Quem não conhece Florianópolis pode pensar que a cidade é pródiga em shows internacionais. A razão para isso está na enorme quantidade de cartazes espalhados nos mais diversos pontos da ilha anunciando shows de bandas como Guns N’ Roses, Iron Maiden, Black Sabbath, Pink Floyd e todas essas outras que você está pensando. Porém, tem um detalhe ali que faz toda a diferença: enquanto o lettering com Iron Maiden está em uma fonte tamanho 100, o “cover" ou “tributo" que sempre vem junto está colocado no cartaz em uma minúscula fonte 5.
Ou seja: shows autorais em Floripa são raros. E, nos últimos anos, a maioria deles tem sido feita pela Dissonante Produções. A produtora tem trazido para a Ilha da Magia todas as tour promovidas pela Abraxas, proporcionando que o público da capital catarinense assista olho no olho nomes como Stones Jesus, Samsara Blues Experiment, The Vintage Caravan e outros novos nomes que andam fazendo bonito no mundo do rock.
O trio alemão Kadavar, que já havia tocado na cidade há cerca de três anos, retornou neste início de março promovendo seu mais recente disco, Rough Times (2017). O show foi realizado novamente no Célula Showcase, principal local para eventos autorais em Floripa, e contou com grande público.
A abertura ficou a cargo da banda local Monte Resina, formada pelo trio Paulo Douglas (guitarra), Cainã Almeida (baixo) e William Carbonari (bateria). O som dos caras é um rock instrumental pesadíssimo com influências de post-rock. O público pareceu curtir o trabalho do grupo, mas pessoalmente achei o som um tanto cansativo, nem tanto pelo fato de ser instrumental mas mais pelas composições apresentarem uma certa similaridade entre elas, o que acabou fazendo com que o trabalho do Monte Resina não soasse tão atrativo aos meus ouvidos.
O Kadavar entrou no palco logo na sequência e o que o público presenciou foi um ataque sonoro violento, um soco certeiro no estômago dado pela banda alemã, que é um arregaço em cima do palco. Lupus Lindermann (vocal e guitarra), Dragon Bouteloup (baixo) e Tiger Bartelt (bateria) colocaram suas barbas e instrumentos no máximo, em uma apresentação cheia de energia e com composições certeiras. O setlist foi muito bem construído, com faixas que passaram a limpo a carreira da banda e levantaram o público, como o hit “Doomsday Machine”, tocado logo no começo do show.
Lupus é o centro do trio. De sua guitarra saem os riffs que vem direto da escola de Tony Iommi e contagiam de imediato, enquanto sua voz segue na tradição do Black Sabbath e soa semelhante, em diversos momentos, à de Ozzy. Dragon é um monstro com mais de 2 metros de altura, uma espécie de Chewbacca com menos pelos e muito mais groove, cuja presença no canto do palco cativa a todos - e com direito a dancinha bem particular, uma espécie de moonwalk dos infernos. E Tiger é o mais carismático dos três. Postado no centro, o baterista agita do início do fim e seu visual, bastante semelhante ao de Charles Manson, fica ainda mais forte com os olhares psicóticos que dirige ao público.
Se a primeira passagem do Kadavar por Florianópolis já havia deixado uma ótima impressão, esse segundo show ratifica a certeza de que o trio alemão é um dos melhores nomes da cena recente do stoner e hard rock. Excelente e imperdível!
Setlist:
Skeleton Blues
Doomsday Machine
Pale Blue Eyes
Into the Wormhole
Die Baby Die
Living in Your Head
The Old Man
Black Sun
Forgotten Past
Purple Sage
Bis:
Thousand Miles Away From Home
All Our Thoughts
Come Back Life
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.