Review: Myrkur - Mareridt (2017)


Alguém já ouviu falar de blackgaze ou post-black metal? Nesses últimos anos, o black metal tem tomado formas interessantes a fim ganhar novos seguidores. No entanto, a questão que fica no ar é: será que existe black metal além das fronteiras extremas? A resposta está no segundo álbum da banda Myrkur, chamado Mareridt, que significa pesadelo em português.

Por trás da banda existe uma mulher chamada Amalie Bruun, que tem 32 anos e 11 de atividade em carreira solo, com With Ex Cops e, o mais recente e mais famoso até aqui, Myrkur. Ela é a responsável por todos os arranjos que encorpam este disco durante seus 38 minutos e 19 segundos ou pouco mais de 52 minutos na versão deluxe. 

Em Mareridt, Amalie foge um pouco do black metal em M (disco de estreia, lançado em 2015) e reveza entre leveza e agressividade em alguns pontos. É importante salientar que este álbum foi produzido entre Copenhague e Seattle, o que dá um toque mais melancólico e trevoso nas canções, como iremos explicar nos próximos parágrafos.

A primeira faixa “Mareridt”, que dá nome ao disco, começa com um cântico chamado kulning, uma antiga forma escandinava usada para chamar rebanhos, como se Amalie estivesse invocando alguma divindade dentro desse seu pesadelo. Em "Måneblôt", saímos da tormenta rumo a uma gritaria ensandecida em sua introdução, na qual ela volta a suavidade com o uso do Nyckelharpa, que é um instrumento de origem sueca, como se fosse o hurdy gurdy na música céltica e folclórica. “The Serpent” tem uma pegada gótica que faz você se sentir dentro de um seriado como Game of Thrones, num tom hipnotizante em que a vocalista exerce com qualidade. “Crown” faz uso de instrumentos como violino e percussão folclórica tocados com suavidade, em que nos faz sentir dentro de alguma floresta da Escandinávia. Em “Elleskudt” vemos Amalie te chamar para o campo de batalha em direção ao desconhecido, onde temos uma batida ora folk, ora doom metal. 

“De Tie Piker” abre a segunda parte do álbum com o kulning novamente sendo evocado com toques acústicos. “Funeral” mostra ritmos góticos com explosões sonoras de doom metal, em que conta com a participação da cantora Chelsea Wolfe, mostrando um ótimo entrosamento entre as duas, que, aliás, são grandes amigas. “Ulvinde”, umas das principais faixas do disco e lançada como single de divulgação, coloca a banda de volta ao pesadelo, cercada de um coro formada por várias vozes femininas e com Bruun transtornada aos berros, num excelente black metal. “Gladiatrix” é mais uma faixa que cai numa batida folclórica e desagua num ritmo blackgaze - olha o termo a que me referi no primeiro parágrafo? “Kætteren" é um mini epic folk que parece sair da trilha sonora do seriado Vikings. "Børnehjem" encerra o disco com vozes distorcidas saídas dentro de sua mente, como se estivéssemos entrando em paranoia. Na versão deluxe ainda temos mais quatro faixas: “Death of Days”, “Kvindelil” (com mais uma participação de Chelsea Wolfe), "Løven" e “Himlen Blev Sort”.

O Myrkur se destaca por toda a doação de Amalie Bruun nesse projeto, por meio de todos os arranjos feitos em instrumentos como mandola, violino, percussão folclórica, nyckelharpa e kulning. Aqui estão presentes ritmos como black metal (de maneira mais moderada), blackgaze (uma mistura de shoegaze com black metal), folk e gothic. Mareridt fala de sonhos e de batalhas mentais que travamos em nosso dia a dia. Se você tiver uma cabeça mais aberta a sonoridades diferentes dentro do metal, vai te hipnotizar do início ao fim. 

Por Renan Esteves

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