Rebeldia, atitude e originalidade: uma breve narrativa da revolução feminina na história do rock and roll


Foi ouvindo artistas como Janis Joplin, Patti Smith e Rita Lee, com suas vozes magistrais saindo pelos auto-falantes do meu som, que pude chegar a uma conclusão lógica: o rock jamais teria desenvolvido todo o seu charme e elegância sem o papel das mulheres.
            
Desde que surgiu o que conhecemos por rock clássico, as mulheres desempenharam um papel importante no seu desenvolvimento e sucesso. O toque feminino agregou muito ao estilo, e a evolução natural do rock passou a elevar cada vez mais o papel da mulher dentro do cenário da cultura pop em geral. Porém, apesar de as mulheres terem conseguido mais espaço na cultura pop desde meados da década de 1960, o caminho não foi fácil. A abertura para as mulheres adentrarem o mundo do rock foi conquistada com muita luta, assim como na luta contra o preconceito a que foram expostas ao longo da história.


Por mais que o papel da mulher na história do rock possa remeter aos anos 1930, quando Sister Rosetta Tharpe inovou na música gospel acrescentando elementos do blues e country com sua guitarra elétrica, foi Janis Joplin a primeira responsável por quebrar as barreiras do preconceito durante os anos 1960. Com uma voz absurdamente poderosa e uma clara influência do blues na sua maneira de cantar, Janis foi a primeira mulher a personificar a trindade sexo, drogas e rock and roll até sua morte, em 1970.
            
No Brasil, as coisas foram um pouco diferentes. Alguns críticos musicais afirmam que o marco zero do rock nacional está nos limites da década de 1950 com a cantora Celly Campello, responsável por fazer diversas versões de clássicos internacionais do estilo. Porém, até a chegada de Rita Lee com o grupo Os Mutantes, já nos anos 1960, o rock nacional possuía pouquíssimas representantes do gênero feminino.
          

Na década de 1960, através do movimento hippie e a geração flower power, iniciou-se o declínio do famigerado American Way of Life. Porém, por mais que as mulheres já estivessem conseguindo maior espaço em outras esferas, no rock o caminho continuava árduo, sendo reconhecido muitas vezes como um ambiente machista e conservador. E, como citado anteriormente, sem sombra de dúvidas a maior figura feminina deste período foi Janis Joplin. Porém, ainda assim vimos grandes nomes surgirem, como Nico, que gravou o primeiro e clássico álbum do Velvet Underground, e a cantora folk Joan Baez.
            
A virada para os anos 1970 chegou como um momento em que o rock começava a experimentar diversas ramificações. Nesse período, Stevie Nicks e Christine McVie entraram para a história com o Fleetwood Mac, nesta que foi uma das melhores fases da banda. O grupo norte-americano Heart também surgiu nesta década, tendo à frente as irmãs Ann e Nancy Wilson. Porém, foi Suzi Quatro a primeira mulher a apresentar uma sonoridade realmente metálica no rock, além de trazer consigo um visual bem mais selvagem e uma atitude um pouco mais agressiva em comparação à suas antecessoras.
            

Entretanto, foi por outro grupo que a revolução feminina setentista do rock ficou conhecida. Idealizado pelo empresário Kim Fowley e contando com a presença de Cherie Currie, Lita Ford e Joan Jett, o The Runaways foi a primeira banda feminina a ter de fato relevância para o estilo. O que surgiu como proposta meramente comercial de Fowley fugiu completamente do estigma de banda manufaturada e traria a Litta e Joan um enorme sucesso, escrevendo seus nomes na história do estilo.
            
O surgimento do punk rock no fim da década possibilitou que outras mulheres deixassem seus nomes marcados na história. Entre elas a poetisa anarquista Patti Smith que estreou com o clássico Horses (1975), Debby Harry da banda nova-iorquina Blondie e Chrissie Hynde, do The Pretenders. No cenário pós-punk tivemos como uma das pioneiras do movimento a banda Siouxsie and The Banshees, liderada pela vocalista Siouxsie Sioux.
            

Outro grupo formado apenas por mulheres e de extrema importância para história do rock foi o Girlschool. A banda de heavy metal britânica, que é considerada por muitos como sendo parte do movimento NWOBHM, foi um dos principais nomes a lutar pelo espaço feminino no meio do hard rock e do heavy metal na década de 1980. Porém, foi graças ao apadrinhamento do Motörhead que a banda pôde alcançar mais reconhecimento.
            
Na década de 1990 surgiu o Riot Grrrl, uma das iniciativas femininas mais fortes dentro do rock. O movimento era liderado pela banda punk Bikini Kill e trazia a proposta de espalhar mensagens feministas emolduradas por uma sonoridade punk.
            

No geral, o rock nos presenteou com muitas artistas e bandas lideradas por mulheres. Há poucos registros, porém muito a se dizer sobre a presença das mulheres no rock. Óbvio que inúmeras outras artistas não figuram aqui neste texto meramente por questão de memória ou de espaço. Porém, se este conseguir mostrar que o rock não seria o mesmo sem elas, teve então seu papel cumprido.

Referências biliográficas para quem quiser saber mais:
GAAR, Gillia. She's a Rebel: This History of Women in Rock and Roll.
CHRISTE, Ian. Heavy Metal: A História Completa 
JACKSON, Andrew Grant. 1965 - O Ano Mais Revolucionário da Música
O'DAIR, Barbara. The Rolling Stone Book of Women in Rock: Trouble Girls
FLORENT, Mazzoleni. As Raízes do Rock

Por André Carvalho

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