Choques Alienígenas foi publicada pela editora Mythos em junho deste ano e traz histórias do início da carreira de Alan Moore, considerado por muitos como o principal roteirista de HQs de todos os tempos. A edição brasileira (208 páginas, papel couché, capa dura e formato 19x26) reúne duas sagas: D.R. & Quinch e Skizz.
A primeira conta a história dos protagonistas, uma simpática dupla de aliens. Publicada entre maio de 1983 e agosto de 1987 pela revista inglesa 2000 AD, traz aventuras carregadas de um humor ácido e caótico. Tanto D.R. quanto Quinch são inquietos e vivem atrás de aventuras universo afora, passando, obviamente, pelo nosso planeta. Moore reconta a origem da humanidade a partir das intervenções dos dois amigos na Terra, enquanto apresenta uma galeria de indivíduos tão ou mais disfuncionais que os próprios protagonistas. São histórias curtas, de duas a quatro páginas, que dão sequência umas às outras e constróem um conjunto narrativo divertidíssimo de se ler, acentuado pela arte incrível de Alan Davis (Liga da Justiça: O Prego, Excalibur, Capitão Britânia).
Aqui é possível ter contato com uma faceta pouco comum na obra de Moore: o humor. Autor de clássicos da envergadura de Watchmen e A Piada Mortal, obras densas e que revolucionaram o universo dos quadrinhos, o barbudo roteirista britânico apresenta uma abordagem muito mais leve e, consequentemente, não tão profunda. Tanto que ele mesmo já admitiu que não curte muito essa fase de sua trajetória. Eu nunca havia tido contato com D.R. e Quinch e confesso que me diverti pra caramba com as suas aventuras transgressoras e politicamente incorretas, devorando as páginas em uma velocidade frenética.
Já Skizz também saiu pela 2000 AD, só que entre 1983 e 1995. Pelo que entendi, o encadernado compila o primeiro arco de histórias, publicado durante a primeira metade da década de 1980. Temos uma obra bastante influenciada pelo filme E.T. - O Extraterrestre (1982), de Steven Spielger, e somos apresentados ao também alienígena Skizz, que cai na Terra após a sua nave sofrer uma pane. O cara é um intérprete em seu planeta natal, então acaba tendo facilidade para assimilar novos idiomas. A queda ocorre na cidade inglesa de Birmingham e Skizz é resgatado pela jovem Roxanne, uma adolescente de apenas 15 anos.
A partir daí ocorrem inúmeras situações em que Skizz precisa fugir de caçadores de aliens enquanto tenta se adaptar ao seu novo mundo. O roteiro apresenta analogias e críticas ao período complicado que a Inglaterra vivia na época, com as políticas da Primeira-Ministra Margaret Thatcher cobrando um preço alto dos trabalhadores na tentativa de estabilizar a economia local. Esse tema também está presente na fase inicial da saga de John Constantine, por exemplo, quando o mago londrino tece frequentes críticas à Thatcher.
Os personagens que entram em contato com Skizz são o retrato de uma Inglaterra empobrecida, lutam para retomar ao mercado de trabalho e possuem uma resistência onipresente às autoridades. É nessa realidade que o simpático intérprete alien interage com Roxanne e seus amigos. Além disso, possui um forte e estereotipado antagonista na figura do líder militar que o persegue sem parar, em mais uma ligação entre a busca pela liberdade e a constante presença do estado interferindo na vida das pessoas. Nesse arco a arte é de Jim Baikie, que produziu adaptações para os quadrinhos do grupo musical The Monkees e da série Star Trek e trabalhou para a DC em Batman.
Ainda que não estejam à altura do trabalho futuro que Alan Moore iria desenvolver, as histórias presentes em Choques Alienígenas possuem não apenas valor histórico, mas também são capazes de divertir e cativar o leitor. Com a mão mais leve e não tão carregada de críticas que se caracterizaria mais tarde, Moore mostra uma força imaginativa bastante interessante nesses primeiros trabalhos, deixando clara a chama criativa que o acompanharia por toda a sua carreira.
Se você coleciona quadrinhos, estuda a nona arte ou é um admirador de Alan Moore, Choques Alienígenas é uma leitura indicadíssima!
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