Para que servem as redes sociais? Entre as várias respostas possíveis, a integração e aproximação entre as pessoas certamente está cada vez mais distante. Já a criação de personagens (ou máscaras) virtuais que contrastam com o verdadeiro eu de cada indivíduo surge como uma tendência (ou seria uma espécia de sociopatia?) que cresce mais e mais a cada dia.
Este e outros pontos são explorados com brilhantismo pelo roteirista Rob Williams (A Realeza: Os Mestres da Guerra) em Unfollow, série da Vertigo que a Panini está iniciando a publicação aqui no Brasil. Lá fora, Unfollow já tem 18 edições reunidas em três encadernados. 140 Tipos, o primeiro a sair no Brasil, vem com as seis primeiras em uma edição com 148 páginas, capa cartão, papel LWC e formato 17x26.
A trama imaginada por Williams soa como uma espécie de experimento de Stanford desses tempos estranhos onde a internet parece resumida a apenas uma ferramente para acessar redes sociais. Larry Ferrell é um jovem brilhante e bilionário, com apenas 24 anos, e que sofre de um câncer terminal. Ele é o criador de uma rede social gigantesca, e resolve dividir a sua fortuna entre 140 usuários desta rede escolhidos aleatoriamente através de um aplicativo. Só que tem um detalhe: os mais de 18 bilhões de dólares de Ferrell serão divididos igualmente entre os selecionados. Mas, se um morrer, a divisão passa a ser entre 139 pessoas, 138, 137 ... e assim por diante. Ou seja: é um teste não apenas para a ambição de cada indivíduo, mas sobretudo uma gigantesca prova de caráter coletiva.
E os personagens criados por Williams exploram os estereótipos tão comuns presentes nos Facebooks e Twitters da vida. Temos o garoto deslumbrado, a patricinha maluquinha, o profeta salvador e assim por diante. A arte de Dowling é primorosa, com um traço meio sujo e que casa como uma luva com o texto de Williams.
A leitura de Unfollow faz surgir várias perguntas. E ela possui várias camadas, é preciso admitir. Enquanto referências mais óbvias como o perfil dos participantes estão escancaradas, outras mais sutis como as máscaras que vão ruindo pela convivência interpessoal dos perfis virtuais podem passar batido pelos mais desatentos.
Unfollow é excelente, e bebe na fonte das questões abordadas pelo seriado Black Mirror, por exemplo, levantando dúvidas e perguntas sobre o que a tecnologia anda fazendo com essa imensa massa de manobra chamada humanidade.
Leia, pois é incrível.
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