Quadrinhos: Faith, de Jody Houser, Francis Portela e Marguerite Sauvage


As histórias em quadrinhos de super-heróis, apesar de seus ricos universos, ainda patinam quando o assunto é a representatividade. Atitudes como alterar toda a trajetória de um personagem como o Homem de Gelo e afirmar que ele sempre foi homossexual ou definir arbitrariamente que Alan Scott, o Lanterna Verde da Era de Ouro, também era gay, soam muito mais como forçadas de barra do que como movimentos genuínos e bem intencionados da indústria. Isso sem falar na rara presença de personagens negros, historicamente relegados ao segundo plano.

Por isso, personagens como Faith Herbert ainda são exceções. Criada em 1992 por Jim Shooter (ex-editor da Marvel) e David Lapham, Faith faz parte do universo da Valiant Comics. Ela é a antítese das super-heroínas hiper sexualizadas presentes tanto na DC quanto na Marvel. Faith é uma órfã criada pela avó, que encontrou nos quadrinhos o refúgio para reconstruir a sua vida sem a presença dos pais. E, ao chegar à vida adulta, descobriu que também tinha poderes. E mais importante: ela não possui um corpo super definido como seria o padrão. Ela está acima do peso, vive beliscando alguma coisinha e essa característica em nada impede a sua luta por um mundo melhor.

A personagem finalmente está chegando ao Brasil através da Jambô Editora, que colocou nas bancas e livrarias o primeiro encadernado (112 páginas, papel e capa couché, formato 18,5 x 27 cm) da personagem lançado em nosso país. O arco traz roteiros de Jody Houser e artes de Francis Portela e Marguerite Sauvage. A série foi aclamada pela crítica norte-americana e frequentou várias listas de melhores HQs de 2016 publicadas pelos sites especializados norte-americanos.


O que temos no quadrinhos são as aventuras de Faith Herbert, cujo alter ego como super-heroína atende pelo nome de Zephyr. A garota é uma blogueira de cultura pop que trabalha em um site durante o dia, enquanto usa as noites para lutar contra o crime. O roteiro é cheio de referências ao mundo pop e ao universo nerd, além de trazer elementos atuais de qualquer sociedade como reality shows, tecnologia onipresente e redes sociais. As histórias são leves e bem escritas, prendendo o leitor e cativando com a personalidade envolvente da protagonista.

Mas o principal ponto de Faith é a representatividade, e o como ela é importante para os quadrinhos. Identificar-se com o personagem é essencial para que o leitor mergulhe na história e sinta que ela pode significar algo para a sua vida. A abordagem é leve e divertida, mostrando as aventuras dessa super-heroína que, enquanto derrota vilões, também discute questões de gênero e vive super bem com o seu corpo. Sim, ela é obesa e isso não influencia em nada na sua vida, mas mostra para meninas e meninos que o peso não é um empecilho para fazer do mundo um lugar melhor. 

Leia, vale a pena!

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