Quadrinhos: Superdeus, de Warren Ellis e Garrie Gastonny


Warren Ellis é um dos principais roteiristas do universo dos quadrinhos, com trabalhos marcantes na DC, Marvel, Image e várias outras editoras. Ele é o autor de Transmetropolitan, Frequência Global, The Authority e Planetary, só para ficar em algumas de suas obras mais conhecidas e influentes.

Entre 2007 e 2010, Ellis publicou pela editora Avatar três títulos que, apesar de não possuírem histórias relacionadas, exploravam o mesmo tema: a relação do mundo com os super-heróis e as consequências de uma sociedade com a presença de superseres. A tríade, que é conhecida como "o Watchmen de Ellis", é formada por Verão Negro, Herói Nenhum e Superdeus, e foi lançada aqui no Brasil pela Mythos Editora entre o final de 2017 e a metade de 2018.


Vou falar de Superdeus, que é o único volume que li por enquanto. Na trama, Ellis explora as possibilidades de uma realidade onde a corrida armamentista entre as nações não se deu através do desenvolvimento de armas nucleares e de destruição em massa, mas sim com a criação de superseres com poderes inimagináveis. Tendo sempre a Inglaterra, sua terra natal, como protagonista principal, Warren Ellis critica a ideia de que, ao criar superseres, super-heróis, super deuses, o ser humano parte do princípio de que eles nos farão bem e cuidarão do mundo para nós, protegendo nossos sonhos e aspirações. Só que as coisas não são bem assim.

O ponto central do enredo é o nascimento de Krishna, criado por cientistas indianos para “salvar a Índia”. O novo deus faz exatamente o que lhe é pedido, porém ao seu modo: para recomeçar o país asiático, dono de uma das maiores populações do paneta e famoso por problemas causados pela falta de higiene em seus principais centros urbanos, Krishna simplesmente extermina quase toda a população indiana e dá um reset na nação. Tal lógica, ainda que faça algum sentido para um super ser que analisa tudo através de sua inteligência peculiar, choca as demais nações, que decidem intervir enviando para confrontar Krishna os seus próprios super-heróis criados em laboratório.


O desenvolvimento desses superseres é bastante imaginativo, apresentando poderes e soluções que não bebem nos clichês do universo de super-heróis, como podemos ver, por exemplo, em Matreya, o super deus chinês que manipula carne humana para criar estruturas e criaturas gigantescas. A crítica de Ellis ao nosso modo de pensar é bastante contundente, principalmente no trecho onde questiona a necessidade inerente ao ser humano de ter algo para venerar e acreditar, de todo homem e mulher precisar ter um deus em sua vida para se sentir completo, de que a existência mundana não faz sentido sem um forte aspecto espiritual caminhando lado a lado.

Repleto de ação, Superdeus é um quadrinho que vem carregado também de um subtexto muito forte. As críticas, sempre ácidas, presentes em todas as páginas mostram o quanto Warren Ellis segue afiado. 

Um bom lançamento da editora Mythos em edição de luxo, dentro do selo Prime Editon. A edição vem com capa dura, 132 páginas, papel couchê e capa dura, com um primoroso acabamento gráfico e uma pequena galeria de extras no final, trazendo capas desenvolvidas por Garrie Gastonny e pelo brasileiro Felipe Massafera (também conhecido como o Alex Ross brazuca).



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