Quadrinhos: Uma Dobra no Tempo, de Hope Larson


Uma Dobra no Tempo é a obra mais famosa da escritora norte-americana Madeleine L’Engle. O livro foi lançado no primeiro dia de 1962 e teve quatro sequências: Um Vento à Porta (1973), Um Planeta em seu Giro Veloz (1978), Many Waters (1986) e An Acceptable Time (1989) - os dois últimos, de acordo com minhas pesquisas, nunca foram lançados no Brasil. Os títulos fazem parte de uma série chamada O Quinteto do Tempo e contam uma história de ficção científica baseada na crença cristã.

Considerado um clássico da literatura infanto-juvenil, Uma Dobra no Tempo foi adaptado para um filme televisivo em em 2013 e agora em 2018 ganhou uma versão para os cinemas dirigida por Ava DuVernay. Além disso, o livro foi extremamente premiado ao longo dos anos e também alcançou o status de best seller desde o seu lançamento.

Em 2012, Uma Dobra no Tempo foi transposto para o formato graphic novel pela ilustradora norte-americana Hope Larson (que recentemente escreveu a Batgirl para a DC). A Darkside Books, dentro do seu selo Darkside Graphic Novel, lançou essa adaptação aqui no Brasil no final de fevereiro.


A edição da Darkside, como sempre, é linda graficamente. O livro tem o formato 16,5 x 24,5 cm, capa dura e 392 páginas. Externamente, tem as bordas variando de um azul mais claro até chegar em uma espécie de violeta, criando um efeito muito bonito. Isso sem falar da capa, que sobre o acabamento fosco conta com sutis aplicações de verniz prateado, efeito que dá um clima bem "espacial" para a obra.

A história de Uma Dobra no Tempo é a história da família Murry. Os pais, Alex e Katherine, são físicos. A personagem principal é Meg, uma adolescente de temperamento difícil, teimosa e muito inteligente. Ela cuida com amor do caçula Charles Wallace, um pequeno gênio que finge não saber tudo que sabe para que as pessoas não o notem e ele consiga passar despercebido. A família é completada pelos gêmeos Sandy e Dennys. E ainda temos Calvin, que estuda na mesma escola que Meg e acaba conhecendo ela e Charles.

A questão é que o pai de Meg está desaparecido há dois anos e seu paradeiro é um mistério. Ninguém sabe o que aconteceu, apenas que ele estava em uma missão super secreta para o governo. A filha nunca desistiu de encontrar o pai, mas não tinha os meios para isso até a aparição de três idosas estranhas e com nomes pitorescos: a Senhora Quequeé, a Senhora Quem e a Senhora Qual. A partir daí, a história sofre uma reviravolta e mergulha sem medo na ficção científica, apresentando conceitos e questionamentos bem interessantes.

Alex está preso em um mundo onde todos são iguais e controlados por uma mente coletiva. Nesse mundo as pessoas não conhecem a infelicidade, porém também não são felizes. Não há individualidade, não há personalidade própria, não há diferenças entre uma pessoa e outra. E é justamente contra isso que Meg e seus amigos precisam lutar enquanto conhecem realidades incríveis e seres fantásticos. O discurso cristão de L’Engle é encaixado, pelos menos na HQ, de maneira sutil, falando de como é importante acreditarmos em nós mesmos, de como a família é o centro de tudo e de como o amor é a grande força que torna tudo possível.


A adaptação de Hope Larson usa apenas três cores: azul, branco e preto. Isso dá para a HQ um aspecto próprio, que somado ao traço bastante expressivo chega a lembrar, ainda que de maneira sutil, o estilo de Craig Thompson (autor de Retalhos e Habibi), porém sem se aprofundar em demasia nos detalhes. A arte, bastante funcional, casa com a história contada, que possui um forte apelo lúdico. Muito do que é mostrado na HQ e relatado no texto fica por conta da imaginação do leitor, e essa abordagem acaba funcionando bem. Larson consegue explicar a trama de maneira mais direta e clara do que o livro, contando com a ajuda das imagens presentes na HQ para desbravar conceitos complexos.  

A tradução e adaptação de Érico Assis, que também traduziu a versão em prosa lançada recentemente pela HarperCollins Brasil, é ágil e faz uso constante de termos do cotidiano, mesmo nos trechos onde é preciso usar um pouco mais a cabeça para entender os raciocínios apresentados. Isso torna  a leitura fácil e é vital para que o leitor possa compreender por inteiro o que o texto explora.

No fim das contas, Uma Dobra no Tempo é uma obra extremamente positiva e com uma bonita mensagem em seu final, com uma conclusão que, apesar de óbvia, consegue não escorregar no clichê e emociona o leitor.

Mais uma bola dentro da Darkside, que segue trazendo, além de ótimos livros, também excelentes quadrinhos para o público brasileiro.

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