Publicada em sete volumes entre 1949 e 1961, a saga O Tempo e o Vento é a maior obra de Érico Veríssimo, escritor gaúcho falecido em 1975. Adaptada para a TV pela primeira vez em 1967, teve uma segunda releitura televisiva em 1985 e chegou aos cinemas em 2013. Um épico no sentido mais fiel da palavra, O Tempo e o Vento é uma das mais importantes obras de literatura brasileira.
Agora, a saga das famílias Terra e Cambará chega à música através do Grandfúria, banda natural de Caxias do Sul. O sexteto formado por Vinícius de Lima (vocal, guitarra e violão), Bruno Pinheiro Machado (guitarra), Diego Viecelli (acordeão e violão), Maurício Pezzi (teclado e programações), Tiago Perini (baixo) e Maurício Gomes (bateria) adaptou a primeira parte da clássica história de Veríssimo em seu segundo disco, O Sopro e o Momento, sucessor da auto-intitulada estreia de 2012. Lançado em 2017, o CD traz a trama de O Continente devidamente musicada, e o resultado é arrebatador.
Unindo o rock à música tradicional gaúcha, o Grandfúria (pergunta: o nome tem inspiração no Grand Funk Railroad, por acaso?) soma o peso das guitarras ao timbre do acordeão, criando uma sonoridade muito bonita e que casa perfeitamente com a proposta do trabalho. Além disso, os caras partem do hard rock e inserem elementos de milonga, música folclórica e outros ingredientes na mistura, criando um universo sonoro que conversa de maneira coerente com a obra de Érico Veríssimo.
O Sopro e o Momento vem com onze músicas, todas compostas pela própria banda. As letras são baseadas no texto de Veríssimo e trazem momentos dos livros - como o trecho narrado no meio de "Tormenta". O disco funciona como uma espécie de ópera-rock, onde o conjunto dá uma dimensão muito maior do que a audição isolada das faixas. O que não quer dizer, evidentemente, que elas sejam fracas. Mas conhecendo o contexto e a história por trás da inspiração do álbum, fica evidente que a audição funciona melhor quando feita em conjunto.
Entre as canções, há destaques evidentes. Minha preferida é “O Viajante”, mas a banda mostra criatividade em diversos outros momentos como “Buenas”, no peso de “R”, na linda e bucólica “Cada Pedaço”, “Tormenta”, “A la Cria" e nos diversos movimentos de “O Espanto e a Fúria” e “Ataque ao Sobrado” (ambas arrepiantes!).
Em uma época onde a música brasileira tem andado a passos largos para trás, regredindo a olhos vistos e tornando-se cada vez mais banal, a chegada de um trabalho com a proposta e a qualidade de O Sopro e o Momento é digna de aplausos. Um disco ambicioso e nada enfadonho, onde a banda consegue equilibrar com brilhantismo suas aspirações artísticas com músicas criativas e acessíveis. Um disco belíssimo e que deveria chegar ao maior número possível de ouvidos.
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