Quadrinhos: Injustiça - Deuses Entre Nós, de Tom Taylor, Mike S. Miller e Jheremy Raapack


Injustiça: Deuses Entre Nós é uma HQ da DC Comics derivada do jogo Injustice, um dos maiores sucessos do mundo dos games nos últimos anos. E a história em quadrinhos seguiu o mesmo caminho, caindo nas graças do público e da crítica.

O que temos aqui é uma trama que não se prende aos quase 80 anos de cronologia do universo DC, fator esse que muitas vezes acaba engessando e limitando os roteiristas. Uma rápida passagem pelos maiores clássicos da editora das lendas deixa claro isso, afinal títulos como Cavaleiro das Trevas, O Reino do Amanhã e Superman: Entre a Foice e o Martelo são brilhantes exercícios de criatividade nos chamadas Elseworlds (que podemos traduzir como Mundos Paralelos). E Injustiça: Deuses Entre Nós segue o mesmo caminho.

Escrita por Tom Taylor (Star Wars, X23) e ilustrada por Mike S. Miller (Game of Thrones, Liga da Justiça), Jheremy Raapack (Inumanidade) e uma lista enorme de artistas, a série vem sendo publicada desde 2013 no mercado norte-americano, seguindo o formato de 12 edições mensais. No Brasil, Injustiça: Deuses Entre Nós sai em dois formatos: encadernados em capa cartão compilando seis edições (e cuja publicação já está no oitavo volume) e em edições de luxo trazendo cada ano completo. Vou me ater a esses últimos, já que foi através deles que conheci o título.

A Panini lançou os dois primeiros anos de Injustiça em dois belos encadernados em capa dura, papel couché e formato 17 x 26, sendo que o primeiro ano vem com 416 páginas e o segundo é um pouco mais fino, com 300 páginas. 


O que lemos em Injustiça: Deuses Entre Nós é um roteiro extremamente ágil e com ótimo ritmo, que apresenta as consequências de um ataque direto do Coringa ao Superman. Os atos do palhaço do crime levam à morte de Lois Lane, enlouquecendo de dor o Homem de Aço, que decide agir por conta própria para tornar o mundo mais seguro. Isso leva à uma intervenção direta do Superman no governo de vários países, em uma atitude que, por mais que vise o bem, é totalmente autoritária. Tal atitude faz com que uma divisão surja entre a comunidade de super-heróis, com alguns ficando ao lado do Superman e outros, liderados pelo Batman, questionando as atitudes do kryptoniano.

De modo geral, é possível encontrar paralelos entre Injustiça: Deuses Entre Nós e Guerra Civil, da Marvel, já que ambas as HQs trazem questionamentos sobre o papel dos superseres na sociedade civil e até onde eles podem ir para garantir a paz. Em relação a isso, a história da Marvel, escrita por Mike Millar, propõe um debate mais profundo sobre o papel dos super-heróis, enquanto a trama imaginada por Tom Taylor é muito mais focada na ação propriamente dita e suas consequências.

Como já dito, o quadrinho possui um ritmo empolgante, sem espaço para enrolação. Tudo acontece de maneira contínua e constante, prendendo o leitor de maneira hipnótica nas páginas. E por não se tratar de uma trama do universo cronológico normal da DC Comics, por não fazer parte do cânone da editora, acaba tendo desdobramentos surpreendentes. Traduzindo de forma clara: tudo pode acontecer, qualquer um pode morrer e esses tipos de coisas. Ninguém está a salvo nas páginas de Injustiça e o imprevisível permeia cada edição, fazendo com que a leitura seja semelhante à experiência de assistir a um blockbuster de ação nos cinemas.


O único ponto falho de Injustiça é a inconsistência da arte. Surpreendida pelo sucesso do título, que foi planejado para ser algo menor e acabou ganhando uma dimensão gigantesca, a DC não planejou o envolvimento de seus maiores nomes na produção das edições. Isso faz com que, principalmente no primeiro ano, a variação de traço entre os números seja onipresente, inclusive com edições onde as ilustrações são bastante questionáveis, para não dizer ruins. Mas isso vai se corrigindo com o desenrolar da trama e ocorre bem menos no segundo encadernado.

A construção de um Superman autoritário e cego pelo poder, já ensaiada pelo próprio Millar em Superman: Entre a Foice e o Martelo e por Zack Snyder no controverso Batman vs. Superman, entrega um personagem que é a antítese da figura presente no imaginário popular. Arrogante e dono da verdade, cego pela dor e disposto a tudo para mudar o mundo, o Super-Homem de Injustiça é um personagem muito mais interessante, em diversos aspectos, à representação clássica. Já o Batman segue o seu papel de protagonista do questionamento, lutando por um mundo mais justo e livre da mão pesada de ditadores proféticos enquanto organiza a resistência.

Fazendo mais um paralelo com outro fenômeno da cultura pop, Injustiça: Deuses Entre Nós é uma espécie de Game of Thrones do universo DC: ninguém está a salvo, todos podem morrer. E quando eu digo todos falo de personagens emblemáticos da editora, criando ausências que levam a mudanças marcantes na relação entre os super-heróis. Além disso, como todo bom blockbuster de ação, em Injustiça vemos a acentuação das principais características de cada personagem, aspecto que torna a leitura ainda mais contagiante.


Injustiça: Deuses Entre Nós é um ótimo quadrinho, que garante uma excelente diversão. Os deslizes na arte não comprometem o resultado final, muito pela excelente fluidez que Tom Taylor imprime à trama. Se você tem curiosidade de ver como o universo DC reagiria à intervenção de um Superman autoritário e cego pelo seu senso de justiça, leia e tenha inúmeras belas surpresas.

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