As sessões de Londres: o disco que Howlin’ Wolf gravou ao lado de Eric Clapton e companhia


No início dos anos 1970, a mítica gravadora norte-americana Chess Records lançou quatro álbuns reunindo veteranos e influentes nomes do blues a jovens artistas britânicos. Batizada de The London Sessions, a série colocou lado a lado criador e criatura. Dessa maneira, gigantes como Howlin' Wolf, Muddy Waters, Bo Diddley e Chuck Berry trocaram figurinhas com futuras lendas como Eric Clapton, Steve Winwood, Mick Taylor, Charlie Watts, Rory Gallagher e outros. O resultado foi fenomenal em alguns momentos, mas apenas mediano em outros. O disco de Howlin' Wolf certamente é o melhor de todos.

O velho lobo tem a companhia de Eric Clapton, Steve Winwood, Bill Wyman e Charlie Watts, além de mais uma turma acima de qualquer suspeita que participou de uma ou outra faixa, como Ringo Starr, Klaus Voormann e Ian Stewart. 

É interessante perceber a postura reverencial adotada pela banda em relação a Wolf. A todo momento, a todo instante, Clapton, Winwood, Wyman e Watts tocam de maneira sublime, mas nunca buscando ofuscar o velho lobo, mas sim com o objetivo de criar bases sonoras perfeitas para que o bluesman brilhe intensamente. E como ele brilha! 


A voz rouca a cavernosa de Wolf entrega interpretações únicas e quase surreais de clássicos do porte de “I Ain't Superticious”, “Sittin' on Top of the World”, “Worried About My Baby”, “Poor Boy”, “The Red Rooster”, “Wang Dang Doodle”, “Goin' Down Slow” e “Killing Floor”. 

Ouvir o disco é como presenciar uma lição atrás da outra, executada por um mestre do assunto acompanhado por alguns de seus melhores alunos. Os momentos arrepiantes são muitos, mas talvez o mais emocionante seja a inclusão da versão de “The Red Rooster” interrompida pelo diálogo de Howlin' Wolf com os músicos, que após a conversa reiniciam a faixa com a devida orientação de seu professor.


Uma curiosidade: em um papo informal, o bluesman brasileiro André Christovam, que rodou os Estados Unidos e conviveu de perto com lendas como B.B. King, contou uma história divertidíssima. Segundo ele, RIngo estava tocando bateria em uma das faixas quando Wolf parou e soltou: “Para tudo! Troquem este baterista, pois ele não sabe tocar blues”. Aí, alguém do estúdio respondeu na hora: “Mas Howlin’, ele é um Beatle”. A resposta do coroa: “Beatle? O que é isso?”. Segundo os músicos que estavam presentes no estúdio, Ringo cedeu o lugar para Charlie Watts e ficou mal pra caramba com a reprimenda de Wolf.

Em 2003 chegou ao mercado a versão deluxe do álbum, com um segundo disco repleto de outtakes e versões alternativas. Essa é a versão definitiva do trabalho, preservando para sempre esse momento histórico.

The London Howlin’ Wolf Sessions é um dos melhores discos que eu já tive o prazer de ouvir. Obrigatório, básico e fundamental.


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