Review: Arch Enemy - Will to Power (2017)


É inegável que o Arch Enemy passou por uma transformação. E isso não se deu apenas devido à troca de Angela Gossow por Alissa White-Gluz. O processo havia começado muito antes. A fórmula de death metal melódico do grupo liderada pelo guitarrista Michael Amott já apresentava sinais de desgaste em Rise of the Tyrant (2007) e Khaos Legions (2011), sintomas esses que foram deixados para trás com o consistente War Eternal (2014), disco que marcou a estreia de Alissa.

Em Will to Power, décimo trabalho do quinteto sueco e que foi lançado dia 08/09 pela Century Media, temos outra estreia. O álbum é o primeiro a contar com Jeff Loomis, ex-guitarrista do Nevermore e integrante do Arch Enemy desde novembro de 2014. E confesso que esperava uma participação mais efetiva de Loomis nas composições, o que não aconteceu, já que ele não assina nenhuma das doze músicas do disco, em sua grande maioria parcerias do trio Amott, Alissa e Daniel Erlandsson (bateria). Além disso, Loomis, um música extremamente técnico (ouça qualquer disco do Nevermore ou os seus trabalhos solo) parece sub aproveitado em Will to Power, sem mostrar tudo o que é capaz de fazer.

Produzido por Michael Amott e Daniel Erlandsson, Will to Power intensifica um aspecto que tem crescido bastante no Arch Enemy desde a entrada de Alissa White-Gluz: o apelo pop. E por mais estranha que a citação da palavra pop possa parecer em um texto que analisa um álbum repleto de vocais guturais, peso e andamentos rápidos, não consigo pensar em outra palavra mais apropriada. O Arch Enemy deixou de lado o death metal com os dois pés ficados no som de Gotemburgo e levou a sua música para uma seara onde as melodias são mais simples e grudentas, onde as soluções são menos desafiadoras e muito mais fáceis, e onde a agressividade deu lugar a uma música pasteurizada e com pouco (ou nenhum, dependendo do caso) impacto.

“Blood in the Water”, por exemplo, soa como uma espécie de “Leader of the Rats” 2.0, tamanha a semelhança estrutural com a canção presente em Anthems of Rebellion (2003). “The World is Yours”, o primeiro single, tem uma melodia de guitarras que beira o constrangimento antes do refrão ao ser comparada a tudo o que o Arch Enemy já produziu em sua carreira - ainda que o dueto entre Amott e Loomis na parte central coloque um sorriso no rosto deste velho fã do Iron Maiden.

Ouvimos em Will to Power uma banda que soa como sombra do que já foi. É tudo muito bem gravado, muito bem mixado, os instrumentos estão todos ali no lugar e soando de maneira divina, mas a banda parece ter perdido muito de sua essência. De modo geral, Will to Power é um trabalho que está muito mais próximo, em termos de conceito e daquilo que representa, de um disco do BebyMetal do que de um álbum vindo da sempre rica escola sueca. 

No final das contas, o maior momento de Will to Power acaba sendo uma canção que não se encaixa em nada do que o Arch Enemy fez antes. “Reason to Believe” é uma balada power pop onde Alissa alterna trechos com vocal limpo e gutural, e que vem com um arranjo crescente com explosões sonoras no refrão.

Muito pouco para uma banda que já foi consideravelmente mais inovadora e corajosa no passado.

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