguy, como já mencionei anteriormente, compro qualquer item que encontrar caso ainda não tenha. Quanto a outros artistas e bandas só completo a discografia que estão entre as minhas preferidas. Já quando se trata de uma banda que gosto, mas não tanto, me contento apenas com o que produziram de melhor. Porém, há exceções à regra. Por exemplo, o Metallica está entre minhas preferidas, mas nunca quis ter o St. Anger, pois não vale a pena ter algo que sei que nunca vou ouvir. 

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?


Sim, inclusive tenho algumas coleções que são até mesmo anteriores aos LPs e CDs. Tenho por exemplo vários álbuns de figurinhas das Copas do Mundo, Campeonato Brasileiro, Champions League, NBA, etc. Além deles, tenho também a coleção completa do Futebol Cards da Ping Pong, que é na minha opinião a melhor já lançada no Brasil sobre o tema. São poucos que tem todos os 486 cards que fazem parte da coleção e felizmente sou um deles. Coleciono também a revista BIZZ (coleção completa), Rock Brigade (falta uma  edição – 18), Roadie Crew (coleção completa), Metal (faltam duas edições – 44 e 49), Valhalla (faltam duas edições – 1 e 2 ), Poeira Zine (coleção completa), além de ter centenas de HQs dos X-Men, Wolverine, Homem Aranha, etc








Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Apesar da facilidade que a internet proporciona, ainda frequento lojas físicas bem como feiras, onde ainda é possível encontrar preços bons se tiver paciência. Por exemplo, recentemente fiz uma viagem pra Los Angeles e visitei a Amoeba Music, que era algo que desejava há muitos anos mas nunca tive a oportunidade até então.  Quando me dei conta acabei gastando um valor além do esperado, pois o preço dos CDs, principalmente usados, é muito em conta. Álbuns que no Brasil não saem por menos de 60 reais lá se encontra por valores que variam de 2 a 5 dólares. Aliás, os CDs usados encontrados por lá nem mereciam ser chamados dessa maneira, pois parecem novos sem nenhum risco ou defeito que possa comprometer a audição. Por outro lado, sites como eBay e Discogs facilitam a compra de itens que dificilmente você vai ver numa loja física, e se por caso encontrar certamente o preço será bem salgado. É uma pena que comprar de fora também esteja complicado pela alta do dólar e também por causa da Receita Federal brasileira, que ultimamente ando taxando mercadorias sem qualquer critério, sem falar na demora para chegar, que pode levar até quatro meses ou mais.

Não dá um desânimo encontrar LPs a preços altíssimos e sem explicação, beirando os 300 reais, e muitas vezes em condições que não justificam estes valores?


Na atualidade esse é certamente o principal problema encontrado pelos apreciadores de música que ainda querem ter o formato físico, seja em CD ou LP. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, e que valorize o próprio dinheiro, não pode se deixar enganar por verdadeiros picaretas travestidos de comerciantes. O que vem inflacionando o mercado são justamente os vendedores ocasionais que tomam os preços mais altos do Mercado Livre como referência. E sabe o que é pior? Existem pessoas que por desconhecimento da realidade acabam comprando por causa da comodidade. sem saber que estão sendo extorquidos com preços abusivos. Aliás, se fosse pra começar uma coleção hoje confesso que não me animaria nem um pouco, pois gastaria no mínimo umas 10 vezes mais pra conseguir tudo o que tenho. 



O mercado de LPs aqui no Brasil está fora da realidade em relação aos preços ou você consegue encontrar alguma justificativa que explique os valores surreais pedidos pelos lojistas?


Logicamente, quando alguém tem uma loja física que paga seus impostos, além dos gastos com luz, telefone, internet, etc. Digamos que ainda é aceitável que a margem de lucro seja um pouco maior. Mas em alguns casos nem isso justifica, pois já vi casos de LPs nacionais que valem no máximo 50 reais sendo vendidos a mais de 100. Sinceramente, duvido que o lojista que age dessa forma tenha pago metade do valor pelo qual está vendendo. O mesmo vale para alguns CDs importados que poderiam ser vendidos entre 60 a 80 reais, mas o preço final acaba passando de três dígitos, mesmo não sendo nenhuma edição especial e sim o CD simples sem nenhum atrativo a mais. Em razão disso, ultimamente tenho sido bem mais criterioso em relação ao que compro, até porque dinheiro não cresce em árvores. Resumindo, se de um lado existem lojistas sérios que merecem todo o meu respeito, pois praticam uma margem de lucro coerente, por outro há aqueles que não pensam duas vezes em explorar o cliente com preços que beiram o absurdo. 

Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 


Na minha opinião a melhor loja de CDs é a Die Hard da Galeria do Rock, em São Paulo, principalmente no que se refere ao atendimento e respeito ao cliente. Compro há mais de 15 anos deles e jamais tive qualquer tipo de problema. Já em se tratando de LPs, as melhores são a Tropicália no Rio de Janeiro, as da Galeria Nova Barão em São Paulo também são quase todas  muito boas e em Curitiba as minhas preferidas são a Só Música e a Savarin Records. 

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?


Nunca comprei em lugares considerados estranhos. O máximo que aconteceu foi ir visitar alguém e descobrir por acaso que tinha vários LPs guardados em casa, sendo que não dava mais o menor valor pra eles. Nessas horas o importante é manter a calma e saber o momento certo pra pedir que uma doação seja feita ou comprar por um preço bem camarada (risos).



O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?


A maioria dos meus amigos e parentes acha muito estranho e alguns devem até achar que é maluquice ter “tanta coisa velha guardada em casa”. Porém, não vejo problema algum nisso pois o que interessa é que eu gosto. É aquela velha história: “cada louco com suas manias”. 

Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?


Sinceramente não!  É claro que admiro coleções como por exemplo as do Ed Motta, do Regis Tadeu, do Bento Araújo, entre outros que possuem acervos fantásticos. Porém, entendo que independente se você tem mais ou menos itens que outro colecionador, isso é o que menos importa, pois se trata de algo que você foi moldando de acordo com seu gosto pessoal.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?


Acredito que o valor cultural supera o valor financeiro, e tanto isso é verdade que não me importo se o álbum que estou comprando custa 1 ou 100 reais, mas sim o conteúdo dele. A música é uma das artes mais nobres e a partir do momento que você ouve algo a tendência é expandir seu conhecimento em diversas áreas de interesse como história, literatura, cinema,etc.

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?


Alguém dizer que já tem tudo o que gostaria de ter é uma utopia sim. Porém, sem nenhuma presunção, posso afirmar que tenho atualmente mais de 90% do que gostaria de ter. É óbvio que isso varia de acordo com cada um e certamente há aqueles que nunca se sentirão satisfeitos por mais que possuam uma coleção gigantesca, e isso não deixa de ser um grande barato pra quem coleciona. 


O que significa ser um colecionador de discos?


Como já mencionei em outra pergunta,  a expressão “colecionador de discos” se tornou um tanto quanto controversa de alguns pra cá, pois há aqueles que deixaram de ser apreciadores de música pra se tornarem acumuladores. Nada contra quem gasta o seu dinheiro da forma que bem entende, mas não vejo o menor sentido em fazer como por exemplo o empresário Zero Freitas, que hoje tem mais de 5 milhões de LPs, pois jamais ele vai conseguir ouvir tudo o que tem. Portanto, me vejo mais como um apreciador daquilo que possuo, sejam LPs, CDs, revistas, etc, do que propriamente um colecionador no sentido pejorativo que a palavra carrega consigo atualmente.

O que significa pra você ter mostrado e voltar a mostrar a sua coleção aqui na Collectors Room?


Agradeço pela oportunidade que a  Collectors Room proporciona e parabenizo pelo belo trabalho em divulgar não apenas as coleções, mas sim a boa música de forma geral. 

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?


Recomendo as bandas da nova geração do hard rock da Suécia que são ótimas, como por exemplo o H.E.A.T.,  Eclipse, Crashdiet, Crazy Lixx,etc. Também destaco o trabalho do The Night Flight Orchestra, que é um projeto formado por membros do Soilwork e do Arch Enemy, mas fazem um som completamente diferente dessas bandas. Outra menção honrosa é o Volbeat, ótima banda dinamarquesa com uma qualidade acima da média, e ainda o White Lies, banda inglesa de rock alternativo que me chamou muito a atenção por fazer músicas pegajosas no bom sentido que remetem a década de 1980, mas sem soar uma mera cópia.

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