Eles detestam os palcos, as entrevistas e os fotógrafos. Amam jazz, literatura beat, perfeccionismo e sexo. O nome foi afanado dos dildos de borracha que povoavam o livro The Naked Lunch, de William Burroughs. E a ideia inicial era fazer um pop simples, que se tornaria sofisticado com o passar dos anos.
Dito e feito: quando, em meados de 1972, iniciaram as gravações de Can't Buy a Thrill, já possuíam um grau de sofisticação pouco comum aos grupos de caráter pop da época, como The Grass Roots e Three Dog Night, além de já terem tocado em várias bandas e composto para muita gente.
O Steely Dan é uma verdadeira instituição musical. Os donos do império são Donald Fagen (teclados / vocais) e Walter Becker (guitarra / baixo / vocais ocasionais), dois caras excêntricos que recrutaram caros e respeitados músicos de estúdio para o grupo.
Numa discografia composta somente por quinze singles e sete álbuns, eles conseguiram vender mais de 50 milhões de discos e Can't Buy a Thrill não foi apenas o pontapé inicial deste sucesso, como também a obra que veio a definir a concepção musical do duo. Ou seja, a subversão de incorporar harmonias jazzísticas a tessituras pop, adicionando pitadas de som latino, ecos de soul music e sombras de Traffic e The Band. Assim, geraram uma técnica muito específica de tornar viável o que poderia ser insólito.
A arte da transfiguração comandada por Becker e Fagen contou com a ajuda preciosa das guitarras de Jeff Baxter (ex-The Fugs, ex-The Ultimate Spinach) e de Denny Dias (que mesclava Santana com bebop), mais a precisão rítmica da bateria de Jim Hodder (ex-The Bead Game) - que emprestou seus vocais a uma das canções, "Midnite' Cruiser", um tributo ao jazzista Thelonious Monk.
Neste álbum apareciam alguns dos maiores hits do Steely Dan: canções como "Do It Again", "Reelin' in the Years" e "Dirty Work" (onde os vocais principais ficaram com o tecladista David Palmer, pois Fagen morria de medo de ser um cantor). Quanto às letras deles, eram imagéticas e bizarras - Becker explicou, na época, que "elas evocavam sensações esquecidas".
Que tal então despertar arrepios dos anos 1970 ao reouvir Can't Buy a Thrill, e também todos os seus geniais sucessores que foram lançados pelo Steely Dan?
Texto escrito por Fernando Naporano e publicado na Bizz #111, de outubro de 1994
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